terça-feira, 29 de setembro de 2020

56 MILHÕES MORREM POR ANO DE CAUSAS DIVERSAS

COVID – 19 dados de 29/09/20

Total de casos

33.454.037

Recuperados

23.204.219

Mortes

1.003.571

Segundo levantamento do jornal EL PAÍS, a cada ano falecem 56 milhões de seres humanos. Muitas dessas mortes ocorrerão longe; outras ocorrerão entre nós. Este é um pequeno guia das principais causas pelas quais morremos

Segundo dados reunidos pelo Our World in Data, 56 milhões de pessoas morrem por ano no mundo. A principal causa de morte são as doenças cardiovasculares —por sua culpa, perdem-se quase 18 milhões de vidas, quase um terço do total. E, se forem agrupados em uma única categoria, os tipos de câncer são responsáveis por quase 10 milhões de mortes. Em conjunto, 73% falecem por causa de doenças não contagiosas.

Os óbitos devidos a enfermidades infecciosas representam hoje 19%. Nesse grupo entram, sobretudo, afecções dos aparelhos respiratório (2,56 milhões) e digestivo (2,38 milhões), incluídas as diarreias (1,6 milhão). Há um quarto de século, a percentagem de mortes decorrentes de doenças infecciosas era de 33% e, em geral, esse índice é mais alto nos países pobres.

A redução de 33% para 19% está vinculada ao progresso. Quanto mais pobre é um país, maior é a porcentagem de mortes devidas a doenças infecciosas. O contrário ocorre com as não infecciosas. A outra grande categoria de mortes corresponde às produzidas por golpes ou ferimentos, mas essas quase não variam com o tempo e representam 8% (25 anos antes, eram 9%).

Quase 4% das crianças morrem antes de completar cinco anos. Em outras palavras: quase seis milhões delas morrem a cada ano. A principal causa direta de mortalidade infantil são as infecções respiratórias (800.000). De fato, uma em cada três pessoas mortas por esse motivo tem menos de cinco anos. Cerca de 650.000 bebês com menos de um mês de vida falecem por patologias ou complicações neonatais. E as diarreias são também uma causa de morte infantil importante: embora seu número tenha caído muito, cerca de 500.000 meninos e meninas ainda morrem anualmente por essa razão.

Em conjunto, essas afecções são responsáveis por uma grande perda de anos de vida. Também é o caso dos acidentes de trânsito (1,2 milhão de mortes, muitas delas de adolescentes e jovens) e da Aids (que mata anualmente quase um milhão de pessoas, sendo 84% menores de 50 anos). Das 800.000 que tiram a própria vida a cada ano, 460.000 têm menos de 50 anos.

No extremo oposto estão as diferentes formas de demência, que são responsáveis por 2,5 milhões de mortes por ano. Essa cifra subiu muito e continuará subindo conforme aumente a esperança de vida, refletindo a diminuição, sobretudo, das mortes devidas a doenças infecciosas. Precisamente por essa razão, não provoca a perda de muitos anos de vida.

Há três causas de morte que não têm a relevância quantitativa das anteriores, mas que, entretanto, recebem uma grande atenção: são os homicídios, os atentados terroristas e as catástrofes naturais. Cerca de 400.000 pessoas morrem assassinadas por ano, e 26.000 são vítimas de atos terroristas. As catástrofes naturais provocam em média 9.600 mortes.

Fome, fumo e obesidade

Quando falamos de causas de morte citamos as próximas ou imediatas, as doenças que as provocam. Como é sabido, há fatores que aumentam ou diminuem a probabilidade de desenvolver certas doenças que podem ser fatais.

Segundo a FAO (órgão da ONU para alimentação), cerca de seis milhões de crianças menores de cinco anos morrem todos os anos como consequência da fome. O número total de vidas perdidas por essa causa se encontra certamente perto dos nove milhões, mas são os menores de cinco anos os mais vulneráveis a seus efeitos. Na verdade, uma mínima parte dessas mortes ocorre por inanição. A maioria é decorrente da carência recorrente de alimentos e nutrientes essenciais, que faz que as crianças estejam frágeis e aquém do peso ideal.

Por outro lado, a cada ano oito milhões de pessoas morrem devido ao tabaco, e a obesidade é responsável por quase cinco milhões de mortes; em ambos os casos, a metade é de menores de 70 anos. Por culpa do álcool falecem 2,8 milhões (dos que dois milhões são menores de 70). Há, por último, os fatores ambientais: a poluição atmosférica provoca a morte de 3,4 milhões, e a doméstica, 1,6 milhão.

