terça-feira, 2 de maio de 2023

HIPÓCRATES ESTAVA CERTO, INTESTINO E CÉREBRO ESTÃO CONECTADOS

 


Por Duda Monteiro de Barros 

Aparelho digestivo influencia mais o cérebro do que se imaginava. Nasce um fecundo campo de estudos para compreender e tratar melhor distúrbios como ansiedade e depressão. 

Não são poucos os ensinamentos de Hipócrates (460-377 a.C.) que encontram respaldo na ciência do século XXI. Entre as frases atribuídas ao pai da medicina ocidental, está a de que “todas as doenças começam no intestino”. Preceito que também é acolhido pela ayurveda, a medicina tradicional indiana: para ela, o órgão responsável pela digestão e absorção dos nutrientes é pilar da saúde. Não há dúvida: o intestino e a comunidade microbiana que ele abriga ganham cada vez mais os holofotes em robustas pesquisas com recursos tecnológicos de ponta. A ideia que elas corroboram é que o ecossistema do aparelho digestivo influencia mais o organismo do que se imaginava — principalmente a cabeça.

A conexão entre intestino e cérebro se consagra como uma área de estudos fascinante. São Paulo acaba de sediar um congresso científico totalmente voltado para essa interação e suas repercussões no bem-estar das pessoas. Ali foram compartilhadas e debatidas investigações que buscam estabelecer um elo entre desequilíbrios no sistema digestivo e na flora intestinal e o aparecimento ou agravamento de um leque de transtornos mentais e neurológicos — de ansiedade a Alzheimer. Dados instigantes não faltam. Recentemente, pesquisadores holandeses analisaram amostras de fezes de mais de 2500 pessoas e identificaram uma associação entre treze tipos de bactéria na microbiota intestinal (o termo correto para a flora) e sintomas de depressão. São pistas de que há mais interações entre a barriga e a cabeça do que sonhava a medicina. Esse diálogo é mantido por vias mais diretas — o maior nervo do corpo, o vago, liga o abdome ao crânio — e indiretas, por meio de substâncias químicas produzidas pelo corpo e pelos microrganismos que caem na circulação sanguínea.

Na vanguarda, cientistas já avaliam uma técnica que, em um primeiro momento, causa espanto, mas soa promissora: o transplante fecal. A ideia é introduzir, por meio de uma endoscopia ou colonoscopia, uma amostra tratada de fezes de um doador saudável em um indivíduo doente. Há estudos em andamento apurando seus resultados em distúrbios psíquicos e neurológicos. Hipócrates tinha razão. As vísceras têm uma história para contar.                                               Publicado em VEJA de 3 de maio de 2023, edição nº 2839 SAIBA MAIS EM: https://abqv.org.br/conteudo/426/20-congresso-brasileiro-de-qualidade-de-vida-e-sucesso-de-publico-ao-abordar-as-tematicas-que-impactam-a-saude-e-o-bem-estar-dos-trabalhadores-no-mundo-hibrido - https://veja.abril.com.br/saude/aparelho-digestivo-influencia-mais-o-cerebro-do-que-se-imaginava/

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