No Brasil, a corrupção escandaliza duas vezes: quando os escândalos são descobertos e quando as provas são enterradas vivas.
O
cancelamento de provas recolhidas nos subterrâneos da Odebrecht e confessadas
por seus executivos resultou na anulação de sentenças e no trancamento em série
de processos judicias. Restaram várias indagações. O que fazer com a corrupção
confessada, eis a principal interrogação.
Levantamento feito pela Folha revela a existência no
Supremo Tribunal Federal de pelo menos 60 pedidos de extensão da anulação das
sentenças impostas a Lula a outros condenados. Antes de pendurar a toga, em
abril, Ricardo Lewandowski encheu o arquivo morto da Suprema Corte. Herdeiro
dos processos da Lava Jato, o ministro Dias Toffoli completa o serviço.
O
rol de beneficiários é vasto e suprapartidário. Inclui do vice-presidente
Geraldo Alckmin ao ex-governador paranaense Beto Richa; do ex-operador tucano
Paulo Preto ao ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf; do ex-deputado Lúcio Vieira
Lima, irmão de Geddel, ao ex-ministro petista Paulo Bernardo.
Em tese, os
processos são anulados no pressuposto de que os encrencados serão submetidos a
novos inquéritos e julgamentos. Na prática, os processos caem no sumidouro da
prescrição, como sucedeu com Lula. O esfarelamento de sentenças e inquéritos
escora-se no argumento de que a Lava Jato subverteu o princípio do devido
processo legal. Beleza. Mas ficam boiando na atmosfera do Supremo algumas
perguntas incômodas:
E
a roubalheira? O que fazer com as malas de dinheiro? Como lidar com as contas
bloqueadas na Suíça? E quanto ao roubo confessado e devolvido? A corrupção será
devolvida aos corruptores? O Supremo produziu um fenômeno inusitado: a
corrupção sem corruptos. FONTE: https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2023/07/17/que-fazer-com-a-corrupcao-confessada-da-odebrecht.htm
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