Chega a covid-19

Em 2020, um novo termo foi introduzido nesta contabilidade mórbida: a pandemia da covid-19. Até 18 de maio, houve no mundo mais de 315.000 mortes confirmadas por essa causa, embora a cifra real seja certamente muito superior. A título de exemplo, na Espanha as mortes que constam nos registros civis foram, entre 17 de março e 5 de maio, 56% mais numerosas que na média do mesmo período de outros anos. Cabe supor que esse excesso se deva aos efeitos do coronavírus, por isso as mortes reais por essa causa representariam na ordem de 30% a mais do que os casos notificados oficialmente no período. Se no mundo o número real de mortes for subestimado nessa mesma medida, seriam 400.000 as pessoas falecidas por covid-19 até agora.

Ainda hoje não sabemos qual porcentagem de pessoas contagiadas perde a vida por culpa do coronavírus SARS-CoV-2. Se for 0,1% e todos os seres humanos puderem se contagiar, o número total de mortos poderia, hipoteticamente, alcançar a ordem de 7 milhões. Certamente serão muitos menos os contagiados, porque talvez nem todas as pessoas sejam suscetíveis, ou porque uma vacina efetiva seja desenvolvida antes, mas o percentual de mortes é, provavelmente, superior a 0,1%. A julgar pelos dados do relatório N-COVID sobre soroprevalência, publicado em 13 de maio, e de outros estudos, esse índice é certamente maior que 0,5%, por isso as mortes no mundo poderão facilmente superar os seis dígitos. Dessa forma, passaria a ser considerado um fator significativo de letalidade.

Nas cifras anteriores não estão incluídas todas as pessoas que morreram por causas indiretas, o que poderíamos chamar de efeitos colaterais do vírus. Felizmente, o comércio mundial de alimentos não foi abalado até o momento, mas, como advertiu Máximo Torero, economista-chefe da FAO, as medidas adotadas pela maioria dos países para frear os efeitos da covid-19 poderiam chegar também a ter consequências devastadoras, devidas a graves alterações no fornecimento mundial de alimentos.

Milhares de vidas serão perdidas por outras causas. Estimou-se que durante os próximos seis meses morrerão entre 253.500 e 1.157.000 crianças menores de cinco anos, e entre 12.200 e 56.700 mães em países em desenvolvimento por causa da deterioração dos sistemas de saúde e das possibilidades de obter alimentos. Milhares de vidas serão perdidas por causa da deterioração econômica decorrente das restrições à atividade e à mobilidade. E também é mais que provável que muita gente morra ao evitar ir ao hospital por medo, talvez, de contrair o vírus.

Muitas dessas mortes ocorrerão longe; outras ocorrerão entre nós. De muitas delas talvez nunca chegaremos a ter notícia.

Juan Ignacio Pérez Iglesias é catedrático de Fisiologia na Universidade do País Basco / Euskal Herriko Unibertsitatea. Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation.

Fonte: https://brasil.elpais.com/planeta_futuro/2020-05-19/do-que-se-morre-no-mundo.html

domingo, 6 de setembro de 2020

REELEIÇÃO “FOI UM ERRO”, DIZ FHC

Durante a palestra Brasil, Qual Será o Seu Futuro?,  o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou não ser pessimista em relação ao país. Segundo ele, o Brasil tem um "potencial enorme"

Em artigo publicado no Estadão, Fernando Henrique Cardoso reconheceu que a reeleição, dispositivo criado em 1997 para beneficiar o então presidente, foi “historicamente” um erro.

“Cabe aqui um ‘mea culpa’. Permiti, e por fim aceitei, o instituto da reeleição. Verdade que, ainda no primeiro mandato, fiz um discurso no Itamaraty anunciando que ‘as trevas’ se aproximavam: pediríamos socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Não é desculpa. Sabia, e continuo pensando assim, que um mandato de quatro anos é pouco para ‘fazer algo’. Tinha em mente o que acontece nos Estados Unidos. Visto de hoje, entretanto, imaginar que os presidentes não farão o impossível para ganhar a reeleição é ingenuidade (…).

Devo reconhecer que historicamente foi um erro: se quatro anos são insuficientes e seis parecem ser muito tempo, em vez de pedir que no quarto ano o eleitorado dê um voto de tipo ‘plebiscitário’, seria preferível termos um mandato de cinco anos e ponto final.” https://www.oantagonista.com/brasil/reeleicao-foi-um-erro-diz-fhc/

 

 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

RELAÇÃO DE AMOR E ÓDIO

 “Foram inimigos em outra vida”, dizem os espíritas, mas a psicologia tem outra explicação, vejam:

Amor e ódio não se excluem. Movem-se num mesmo campo e, apesar de possuírem aspectos aparentemente distintos, a relação entre estes dois sentimentos envolve uma ligação entre eles. Em geral, apaixonar-se é algo bom, seja por alguém ou por uma determinada causa.

