O CAPITALISMO DE RAPINA
(*) THEODIANO BASTOS
George Soros, o megaespeculador, diz em seu livro que “a grande ameaça de hoje no mundo não é o comunismo, mas o capitalismo. E explica: porque é um capitalismo que só obedece a regras que ele próprio cria, não aceita mudanças”. O capitalismo se tornou destrutivo ao esquecer o lado humano, o trabalhador e os Estados nacionais, na ganância do lucro fácil. Na sua entrevista a Veja de 06/01/99, intitulada “Assim Vai Quebrar”, diz ainda George Soros: “Hoje, a ideologia dominante é a que chamo de fundamentalismo de mercado. Por ela, o mercado tem seus próprios meios de corrigir os excessos do sistema e por isso não aceitam interferências externas... O mundo precisa estar preparado para reagir aos excessos do mercado financeiro. Não existe país que hoje possa enfrentar o capital financeiro”, alertava.
Mas dá para controlar, dizia Helmut Schmidt, ex-chanceler alemão, também em páginas amarelas de Veja de 21/02/01, diz: “Com a expressão capitalismo de rapina, refiro-me especificamente aos consultores e corretores que fazem as operações de anexação hostil de empresas, aos intermediários financeiros, aos palpiteiros de plantão do mercado de capitais, aos plantadores de boatos, enfim, a todos aqueles que participam dessa ciranda financeira desenfreada, ganhando rios de dinheiro, sem levar em conta as conseqüências de suas decisões, a ganância, impulso doentio para a riqueza fácil”. Vendem as ações num dia, soltam os boatos no outro, aí vendem o dólar na alta e assim ganham duplamente. Os governos perderam o controle no campo das finanças internacionais nos últimos vinte a trinta anos, alerta.
O capital financeiro-especulativo é da ordem de 167 trilhões de dólares, enquanto o capital real, empregado nos processos produtivos é de cerca de 48 trilhões de dólares anuais. Neste domínio se cometem os maiores atentados à razão e à moral nas manobras especulativas mais baixas, das especulações financeiras de curto prazo com papéis, ações e moedas. O que é absolutamente novo é o poder dos novos atores financeiros. Um poder nada transparente. É hora de os países mais desenvolvidos chegarem a um acordo sobre como controlar o fluxo do dinheiro”, diz. — Só se superarmos a “exuberância irracional, a ganância infecciosa”, de que falava o Alan Greenspan, presidente do banco central americano.
OS PARAÍSOS FISCAIS
Segundo levantamento do Banco Central pessoas físicas e jurídicas têm US$ 152,2 bilhões aplicados em outros países, dos quais US$ 75,7 bilhões estão em locais conhecidos como paraísos fiscais, em 53 países classificados como paraísos fiscais.(Mas quatro receberam US$ 72,3 bilhões): Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas, Bermudas, Bahamas. Só as Ilhas Cayman receberam US$ 34,8 bilhões. .(JB 05/01/08 p.A17).
Helmut Schmidt é um estadista respeitado no mundo, autor de dezenas de livros, é um otimista com o futuro do Brasil, decorrente, em parte, de suas fantásticas riquezas minerais, do gigantesco potencial agrícola e também da formidável vitalidade de uma população em média ainda jovem. O Brasil será uma superpotência mundial em decorrência de sua capacidade econômica, de sua saúde social, da ausência de conflitos internos, do tamanho do território. Choques e crises econômicas mexicana (1994); asiática (1997), Russa (1998), Argentina e brasileira (1999), o estouro da bolha de tecnologia (2001), dos ataques de 11 de setembro de 2001 e com a perspectiva de eleição de Lula e agora a crise iniciada nos Estados Unidos contamina todos os países do mundo, sem exceção, de conseqüências imprevisíveis.
O que fazer, nos perguntamos? É o grande desafio à imaginação criadora dos sociólogos, economistas e pensadores. Como reintroduzir o social, o político, na relação da troca econômica, reencontrar o objetivo do bem comum, da busca de uma sociedade que não privilegie um bem-estar material destruidor do meio ambiente e do veículo social, de construir uma nova cultura.
(*) THEODIANO BASTOS É escritor e fundador e presidente do Círculo de Estudo, Pensamento e Ação CEPA - ES. Leia neste blog "A GLOBALIZAÇÃO É NEOCONIALISMO"
Esse texto está no Oficina de Idéias: theodiano.blog.terra.com.br
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