por Ricardo
Rangel
Líder reflete um Brasil do século
XVII, que precisa ser abandonado
Ricardo Rangel: Bolsonaro reflete um Brasil do século XVII, que precisa
ser abandonado
Líder reflete um Brasil do século XVII, que precisa ser abandonado
Bolsonaro, amante de ditaduras, ameaçou fechar o Congresso e o Supremo.
Em troca, o Congresso submeteu-se a ele espontaneamente e pode nomear uma
bolsonarista radical, golpista, à frente da mais importante comissão da Câmara.
o isolamento, máscara e vacina. Por sua causa, não temos vacinas
suficientes — e, se as tivéssemos, não teríamos seringas nem agulhas. Muitos
dos quase 230 000 brasileiros mortos por Covid-19 morreram por sua causa. A
economia vai muito mal, o desemprego bate recorde. Mas a popularidade de
Bolsonaro, apesar de alguma queda, segue alta.
Bolsonaro se comporta como racista, misógino, homofóbico, persegue
índios, tenta armar a população, defende licença para matar para a polícia,
ofende padrões mínimos de civilidade. E é o favorito para 2022. headtopics.com
Enlouquecemos?“ Mas a alternativa, o PT, é pior!” Conversa. O PT saiu do
poder há cinco anos e sua única chance de vencer é contra Bolsonaro — que, por
isso mesmo, se esforça para mantê-lo vivo. Bolsonaro tem a mesma visão
desenvolvimentista do PT e também loteou o governo para o Centrão. E esse
desmonte de hoje o PT nunca fez: é incrível, mas Bolsonaro consegue ser pior.
“O presidente tem a mesma visão desenvolvimentista do PT e também loteou
o governo para o Centrão”“Mas é honesto.” Lorota. Bolsonaro interferiu no Coaf,
na Receita, na PGR, sabotou o projeto anticrime de Moro e expulsou-o do
governo, enterrou a Lava-Jato. Gastou bilhões de dinheiro público para eleger
seus candidatos no Congresso. Muitos de seus atos são considerados criminosos.
Sua conduta quando deputado sugere desvio de dinheiro público e a família está
envolvida em transações financeiras espúrias. E ainda tem o Queiroz e as
milícias.
“Mas tem a política ‘liberal’ do Guedes.” Ridículo. Bolsonaro sabotou a
reforma da Previdência (que foi encaminhada por Temer e aprovada por Maia). A
reforma tributária é inócua, a administrativa foi esvaziada pelo presidente,
que é contra as privatizações e interfere na gestão de estatais. Em abertura
comercial nem se fala. Com Bolsonaro de olho em 2022 e o Centrão no poder, só
tolos acreditam em reformas expressivas.
Resta a alternativa desconfortável: o presidente é popular não apesar de
ser quem é, mas porque é quem é Bolsonaro é o Brasil do século XVII: arcaico,
tosco, patriarcal, patrimonialista, preconceituoso, espoliador. Essa herança
está entranhada em todas as camadas do Brasil atual, até na camada mais alta e
sofisticada, lida e viajada, que se fascina com a arquitetura de Paris, mas em
geral não se incomoda que metade dos brasileiros não tenha esgoto. desde que
fique longe da vista. Que mulher pode sair de casa desde que não progrida
demais na profissão. Que pobre pode comer desde que “saiba seu lugar”. Que
homossexual pode existir desde que viva sua sexualidade no gueto. Que índio
pode viver desde que vire um “ser humano normal”. Bolsonaro é popular em grande
medida porque autoriza tais eleitores a serem preconceituosos e torpes sem
culpa (ainda que tantos ignorem ser esse o motivo).
Mas
Bolsonaro também presta um serviço ao Brasil como um todo: ele nos mostra um
espelho. A imagem é repugnante, mas é preciso contemplá-la. Reconhecê-la.
Transformá-la. https://headtopics.com/br/bolsonaro-nos-mostra-o-espelho-ricardo-rangel-18489612
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