Por Josias de Souza, 23/05/2017
O derretimento político de Michel
Temer deflagrou em Brasília um enredo novo. Os aliados do Planalto passaram a
tratar Temer como chefe de um governo que chegou ao fim com o presidente ainda
no cargo. Nesta terça-feira os caciques governistas se esforçarão para reativar
as votações no Congresso. Mas fazem questão de dissociar a iniciativa da
estratégia concebida por Temer para passar a impressão de que ainda preside.
“Não devemos deixar o país
degringolar em função de uma crise de governo”, disse Tasso Jereissati,
presidente do PSDB. Estamos avaliando a situação do governo separadamente.”
Agripino Maia, presidente do DEM, ecoou: “Os três poderes precisam funcionar. O
Judiciário faz o seu papel. O Executivo precisa fazer o dele. A nós cabe
colocar o Legislativo em funcionamento. Faremos isso em nome do interesse do
país, que não pode ser paralisado pela crise.”
No momento, os governistas
parecem menos preocupados com Temer e mais ansiosos por encontrar uma saída que
os redima do fiasco de ter subido numa ponte com aparência de pinguela sem ter
um plano de contingência. O Plano A era trocar Dilma Rousseff por Temer
e aprovar no Congresso reformas que reacendessem as fornalhas da economia.
Reativado o PIB, os apologistas do governo seriam os primeiros a se beneficiar
eleitoralmente da volta do crescimento.
A delação da Odebrecht indicou
que era ilusória a ideia de que Temer seria um presidente em condições de
dirigir os rumos do país nesta ou naquela direção. Ficou claro que lhe faltava
uma noção qualquer de ética. A delação da JBS teve para Temer o peso de uma
lápide. Grampeado pelo delator Joesley Batista, o pseudo-presidente tornou-se
personagem de uma história fantástica, passada num país à beira do imaginário.
Uma história bem brasileira.
Aliados em geral —PSDB e DEM em
particular— puseram-se a matutar: “O Plano B era, era, era…'' Perceberam
que não havia um Plano B. Abraçado ao PMDB sem projetar uma saída de incêndio.
Agora, improvisam um Plano B em cima do joelho. Consiste na repetição do
Plano A, só que com outro cúmplice no papel de presidente. Falta-lhes
consenso quanto ao nome ator substituto a ser escalado para salvar as
aparências até a eleição de 2018. Por isso, cozinham Temer por mais algum
tempo.
Ficou fácil identificar os
apoiadores de Temer no Congresso. Eles estão nas rodinhas em que as conversas
terminam sempre em especulação sobre os nomes dos hipotéticos substitutos de
Temer.
As menções a Henrique Meirelles
chegam acompanhadas do aviso de que o ministro da Fazenda já trabalhou para a
J&F, holding que controla a JBS do delator Joesley Batista. Nelson Jobim?
Virou banqueiro, sócio do BTG Pactual. Rodrigo Maia? É o ‘Botafogo’ das planilhas
da Odebrecht. FHC? Não tem mais idade. Tasso Jereissati? Irrrc… Cármen Lúcia?
Vade retro!
A esse ponto chegou o país.
Temer, como um disco arranhado, repete incessantemente: “Não vou renunciar.” Na
sua penúltima manifestação, veiculada nesta segunda-feira pela Folha, o suposto
presidente acrescentou: “Se quiserem, me derrubem.” Seus aliados avaliam que
talvez não seja necessário empurrar.
Os pajés da aldeia governista
enxergam Temer como uma espécie de cocheiro de diligência que deixou as rédeas
dos cavalos escaparem de suas mãos. Pode espatifar-se a qualquer momento. No
dia 6 de junho, por exemplo, quando o Tribunal Superior Eleitoral retoma o
julgamento sobre a cassação da chapa Dilma Rousseff—Michel Temer. Isso,
evidentemente, se até lá não for encontrada no interior da diligência
desgovernada a mala com R$ 500 mil que a JBS entregou a Rodrigo Rocha Loures, o
ex-assessor que Temer credenciou como interlocutor junto a Joesley Batista, o
''falastrão''.
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