Delação abala a imagem da Dilma honesta
Colaboração de marqueteiros põe em xeque discurso de
vítima da ex-presidente,
por Pedro Dias Leite, 12/05/2017
RIO - "Um dos argumentos mais
poderosos em defesa de Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, no ano
passado, era o de que se tratava do julgamento de uma pessoa honesta feito por
políticos desonestos. Afinal, de um lado estava o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos principais articuladores do afastamento
e alvo de um processo no Conselho de Ética por ter contas secretas na Suíça,
que bancavam hotéis luxuosos, gastos de milhares de euros em lojas de grife,
jantares em restaurantes com muitas estrelas Michelin. Hoje, cumpre pena em
Curitiba. Do outro, Dilma, uma presidente contra quem não pesava, pessoalmente,
uma acusação sequer de corrupção.
"Saibam todos que vocês
estão julgando uma mulher honesta, uma servidora pública dedicada e uma
lutadora de causas justas.Tenho orgulho de ser a primeira mulher eleita
presidenta do Brasil. Nestes anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta.
Honrei os votos que recebi", dizia a defesa que Dilma enviou ao Senado, em
6 de julho, antes da confirmação de seu afastamento.
A delação do marqueteiro João
Santana e de sua mulher, Mônica Moura, abala o argumento que sustentava essa
narrativa. Por mais que Dilma ainda possa dizer que não colocou dinheiro
público no próprio bolso, a questão da honestidade entrou numa zona cinzenta.
Afinal, agora ficou claro, a partir da colaboração dos marqueteiros, que ela sabia
do esquema ilegal de financiamento que irrigou suas duas campanhas
presidenciais, em 2010 e 2014, e que atuou, enquanto estava no Palácio do
Planalto, para evitar que fosse descoberto.
Mônica Moura narrou como Dilma
lhe sugeriu que transferisse as contas na Suíça onde recebia o pagamento de
caixa dois para Cingapura ("ela ouviu falar que era um lugar muito mais
seguro, que a Suíça já estava muito visada"), contou como as duas criaram
um e-mail em nome de "Iolanda" para que a presidente informasse a
marqueteira sobre as investigações da Lava-Jato ("ela falou que era o nome
da mulher do presidente Costa e Silva, alguma coisa assim; ela inventou nome,
Iolanda, e a gente criou esse e-mail") e narrou como a então presidente
ligou para avisar que o casal seria preso.
Dilma teve uma trajetória digna
até chegar à Presidência da República: participou da luta armada contra a
ditadura militar na juventude, foi vítima da barbárie da tortura, e depois
seguiu em frente em uma respeitável carreira de burocrata, até ser pinçada por
Luiz Inácio Lula da Silva para ser sua candidata.
Não há nenhum indício de que a ex-presidente tenha enriquecido pessoalmente com os esquemas de corrupção. Mas honestidade não é apenas isso, e a nova leva de delações joga uma sombra sobre sua biografia."
Não há nenhum indício de que a ex-presidente tenha enriquecido pessoalmente com os esquemas de corrupção. Mas honestidade não é apenas isso, e a nova leva de delações joga uma sombra sobre sua biografia."
Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/analise-delacao-abala-imagem-da-dilma-honesta-21332247#ixzz4gxIc3PA5 13/05/17
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