domingo, 16 de agosto de 2009

O RESSENTIDO NÃO É FELIZ

O RESSENTIDO NÃO É FELIZ
Theodiano Bastos
A psicanalista Maria Rita Kehl acaba de lançar seu livro “Ressentimento” ed. Casa do Psicólogo e aborda uma enfermidade da alma dolorosa; o ressentimento. “A memória do ressentido é uma digestão que não termina”, dizia o filósofo alemão Nitetzche (Friedrich Wilhelm ,1844-1900). Ele catalogou de forma genial as oito principais características do ressentido:
a) “O ressentimento nunca é difuso: dirige-se contra alguém, alguma coisa, alguma entidade; o outro. b) Há um contencioso entre o ressentido e o objeto do ressentimento. O ressentido tem contas a ajustar. c) Para o ressentido, o desejo de vingança é suficiente. O ressentimento é uma revolta e, simultaneamente, o triunfo dessa revolta. d) O ressentido invariavelmente acredita que sua felicidade resulta do erro de outra pessoa, ou de um grupo; de outro. e) “É tua culpa se ninguém me ama”, raciocina o ressentido. “É tua culpa se estraguei minha vida, e também é tua culpa se estragaste a tua”. f) O ressentido atribui todos os erros ao outro e permanece a acusações irrevogáveis. Não consegue aguardar em silêncio o momento do acerto. Explode freqüentemente em amargar recriminações. g) O ressentido não sabe amar e não quer amar, mas quer ser amado. Mais que amado, quer ser alimentado, acariciado, acalentado, saciado. Não amar o ressentido é prova de maldade. h) Para poder sentir-se um homem bom, o ressentido precisa acreditar que os outros são maus.
O ressentimento é o oitavo pecado capital, adverte a psicanalista Maria Rita Kehl em seu livro , “é freqüentador dos subúrbios da ira, sobrinho do orgulho, primo da cobiça e irmão da inveja; irmão da inveja, com quem costuma ser confundido”; “não deixa de ser uma forma de inveja destrutiva”, diz a psicóloga Patrícia Abdub. O ressentido se melindra ou ressente com facilidade; “O ressentimento impossibilita a felicidade real”. Tudo que dificulta a felicidade merece uma atenção especial de todos nós, porquanto a busca da felicidade e do prazer tem forte significado na vida. Spinoza, em Ética, falando sobre o prazer e a felicidade, diz: A felicidade não é a recompensa da virtude, mas a própria virtude; não nos deliciamos com a felicidade pelo fato de refrearmos nossos apetites sensuais, mas, pelo contrário, por nos deliciarmos com ela, somos capazes de refreá-los. O hedonismo sustenta que o prazer é o princípio diretor da ação humana e que alcançar o prazer e evitar a dor são finalidade da vida e o critério da virtude. Mas Epicuro embora reconhecesse que o prazer era o alvo da vida, afirmava que, “conquanto todos os prazeres sejam em si bons, nem todos devem ser escolhidos”, porquanto alguns causam ulteriormente aborrecimentos maiores do que o próprio prazer; segundo ele, só o prazer certo deve favorecer uma vida sensata, boa e correta. O prazer verdadeiro consiste em serenidade da mente e ausência de temor. Erich Fromm em sua obra “Análise do Homem” lembra que homens bons, têm prazeres verdadeiros; homens maus, prazeres falsos.
O ressentido é antes de tudo um fraco, adverte a autora. Ele não conseguiu responder em tempo a uma agressão, real ou imaginária, e rumina a vingança que não será perpetrada. Ficará estacionada na amargura que envenena a alma. Para a autora, no Brasil, suposto habitat do homem cordial, a tribo dos ressentidos exibe formidáveis proporções. Eles estão aí bem ao lado, pouco adiante, na mesa à frente. Ou como convém, logo atrás, finaliza Maria Rita. As dores da alma doem que as do corpo; mas a psicanálise é um ciência libertária, pode ajudar os que sofrem.
Este artigo está no Blog Oficina de Idéias; theodiano.blog.terra.com.br
e está no livro O TRIUNFO DAS IDÉIAS DO MESMO AUTOR

Theodiano Bastos é escritor e presidente do CEPA – Círculo de Estudo, Pensamento e Ação (www.proex.ufes.br/cepa)

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