A VIDA PELA METADE
“Os males que a mente causa, a mente cura”. Karen Horney.
THEODIANO BASTOS
Karen Horney, em sua obra a “Personalidade Neurótica de Nosso Tempo”, relata que foram trazidas duas jovens pacientes com suspeita de oligofrenia e imbecilidade, malgrado, ulteriormente se demonstrassem bastante capazes e inteligentes. Ambas tinham ambições vigorosas, agressividade dissimulada — a mais perigosa das agressividades. Havia nelas uma violência reprimida, não sublimada; faziam grandes esforços para se conter. Engolfadas com destruição, ansiedade e um medo imenso de ser desmascarado ou reprovado, daí a hipersensibilidade a qualquer forma de crítica, como a planta não-me-toques, que se fecha ao ser tocada. Uma das moças era francesa, a quem tratou na Alemanha. Ela chegou a ter dúvida sobre a sua capacidade mental, ela parecia não entender nada do que eu dizia, embora falasse perfeito alemão, mesmo usando linguagem mais simples; mas elucidou o enigma analisando seus sonhos e sua astúcia ao enganar um funcionário de imigração, ao fingir que não entendia o alemão, quando falava fluentemente a língua germânica. Daí em diante mostrou-se ser uma jovem bastante inteligente; abrigara-se por detrás da obscuridade e ignorância para fugir ao perigo de ser acusada e punida. Como toda neurose, surgiu na infância, como tática “para viver”. Todos nós somos um pouco neuróticos (um estado de desunião consigo mesmo e com o próximo) e muitos se refugiam na ignorância, na doença e na incapacidade. É difícil e dolorosa a convivência com uma pessoa de dupla personalidade, problemática. É como se estivesse ouvindo um rádio sem sintonia fina, que estivesse ligado numa freqüência e subitamente passasse para outra emissora, tornando difícil a audiência.
Quem sofre da enfermidade da alma, é acima de tudo um sofredor e se deve olhá-lo com compaixão e não com raiva. Vidiadhar Surajprasad Naipaul, (V.S. Naipaul), prêmio Nobel de Literatura em 2.001, autor do livro “Meia Vida”, diz que muitos se refugiam na religião, sem coragem para evoluir, conhecendo-se a si mesmo; acaba usando-a como escudo para esconder-se de seus erros e assim muitos passam pela existência vivendo uma vida pela metade. Ao chegar no crepúsculo da vida, olha para trás e vê, ou não vê, o significado da vida vivida. Inventa um passado de grandeza, mente sobre os pais e sobre si mesmo e uma sensação de assombrosa inutilidade, a platitude, a monotonia lhe acomete mas já sem forças para recomeçar e viver uma vida menos ordinária, inexpressiva e medíocre. Triste, descobre que não era apenas olhado com menosprezo, pena, compaixão.
A revista VEJA de 30/09/09, em suas páginas amarelas, trás a entrevista intitulada “Eu me achava uma burra” com a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, na qual confessa que além de se achar burra, relata como sofreu e superou o transtorno do déficit de atenção (TDA) na infância e como aprendeu a conviver com essa deficiência mental e afirma que, embora não tenha cura, o transtorno permite uma vida normal e criativa. A informação é a chave para desmistificar os transtornos mentais. A neurose não é hereditária; é contagiosa.
C. G. Jung também aborda esse tema em “Psicologia e Religião”, e fala que mesmo que confie no seu médico, o paciente se sente envergonhado dele e hesitará em confessar certas coisas a si mesmo, como se fosse perigoso tomar consciência de si próprio. Em geral, temos medo daquilo que pode nos subjugar. Mas existe no homem algo que seja mais forte do que ele mesmo? Não devemos esquecer que toda neurose é acompanhada por um sentimento de desmoralização. O homem perde confiança em si mesmo na proporção de sua neurose. Se os meus sintomas são imaginários, dirá – “de onde me vem esta maldita imaginação?” O médico e psicanalista Erich Fromm ensina: “O objetivo da vida: é nascer plenamente, mas a maior parte de nós morre sem ter nascido verdadeiramente. Viver é nascer a cada instante”
O texto está na Internet no Blog OFICINA DE IDÉIAS – (theodianobastos.blogspot.com e no Blog do Thede theodiano.blog.terra.com.br).
Theodiano Bastos é escritor, autor dos livros: O Triunfo das Idéias, A Procura do Destino e coletâneas publicadas pela UFES e é idealizador e presidente da ONG CEPA – Círculo de Estudo, Pensamento e Ação, em Vitória – ES www.proex.ufes.br/cepa
Nenhum comentário:
Postar um comentário