"Eu te odeio", disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. "Eu te odeio", disse muito apressada. Mas não sabia sequer como se fazia. Como cavar na terra até encontrar a água negra, como abrir passagem na terra dura e chegar jamais a si mesma?

https://www.pensador.com/amor_e_odio/

  

O sentimento de amor e ódio dentro de um relacionamento pode ocorrer devido às expectativas que ambos nutrem em relação ao outro.

A relação entre o amor e o ódio pode ser explicada pela ambivalência emocional, uma situação muito comum em que o indivíduo tem sentimentos conflitantes em relação a outra pessoa. É o caso, por exemplo, do ciúmes: em geral, o ciumento ama tanto seu parceiro que passa a odiar o fato de o outro ser atraente ou se relacionar com outras pessoas. Trata-se de um caso em que há uma emoção negativa e uma emoção positiva em relação à mesma pessoa.

O ódio nunca nasce da indiferença, e esse sentimento pode ter origem no medo de perder o outro, receio de ser rejeitado ou até mesmo ser uma reação desencadeada por uma admiração profunda.

Como surge o amor e o ódio em uma relação

É comum que sentimentos de amor e ódio façam parte dos relacionamentos românticos, por mais contraditório que isso pareça. Isso ocorre por causa das expectativas que as pessoas nutrem em relação ao outro: quando esperança é frustrada, pode ser que o indivíduo acabe desenvolvendo rancor, raiva e até ódio. Neste tipo de situação, o ódio está ligado à desmistificação da pessoa amada e, no fundo, ele se instala pela percepção de que o parceiro não é perfeito.

É preciso ter em mente, porém, que algumas frustrações sempre fazer parte de um relacionamento. Para que as relações não fiquem prejudicadas, é preciso ter maturidade emocional para lidar com as decepções e evitar que um acontecimento isolado desencadeie lembranças e emoções associadas a um conteúdo emocional criado no passado.

O papel da Inteligência Emocional em uma relação

A falta de habilidade para entender e refletir sobre as próprias emoções é um fator que impede muitas pessoas de se relacionarem de maneira saudável. Por isso, é importante desenvolver a Inteligência Emocional de modo a compreender sua história de vida e começar a se relacionar da melhor maneira possível. Confira outras dicas que poderão te ajudar na tarefa de equilibrar amor e ódio dentro de um relacionamento:

Entenda seus gatilhos

Conhecer sua própria história de vida e suas limitações é o primeiro passo para se livrar dos sentimentos ambivalentes que contaminam as relações — não só as amorosas, mas também as familiares, sociais e profissionais.

Quando você se irrita com alguém a ponto de sentir ódio, é porque identificou nesta pessoa uma característica muito parecida com a sua (ou que você gostaria de ter).

Respeite as diferenças

É importante ter consciência de que cada indivíduo possui características positivas e negativas. Por isso, aprender a respeitar as diferenças entre as pessoas é fundamental para um convívio saudável, sem que sejam criadas expectativas e frustrações.

Encontre suas respostas

É importante refletir e identificar os motivos de nutrir sentimentos negativos em relação a uma determinada pessoa. Só assim é possível entender e associar esse desconforto a seus conflitos internos. Fonte: https://www.sbie.com.br/blog/como-psicologia-explica-relacao-de-amor-e-odio/

 

 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

FRONTEIRAS DA SANIDADE

                                                                                                                                                                 por THEODIANO BASTOS                                             

A pastora Flordelis é uma Psicopata ou e sociopata?

Ela tem uma mente perigosa, mente que engana e só quando comete um delito você vê sua verdadeira face. 

‘Separar não posso, porque ia escandalizar o nome de Deus’, escreveu Flordelis; um SÚCUBO, a forma feminina de Satanás   

Fronteira oscilante de Maudsley 

Henry Maudsley foi pioneiro da psiquiatria, com importantes contribuições para a noção de responsabilidade penal e conceito de Sociopatia, aliás defendia exatamente a noção de irresponsabilidade, insensibilidade ou imbecilidade moral, sem nenhuma outra alteração das faculdades mentais observadas em alguns infratores o conduziu à noção de "determinação genética" denominada por ele como tirania de organização (tyranny of organisation) (Skultans.[1] 

A causa do rompimento de Jung com Freud teve origem no conteúdo do livro “O EU E O INCONSCIENTE”, editora Vozes, no qual C.G. Jung consegue provar que o inconsciente tem autonomia e consegue levar uma pessoa a cometer atos contrários a seu consciente, enquanto Freud afirmava que o inconsciente não tem esse poder. 

