Após construir uma
longa carreira parlamentar com base na defesa dos interesses de militares, Jair
Bolsonaro chegou à Presidência da República, em 2018, com uma campanha
eleitoral que privilegiou a coordenação nas redes sociais e que, a princípio,
foi apontada como zebra pelos analistas políticos. Sublimando o sentimento de
antipetismo e no momento em que o ex-presidente
Lula da Silva estava preso e impedido de concorrer ao
pleito presidencial devido a decisões oriundas da Operação Lava Jato, Bolsonaro
derrotou o ex-prefeito Fernando Haddad ao receber 57,8 milhões de votos no
segundo turno, todos registrados em urnas eletrônicas.
Carreira militar de Jair Bolsonaro
Jair Messias
Bolsonaro começou sua trajetória militar na Escola de Cadetes de Campinas (SP),
onde chegou em 8 de março de 1973, duas semanas antes de completar 18 anos de
idade. No ano seguinte, foi aprovado para ingressar na Academia Militar das Agulhas
Negras (Aman), em Resende (RJ). Integrante da turma Tiradentes, o cadete
nº 531 ficou conhecido entre os colegas pelo apelido Cavalão, graças à
disposição física que demonstrou durante o curso.
Bolsonaro cumpriu o
curso básico de paraquedismo do Exército em julho de 1977. Em dezembro daquele
ano, foi declarado aspirante a oficial de artilharia, concluindo o curso da
Aman. O então presidente da República, general Ernesto Geisel — o penúltimo do
regime militar —, esteve presente na cerimônia de formatura, conforme registrou
reportagem da época publicada no jornal O Estado de S. Paulo.
Em 1986, em
um artigo publicado
na revista Veja intitulado “o salário está baixo”, o
capitão Jair Bolsonaro cobrou abertamente o comando militar do país em relação
aos soldos pagos a soldados e oficiais de baixas patentes. “Como capitão do
Exército brasileiro, da ativa, sou obrigado pela minha consciência a confessar
que a tropa vive uma situação crítica no que se refere a vencimentos”, ele
escreveu. Por causa da publicação, Bolsonaro ficou 15 dias preso em um quartel.
No ano seguinte, a
revista publicou uma reportagem em que revelava supostos planos de Jair
Bolsonaro e de um colega militar, Fábio Passos, de explodir bombas em
instalações militares com o objetivo de pressionar o comando por melhores
salários e condições. “Só a explosão de algumas espoletas”, afirmou Bolsonaro à
repórter, em tom de brincadeira.
Após a publicação
da reportagem, que reproduzia um desenho esquematizado de um dos supostos
alvos, Bolsonaro e Passos negaram ao então ministro do Exército, o general
Leônidas Gonçalves, que os planos fossem verdadeiros. “Os dois oficiais
envolvidos, eu vou repetir isso, negaram peremptoriamente, da maneira mais
veemente, por escrito, do próprio punho, qualquer veracidade daquela
informação”, disse o ministro à revista. “Quando alguém desmente
peremptoriamente e é um membro da minha instituição e assina embaixo, em quem
eu vou acreditar?”
O fato fez com que Bolsonaro respondesse a uma investigação em um conselho de justificação do Exército, onde foi inicialmente condenado por unanimidade. Após recorrer ao Superior Tribunal Militar (STM), Bolsonaro foi absolvido por falta de provas, por 9 votos a 4. A carreira militar de Jair Bolsonaro é
narrada em detalhes no livro “O Cadete e o Capitão: A Vida deJair Bolsonaro no Quartel” (Todavia),
publicado em 2019 pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho.
Em 1993, em
entrevista a pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ex-ditador Ernesto Geisel —
que compareceu à formatura da turma de Bolsonaro na Aman — classificou o então deputado
federal como um “mau militar”. Segundo disse Geisel, “militares devem ficar
fora da política partidária, mas não da política geral”. “Presentemente,
o que há de militares no Congresso? Não contemos o Bolsonaro, porque o
Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar.”
A carreira política de Bolsonaro
Após ter se
notabilizado no Rio de Janeiro pela defesa dos interesses corporativistas de
militares, Jair Bolsonaro disputou eleições pela primeira vez em 1989, quando
foi eleito vereador na cidade — ele chegou a distribuir santinhos em áreas
militares, o que é proibido por lei. Dois anos depois, sob a mesma plataforma
eleitoral, trocou o cargo de vereador pelo de deputado federal em Brasília, que
manteve durante sete mandatos e 28 anos, até ser eleito presidente da
República.
Bolsonaro também ganhou fama pelas declarações
antidemocráticas. Em maio de 1999, em entrevista ao
programa Câmera Aberta, da Band Rio, o então deputado pregou o
fechamento do Congresso Nacional, uma guerra civil no país e o fuzilamento de
políticos, inclusive do então presidente da República, Fernando Henrique
Cardoso. No mesmo programa, Jair Bolsonaro também disse ser a favor da sonegação
de impostos.
Presidente do Congresso
Nacional à época, o senador baiano Antônio Carlos Magalhães defendeu a cassação
do mandato de Bolsonaro. “Se ele prega isso, deveriam cassar o mandato dele”,
declarou à Tribuna da Imprensa, conforme a edição do dia 25 de maio de 1999.
“Não vi a entrevista e não tenho que tomar conhecimento das loucuras de alguém
que, evidentemente, está perdendo o senso e o juízo”, completou ACM. Já
Fernando Henrique Cardoso disse ao jornal que as declarações de Bolsonaro
“demonstram que ele não se converteu à democracia”.
A carreira política
de Bolsonaro se confunde com sua vida pessoal. A primeira esposa dele, Rogéria
Bolsonaro, se elegeu vereadora no Rio de Janeiro em 1996. Na disputa seguinte,
em 2000, ela estava se separando do marido e concorreu à reeleição contra um
dos filhos, Carlos Bolsonaro, que à época tinha 17 anos de idade. Carlos se
tornou o vereador eleito mais jovem da História do país — tomou posse após
completar 18 anos —, e Rogéria não conseguiu se reeleger. Até hoje, Carlos
Bolsonaro ocupa o cargo de vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro,
atualmente em seu quinto mandato.
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