terça-feira, 29 de dezembro de 2015

MAURÍCIO MACRI NA ARGENTINA: INFLUÊNCIA NO BRASIL



MAURÍCIO MACRI VENCE NA ARGENTINA 
 
Conheci Buenos Aires em fevereiro de 2003 em plena efervescência da disputa eleitoral vencida por Nestor Kirchner. Assisti alguns discursos inflamados e a chapa Carlos Menem/Romero inundada a cidade de cartazes. O Menem há fora presidente e havia levado a Argentina à derrocada econômica mas queria voltar ao poder. Ficamos hospedados num hotel ao lado do Congresso. Na praça em frente pessoas vendiam seus pertences,  até sapatos usados, enquanto sob a marquise de um prédio ao lado do hotel, famílias inteiras dormiam sobre colchões numa noite chuvosa, uma cena triste e assustadora, pois eram idosos e seus filhos e até netos. Eram pessoa da classe média Durante o dia vovozinhas tricotavam em cadeiras em cadeiras de descanso. As cenas se repetiam  nos bairros da periferia, mas com família humildes.
Entre 2001 e 2003 a Argentina viveu momentos de turbulências políticas com Fernando de La Rúa na presidências e as renúncias sucessivas de seus sucessores. A crise vem desde 1989 com a grave dívida externa e o desemprego.
É bom lembrar que os dois presidentes não peronistas desde a redemocratização não terminaram seus mandatos: Raúl Alfonsín e Fernando De La Rúa...

Mauricio Macri sinaliza guinada geopolítica na América do Sul

“Dez anos depois da Cúpula das Américas de 2005, em Mar del Plata, que representou uma ruptura com os EUA de governos esquerdistas latino-americanos – especialmente Brasil, Argentina e Venezuela –, as eleições argentinas apontam para uma guinada completa no equilíbrio geopolítico regional. O liberal Mauricio Macri, líder da oposição e favorito para o segundo turno de 22 de novembro, sinaliza a intenção de alterar em 180 graus a política externa adotada na última década pelos presidentes Néstor e Cristina Kirchner. A principal frente seria a Venezuela, onde Macri exige a libertação do político oposicionista Leopoldo López.
O equilíbrio de poder sul-americano, vai mudar de qualquer jeito, porque o candidato governista Daniel Scioli mantém melhores relações com os EUA do que a atual presidenta, Cristina Fernández de Kirchner, e também prometeu se aproximar da União Europeia se for eleito. Mas a guinada com Macri seria mais radical.
Enquanto Scioli recebeu o apoio de líderes da esquerda sul-americana, como Lula, Dilma Rousseff, Evo Morales e Rafael Correa, e evitou qualquer crítica ao venezuelano Nicolás Maduro, Macri segue uma linha bem diferente. “Teremos uma posição sensata com os EUA e também com a Europa. Voltaremos às posições tradicionais da Argentina”, promete Fulvio Pompeo, porta-voz de Macri para questões de política externa.
Teremos uma posição sensata com os EUA e também com a Europa.”
A primeira amostra dessa virada caso Macri seja eleito deverá acontecer na relação de Buenos Aires com Caracas, especialmente no que diz respeito à prisão de López, um assunto que divide a região, mas que ainda não motivou críticas formais de nenhum Governo latino-americano.
Macri prometeu solicitar uma reunião extraordinária do Mercosul para pedir a aplicação da cláusula democrática contra a Venezuela, caso o Governo Maduro não liberte López, acusado de incitar à violência durante protestos no ano passado. Nesse ponto, Macri tem o apoio do peronista Sergio Massa, terceiro colocado no primeiro turno de outubro, com 21% dos votos. “A Argentina precisa se voltar para o mundo. Tenho um vínculo afetivo com Leopoldo López e Lilian Tintori [esposa de López] e vou lutar por eles e para que a Argentina não se transforme em outra Venezuela”, disse Massa nesta semana. “Temos uma posição muito clara: achamos que a Venezuela neste momento não é uma democracia como as demais, e Maduro está dizendo que os resultados eleitorais não importam. Vamos levar o caso de López para que seja aplicada a cláusula democrática, apesar de não desejarmos ver a Venezuela fora do Mercosul”, afirmou Pompeo.
Para Scioli em Buenos Aires. O macrismo teme que o Governo do Brasil, com seus marqueteiros especializados em publicidade negativa, esteja trabalhando para Scioli. “Esperemos que seja apenas um rumor e que o Governo brasileiro não esteja na campanha argentina. Temos o Mercosul como prioridade e o Brasil como sócio estratégico”, conclui Pompeo. A batalha argentina é, portanto, uma luta regional”.