Canto de Osssanha de Baden Powell e Vinícius de Moraes. 

O homem que diz "dou" não dá, porque quem dá mesmo não diz

O homem que diz "vou" não vai, porque quando foi já não quis

O homem que diz "sou" não é, porque quem é mesmo é "não sou"

O homem que diz "tô" não tá, porque ninguém tá quando quer

Coitado do homem que cai no canto de Ossanha, traidor

Coitado do homem que vai atrás de mandinga de amor 

POR DENTRO DA MENTE DA FAMÍLIA FLORDELIS

Leia o íntegra que segue, publicada na ISTOÉ: Antônio Carlos Prado, https://istoe.com.br/por-dentro-da-mente-da-familia-flordelis/

Ao adotarem crianças em série e instrumentalizá-las para um projeto messiânico e político, a deputada e seu marido agiram como atuam líderes de seitas — deixaram que cada filho fosse crescendo sozinho e com seu próprio repertório emocional

A deputada federal e cantora gospel, Flordelis dos Santos Souza, e seu marido, o pastor Anderson do Carmo Souza, não adotavam filhos – colecionavam-nos. Isso explica, embora jamais justifique, o assassinato do pastor, segundo a polícia, por integrantes dessa exageradamente numerosa família. Quatro desses filhos são biológicos (três ela teve com o primeiro marido e um com o segundo), e cinquenta e um são adotivos: ao todo, cinquenta e cinco, portanto. Os muito românticos talvez vejam na atitude de Flordelis, que determinava as adoções, o puro sentimento de altruísmo. Engano.

Flordelis foi tema de filme com Bruna Marquezine; Thiago Martins lamenta: ‘Me sinto enganado’

Na mais precisa definição do altruísta, o pensador Auguste Comte explicou que se trata de “inclinação instintiva”, com a vital ressalva de que “tal impulso jamais pode virar egoísmo”. Esse segundo aspecto o casal não observou, os adotados sempre foram exibidos como troféus de um projeto combinando política e messianismo, na linha de que não basta fazer o bem mas é imprescindível mostrar que se está fazendo o bem – a religião em si nada tem a ver com isso, o problema é o projeto que dela se faz: geralmente explosivo e desaguando em tragédias pessoais ou sociológicas. Pode ser que Flordelis se colocasse empaticamente no lugar das crianças psicossocialmente vulneráveis que ela adotava. Mas é preciso muita racionalidade nesses casos, sobretudo vivendo-se no Rio de Janeiro, cidade na qual os laços éticos há muito tempo o mar levou – perdão, agora eu é que estou sendo romântico, o correto é que há muito tempo os governantes levaram. Combine-se, então, pretensões políticas, intenções de notoriedade por meio da fé messiânica e a anomia do Rio de Janeiro, e tem-se o caso de Flordelis e Anderson. Tome-se o Velho Testamento: nele, ninguém teve mais filhos que Gideão – setenta ao todo! Um deles, Abileque, matou os outros sessenta e nove. Ciúme. Falta de atenção para com ele. Disputa de poder.

“Imagina o ambiente de confusão e guerra emocional contido nessa família”, declarou o pastor Caio Fábio D’Araújo Filho. “Não se pode sair pegando filhos em série porque se corre o risco de criar pequenas gangues familiares”. Como se vê, ainda que o casal fosse um poço de boa vontade, fez tudo errado. O certo teria sido montar uma creche com médicos, psicólogos, assistentes sociais e monitores, jamais tomar meninos e meninas como filhos. O pastor Anderson foi assassinado com trinta perfurações na madrugada de 16/06/20, dentro de sua casa, no bairro de Pendotiva, em Niterói. Logo após o sepultamento, a polícia prendeu Flávio, filho biológico, e Lucas, adotado. Flávio confessou ter atirado seis vezes em Anderson, Lucas foi quem comprou a arma. Ainda segundo a polícia, todos os cinquenta e cinco filhos e também a deputada são suspeitos e serão investigados, até porque surgiu a denúncia de que ela e três filhas estariam colocando medicamentos na comida do pastor. As autoridades seguem as linhas de investigações de crime com cunho passional (Anderson tinha nove perfurações na região genital); crime motivado por dinheiro; crime motivado pelo fato de Anderson ter assumido a frente de Flordelis no PSD.

