segunda-feira, 7 de junho de 2021

BRASIL, CHAVISMO DE DIREITA, DEMOCRACIA CORRE PERIGO

Por THEODIANO BASTOS

Com a capitulação do Exército, é necessário começar desde já a organizar a resistência, diz Fernando Gabeira

"Decisão do Exército é habeas corpus para a anarquia", diz ex-ministro Aldo Rebelo

DO VERDE AO AMARELO

Por Fernando Gabeira

A decisão do Exército de não punir o general Eduardo Pazuello é dessas notícias que anunciam uma época.

Já tinha escrito que saberíamos por ela se há luz no fim do túnel ou se nos espera uma longa escuridão. Infelizmente, o Exército brasileiro amarelou diante da pressão de Bolsonaro. No futuro, saberemos se amarelou por covardia ou se aderiu conscientemente a um projeto autoritário. VEJA MAIS: https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/do-verde-ao-amarelo.html  

 

Ao analisar a decisão do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, de não punir o subordinado Eduardo Pazuello, Aldo acredita que foi dada uma sinalização desastrada e perigosa para os escalões inferiores dos quartéis das três Forças

 Defesa no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016, Aldo Rebelo não acredita que Jair Bolsonaro terá capacidade ou coragem para promover uma ruptura democrática que o favoreça. Isso porque não acha que as Forças Armadas vão acompanhá-lo numa aventura dessa natureza, embora enxergue a não punição do general Eduardo Pazuello — que participou de um ato político promovido pelo presidente da República, no Rio de Janeiro — como algo gravíssimo.

Para Aldo, a decisão do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, não representa o conjunto da instituição, mas acha que foi aberta uma espécie de caixa de pandora que permitirá ao subalterno se insurgir contra o comandante. Mas, lembra que, nas três Forças, não há militares simpáticos apenas ao bolsonarismo — têm aqueles que também se identificam com as pautas da esquerda, algo que poderia agravar a anarquia na caserna.


O que a decisão de não punir o general Eduardo Pazuello mostra sobre o Exército e a relação da instituição com o presidente Jair Bolsonaro?
É preciso separar o Exército como instituição dos seus eventuais dirigentes. Não confundir a história das Forças Armadas com o pessoal que toma decisões equivocadas. A decisão em relação a Pazuello tem o sentido de estimular a indisciplina, a anarquia nas corporações militares. Essas decisões sobre infrações disciplinares têm um duplo sentido: alcança o infrator, mas tem, também, o alcance educativo para toda a tropa, de sinalizar o que é errado e o que é certo. A decisão em relação ao general é a sinalização de que a indisciplina está liberada. Foi dada uma espécie de habeas corpus para a anarquia dentro da tropa. Um habeas corpus preventivo — essa é a gravidade da decisão. E vai estimular um infrator contumaz, o presidente da República, que sempre praticou a indisciplina, que foi expulso do Exército como indisciplinado. Basta analisar a biografia de Bolsonaro sempre que tinha um gesto de indisciplina nas Forças Armadas. É isso que ele sempre fez: levar carro de som para as portas dos quartéis, para residência de militares para fazer agitação. E, agora, na Presidência da República, ele acha que tem carta branca para fazer o que quiser, para recrutar para sua atividade política cabo, sargento, coronel, general — o que aparecer pela frente. Isso está errado, a Constituição Federal veda. A Constituição estabelece que essas organizações militares são regidas pelos princípios da hierarquia e da disciplina, e a esses dois princípios estão subordinados os militares e o presidente da República. Daqui a pouco vão aparecer os militares do PT, do PSol, do PSL, assembleia de bolsonaristas, antibolsonaristas e a baderna pode ser completa. Acha que vai ter militar só bolsonarista?

Os militares erraram ao embarcar de cabeça no governo?
Eles não embarcaram de cabeça no governo. Militares da reserva é que ocupam cargos (no governo). Os da ativa foram exceção.

O que o senhor acredita ter levado o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército, a não punir Pazuello?
O general Paulo Sérgio deve essa explicação. Eu o conheci, serviu no ministério (da Defesa) quando eu era ministro e tínhamos todos a melhor impressão dele. Mas a atitude em relação ao Pazuello não se justifica. Essa explicação ele deve, em primeiro lugar, para a própria instituição. Uma atitude que não tem nenhuma relação com a tradição do Exército. A disciplina nas Forças Armadas não admite relativismo: ou seja, que um pode ser indisciplinado e o outro, não. A disciplina vale para todos ou vale para ninguém. Se não vale para o general, como é que vai valer para o cabo, para o soldado, para o sargento? Se o general pode subir num carro de som e fazer uma arenga política em favor de um político, como é o caso do presidente da República, o que é que pode impedir que o sargento também suba num carro de som para fazer a mesma coisa?
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/06/4929385-decisao-do-exercito-e-habeas-corpus-para-a-anarquia-diz-ex-ministro-aldo-rebelo.html

 

 

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