sábado, 26 de dezembro de 2015

80 ANOS CASAL VIVE JUNTOS



Oitenta anos depois, dona Rosalina ainda ri das piadas do seu Oswaldo. Os dois têm 98 anos e se conheceram em 1935.

Minha mulher, eu e os quatro filhos (dois casais), sete netos (três netas e quatro netos), duas noras e dois genros, ficamos emocionados com a reportagem do Jornal Nacional na Noite de Natal de 2015, porquanto nos conhecemos por apenas cinco meses e estamos casados há 54 anos, cujo relato:"Bodas de Ouro e o Segredo do Casamento" está no blog: theodianobastos.blogspot.com


No Rio de Janeiro, tem um casal que é vencedor. A primeira vez que os olhos azuis brilharam apaixonados, ele não esquece. Foi em 1935.  “Ela estava com uma garrafa de vinho pro pai que foi comprar. Eu passei do lado e disse assim: você vai beber isso tudo? E ela disse: não, é para o meu pai e fui acompanhando e conversando até a porta de casa”, conta Oswaldo Blois, de 98 anos.
“Perguntou o meu nome: ‘como você se chama?’. Eu disse ‘Rosa’. E aí ele disse assim: ‘só falta o cheiro’”, conta Rosalina Blois, de 98 anos.
Jornal Nacional: A senhora gostou da cantada?
Rosalina: Gostei! Gostei que voltei. Fui lá dei o vinho pro papai e voltei.
Eles não sabiam, mas ela voltava para uma vida inteira.
Jornal Nacional: E qual foi a primeira vez que o senhor conseguiu botar a mão na mão dela, pra namorar?
Oswaldo: No dia seguinte.
Rosalina: Ele era muito saliente.
Um ano depois veio o pedido. “Com a cara mais lavada, ele chegou e disse pro meu pai: ‘eu quero me casar com a sua filha’”, lembra Rosalina.
No ano seguinte veio o bebê. Hoje com 79 anos, o Orestes. Seu Orestes teve o Marcelo, e o Marcelo, a Carolina - a bisneta.
Seu Oswaldo e Dona Rosalina estão juntos há 80 natais. As fotos mais antigas já não existem mais. Nas que sobraram, alguns dos muitos natais, quando ela preparava as festas. Hoje isso mudou. “A minha nora sempre prepara tudo e nós chegamos e só comemos”, afirma Oswaldo.
A certidão confirma. O aniversário de casamento é em janeiro. Eles já fizeram bodas de prata, de ouro, de diamante. E agora se preparam para bodas de nogueira. Nogueira é uma madeira forte, mostra que a relação está firme.
Jornal Nacional: Vocês imaginaram que iriam completar 80 anos juntos?
Oswaldo: Nunca, nunca. Essa questão de imaginar é muito difícil, os anos vão passando e você não vai sentindo, quando chega os 80, você diz: ‘puxa! 80 anos!’.
Jornal Nacional: Quando olha pra ele, o que que a senhora pensa?
Oswaldo: Mas como esse cara está feio.
Oitenta anos depois e ela ainda ri das piadas dele. E canta quando ele pede. E juntos eles desejam: “Que muitos outros casais sejam felizes, que procurem ser amigos um do outro. É o que nós somos”, diz Oswaldo.
Fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/25/12/2015        