Enfim, essas são questões da competência policial. Voltemos ao mergulho no universo psíquico, emocional e social da família, mergulho na cabeça dos que lá vivem, mergulho na obscura dinâmica (ou não dinâmica!) de uma família marcada por aquilo que um dos maiores psicanalistas de todos os tempos, Jacques Lacan, diagnosticaria como a “ausência da linguagem”, indispensável à construção dos indivíduos. Em toda família, mesmo nas padrões (mulher, marido e dois filhos), sempre há, geralmente de forma inconsciente, uma dose de tensão, ensinou o fundador da psicanálise, Sigmund Freud.

A história de Flordelis (simbolicamente representativa da Íris como descreveu Mirande Bruce-Mitford em “Signos e Símbolos”, lembrando que o rei Luís VII valia-se de tal flor para selar as suas missivas), começa em 1994. 

A Flor de Lis da nobreza parisiense virou a Flordelis da Favela do Jacarezinho, imortalizada em música de Jorge Ben Jor. Ela acolheu trinta e sete crianças que sobreviveram a um massacre na Cental do Brasil, sua atitude foi às telas do cinema, mas atrás veio a Justiça: mantinha a criançada em um local de dois cômodos. Flordelis mudou-se para instalações em lugar levemente melhor no Irajá, e, já casada com Anderson, enfrentou novos problemas judiciais. Recebeu a ajuda de um empresário e, dessa vez, foi para um apartamento. Finalmente, estabeleceu-se com os cinquenta e cinco filhos em Niterói. Nesse meio tempo, em 1999 ela fundou a Comunidade Evangélica Flordelis, em 2002 inaugurou a igreja do casal e tentou em vão eleger-se vereadora. No ano passado fez-se deputada federal, a quinta mais votada no Rio de Janeiro com duzentos mil votos. Anderson então teria assumido, contra a vontade dela, a sua agenda política, fazendo reuniões em Brasília sem a presença da esposa parlamentar. A política e o messianismo estavam claros demais.

O repertório emocional de cada um

Se tudo era de fato voltado para tal projeto, não resta dúvida de que as crianças, desde muito cedo, se sentiram instrumentalizadas – até porque a divulgação das adoções ajudavam a carreira artística de Flordelis. Já portadoras de carências emocionais, foram se desestabilizando ainda mais numa comunidade sem nexo e sem relação afetiva parental. Dois especialistas consultados por ISTOÉ no campo da psiquiatria mas que não querem seus nomes revelados por questões éticas devido ao fato de não terem conhecido os filhos pessoalmente, dizem, no entanto, não terem dúvidas de que, ali, um irmão podia se dar bem com o outro, mas já se daria mal com um terceiro, o mesmo ocorrendo em relação ao pai e à mãe, e isso foi se alastrando por todos – da mesma forma que ocorre em seitas que se tornam belicosas e perigosas. A dramaticidade, o subterfúgio, a mentira, a omissão, tudo fica latente. A linguagem já não mediatiza as relações carentes de sólido amparo amoroso. “Quando foram adotadas, ainda crianças, elas podem ter trazido histórico de abusos, agressões e frustrações, nem sempre visíveis. Se os pais foram incoerentes com os princípios que cobraram, os filhos hoje talvez apresentem transtornos afetivos e comportamentais. Assim, criamos os nossos próprios algozes”, afirmou a psicóloga Marisa Lobo.

Um ponto importante a ressaltar: isso independe de ser filho biológico ou adotivo. Não se trata, em hipótese alguma, de dizer que a adoção é arriscada. Ao contrário: ela tem de ser estimulada no Brasil. Errado é não dar suporte que atenda às carências nutricionais, amorosas e emocionais de uma criança. “O problema não são filhos adotivos. O problema é a formação estrutural da família”, diz Roselle Soglio, que segue uma metodologia psicossocial como uma das mais conceituadas peritas criminais do Brasil. “Não importa se é filho natural ou adotado, o que conta são as relações interpessoais mal resolvidas”. As mais modernas teorias da neurociência são unânimes em conceber a personalidade como uma constante dinâmica entre o temperamento (genético) e o ambiente, funcionando, o segundo, como modulador do primeiro. Estudos comparativos mostram que, muitas vezes, um casal não transgressor, que tem um filho biológico e um filho adotivo sem que tenha sequer conhecido os pais dessa criança, acaba vendo o filho biológico delinquir e o adotivo se tornar um grande profissional. Também ocorre o inverso. Em suma, filhos educados no mesmo ambiente podem possuir índoles diferentes. No caso de Flordelis, o filho que admitiu o assassinato é biológico, o filho que comprou a arma é adotivo.

O mesmo ambiente não modulou a genética herdada nem a genética adotada. E deixou claro que cada criança foi crescendo sozinha com seu próprio repertório emocional.