TRAGÉDIA BRASILEIRA Theodiano Bastos
Brasil registra uma morte a cada 15 minutos nas ruas e estradas
A cada hora, 7 pessoas morrem assassinadas no Brasil
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na quinta-feira (9), revela o agravamento da situação de violência no Brasil. No ano passado, 63,8 mil pessoas foram vítimas de assassinato, o maior número da história do país.São casos que envolvem homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes em intervenção policial. Os números são de 2017 e revelam aumento de 2,9%, em relação ao ano anterior.
Os estados com as maiores taxas de mortes violentas, a cada 100 mil habitantes, foram Rio Grande do Norte, Acre e Ceará. O Rio de Janeiro foi o campeão de mortes em intervenções policiais e também o estado onte mais agentes foram assassinados. http://tvbrasil.ebc.com.br/
Quem não se lembra do filme “Apocalypse Now”, um
clássico dirigido por Francis Ford Coppola retratando os horrores da Guerra do
Vietnã? Eram cenas chocantes mostrando helicópteros sendo derrubados a tiros de
metralhadora e pessoas morrendo como moscas.
Naquela guerra o exército norte-americano lutou
ferozmente durante dez longos anos, perdendo 58.198 soldados. Enquanto isso, só
no ano de 2003, o pacífico Brasil, que não estava em guerra, perdeu 51.043
filhos assassinados pelas suas ruas.
Há também a Segunda Guerra Mundial, reputada o
maior conflito da história. O exército norte-americano lutou praticamente no
mundo inteiro – desde os campos da Europa até o Oceano Pacífico. Enfrentou
desde os tanques de guerra nazistas até os kamikazes japoneses. Nesta guerra,
que durou uns cinco anos, os Estados Unidos perderam 291.557 soldados em
combate. Enquanto isso, entre 2002 e 2006, 243.232 brasileiros morreram
assassinados em nossas cidades, que vivem em paz.
E que dizermos da Primeira Guerra
Mundial? Em uns quatro anos de conflito encarniçado pelas trincheiras da
Europa, 53.402 soldados norte-americanos foram mortos em combate. Enquanto
isso, só no ano de 2005, a população brasileira assistiu 47.578 homicídios,
algo espantoso para um país que vive em paz!
Diante destes dados resolvi fazer umas contas.
Verifiquei quantos soldados norte-americanos morreram em combate na Guerra do
México, Guerra Hispano-Americana, I Guerra Mundial, II Guerra Mundial, Guerra
da Coréia, Guerra do Vietnã, Guerra do Golfo, Guerra do Iraque e Guerra do
Afeganistão. Cheguei a 666.056 baixas ao término de uns 34 anos de batalhas
terríveis. Enquanto isso, em apenas 16 anos (1990 a 2006), 697.668 civis
brasileiros morreram a tiros, facadas ou pauladas pelas ruas deste tranquilo
país.
Já horrorizado diante destes números, fiz mais
alguns cálculos e constatei algo assustador: o Exército dos Estados Unidos em
guerra perde uma média de 53,67 soldados por dia. Já o Brasil, usufruindo de
uma paz absoluta, perde 119,46 habitantes assassinados por dia – mais do que o
dobro! Talvez devêssemos nos alistar nas Forças Armadas dos EUA – lá deve ser
mais seguro e menos violento!
Voltei às planilhas. Constatei que nos cerca de
cinco anos da Segunda Guerra Mundial, a pior de todos os tempos, o número de
soldados mortos em combate dos exércitos da Bélgica, Bulgária, Canadá, Tchecoslováquia,
Dinamarca, Grécia, Holanda, Noruega, Austrália, Índia, Nova Zelândia e África
do Sul somados foi de 166.914. Nós não precisamos de cinco anos de guerra para
tanto – só entre 2000 e 2003 enterramos, absolutamente em paz, 193.925
compatriotas!
Durante aqueles cinco anos de guerra a França,
invadida pelos nazistas, perdeu 201.568 soldados. A Itália, sob Mussolini,
149.496. E o Brasil, durante cinco anos de paz e sossego (2001 a 2005), viu
serem brutalmente assassinados 244.471 civis.
Há poucos anos ganhou o mundo a imagem de um
helicóptero da Polícia abatido a tiros em pleno Rio de Janeiro. Dentro daquela
frase de Victor Hugo, segundo quem “as ilusões sustentam a alma como as asas a
um pássaro”, ficamos a defender o orgulho nacional dizendo ter sido aquele um
episódio isolado. Sustentamos, com o peito inflado por um falso patriotismo,
que normalmente este imenso país vive em paz. Em paz? Só se for aquela famosa
“paz dos cemitérios”.
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de
Justiça do Espírito Santo. https://diariodopoder.com.br/ 23/06/19