domingo, 20 de dezembro de 2015

BRASIL NUMA ROLETA RUSSA, DIZ DELFIM NETTO



Troca de ministro é irrelevante nesta roleta-russa política, diz Delfim Netto





Folha de São Paulo, ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
EDITORA DE "MERCADO" 20/12/2015  
A troca de ministros da Fazenda é irrelevante e não afasta a impressão de que o país está "indo para o buraco", diz o ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto.
Um dos economistas mais respeitados do país, Delfim foi ministro na ditadura militar e interlocutor dos governos Lula e Dilma, no início do primeiro mandato.
O afastamento começou no final de 2012, quando a presidente insistia numa política econômica que desequilibrou os preços no país e enfraqueceu o setor industrial.
Embora contrário ao impeachment —"seria preciso haver prova de que Dilma foi desonesta"—, ele diz que a administração política da presidente "desintegrou-se". 

"Estamos numa roleta-russa, não num jogo político."


Folha - A troca de ministros da Fazenda faz diferença?
Antonio Delfim Netto - Não. Os dois [Joaquim Levy e seu substituto, Nelson Barbosa] são muito competentes. O problema não é econômico. É político. Não há possibilidade de terminar um ajuste fiscal sem reconstruir primeiro —ou junto com ele, pelo menos– a expectativa de crescimento.
Como se recupera o crescimento agora?
O crescimento é um estado de espírito. O que existe hoje é um desânimo muito grande, produzido pelas dificuldades da economia, que, por sua vez, desintegraram a administração política.
O Brasil é um país hoje em que a administração política está anulada. Um governo que tem dez partidos com 320 deputados, e nenhum partido tem fidelidade ao governo, nenhum deputado tem fidelidade ao partido.
Estamos numa roleta-russa, não num jogo político.
Sem definição do conflito político, então, não há saída?
É mais que isso. Não é só que a situação presente é difícil. É muito pior, a perspectiva é que estamos caminhando para o buraco. O que precisa eliminar é essa perspectiva, e ela só será eliminada se fizermos as reformas necessárias.
MUDANÇA NA FAZENDA






                                                                                     Quais são?
Enfrentar o problema da Previdência, das vinculações. Vinculação é um ato maluco, é a mesma coisa que estar num avião, ligar o piloto automático e esperar acabar o querosene. Ela tira o poder do Congresso e do Executivo.
Precisamos restabelecer certa flexibilidade no mercado de trabalho, o que não quer dizer reduzir direitos constitucionais do trabalhador, mas harmonizar as relações entre trabalhadores e empresários, sob vigilância dos sindicatos, para que se organizem melhor.
Precisa enfrentar também o problema fiscal. A tributação é muito alta, muito injusta. Não vai resolver tudo de uma vez, mas é preciso que alguém apresente ao Congresso essas reformas. Isso obriga o Congresso a enfrentar os assuntos. Hoje se imagina que o Congresso não vai aprovar e não se manda nada.
Há clima político para aprovar alguma reforma agora?
Não. É preciso organizar a política. Temos um sistema sem credibilidade. A troca de ministros é irrelevante. O que é relevante é o Poder Executivo recuperar o seu protagonismo, apresentar ao Congresso as reformas constitucionais necessárias e ir para a rua —conclamar a sociedade a pôr em xeque o Congresso para aprová-las. 

A presidente Dilma tem condições para isso?
Espero que sim. Ela diz, pelo menos, que é guerreira. Não há solução tranquila para o país a não ser a retomada do protagonismo do Executivo.
A reação de desconfiança do mercado financeiro após o anúncio de Barbosa indica que o custo do ajuste será mais alto?
O mercado sabe muito pouco. Basta ver o que pensava no início deste ano e o que pensa hoje.
E a proposta aventada por Barbosa de colocar bandas na meta fiscal?
Não inventa nada, meu Deus! Todos os países desenvolvidos hoje, por tentativa e erro, chegaram à mesma política. Vamos copiar em vez de inventar.
Qual o principal erro do ministro Levy?
O ministro Levy não cometeu erro nenhum. Ele não teve poder para fazer o que precisava ser feito. Confundiu-se o Levy como um fanático do equilíbrio fiscal, que era só uma ponte para ver aprovadas as reformas constitucionais. O Levy nunca viu seu plano adotado, não tem culpa de nada. Tudo o que se atribui a ele vem das medidas tomadas antes. É o pensamento mágico da esquerda infantil, de achar que o efeito vem antes da causa.


sábado, 19 de dezembro de 2015

IMPEACHMENT: OS RISCOS ADIANTE


          OS RISCOS ADIANTE

                      Por Cristovam Buarque

Torcem contra e a favor do impeachment como se estivessem na arquibancada 

A cada momento de nossa história, o Brasil cai em ilusões de propostas mágicas que serviriam para nortear nosso futuro. Há pouco, muitos acreditavam que o pré-sal salvaria o Brasil. Agora, o Brasil se divide entre os que veem o futuro no impeachment e aqueles que querem a continuidade da presidente Dilma. Não percebem que o futuro adiante será muito difícil, com qualquer destas alternativas. Torcem por um lado ou outro, como em arquibancada de futebol, sem refletir, sabendo que o jogo termina depois do apito final. Mas, a realidade é mais complexa.
Se o impeachment passar, o vice-presidente assumirá com uma herança maldita, tendo de enfrentar o PT de volta à oposição, exigindo reajustes salariais, aumentos de gastos públicos; lembrando boas coisas do seu governo, sem mencionar que eram insustentáveis. Corre-se o risco de que o impeachment de Dilma interrompa o fim do ciclo do PT. Isto ficará ainda mais possível se o encaminhamento do processo tiver falhas e conseguirem passar a ideia de golpe. Ainda mais se um futuro governo dificultar o funcionamento da Polícia Federal, nas operações contra a corrupção.
Se o impeachment não passar, uma alternativa seria que a presidente Dilma entendesse e fizesse um reconhecimento público de que o Congresso a salvou da vontade popular de sua cassação, e tentasse reorientar seu governo para os próximos anos. Reconhecer seus erros, dizer que seu partido é o Brasil, não o PT ou qualquer outro; assumir seu compromisso com um governo de união e transição até 2018, com dois objetivos centrais: o ajuste necessário para corrigir seus erros na economia e definir as bases de reformas estruturantes para o futuro. Mas, tudo indica que, com a continuidade do governo Dilma, os próximos três anos não serão diferentes de 2014, salvo que a presidente, o PT e os demais partidos no governo tratarão o arquivamento do processo de impeachment como a aceitação de todos os seus erros, como uma carta em branco para continuar aparelhando o Estado, desprezando a responsabilidade fiscal. Não é difícil imaginar, no dia seguinte ao arquivamento, as bandeiras vermelhas de volta às praças; com gritos de que o golpe não passou, que as pedaladas foram aceitas, assim como também as manipulações na campanha, as irresponsabilidades na economia; tudo bem com a Petrobras, a corrupção não existiu, pedindo anistia para os presos e o fim da Lava-Jato.
Mesmo temendo o futuro, o impeachment precisa ser debatido e votado de acordo com as razões legais. A eleição do presidente é uma escolha política, mas sua destituição deve ser por razões legais, julgando, não votando. O impeachment não é golpe, porque está previsto na Constituição, mas ali previstas as razões que o justificam, definindo se a presidente cometeu ou não crime.                
Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF                                                    Fonte: http://noblat.oglobo.globo.com/ 12/12/15