domingo, 5 de maio de 2024

GETÚLIO, UMA HISTÓRIA DE VIDA SOFRIDA

Foto na Catedral de Salvador, agosto de 23

Por THEODIANO BASTOS

Em 1971, com 32 anos, já casado e com um filho, tinha só o equivalente a sexta série atual e no mesmo ano fez o Supletivo de Primeiro Grau, do Segundo Grau e em, sem fazer cursinho, passou no vestibular de Medicina na UFBA, estudando apenas na biblioteca de Ferira de Santana, tendo feito opção única para medicina (podia optar por três cursos) e... passei! 

Se não me falha a memória, foram 06 disciplinas.  Tive três SS em anatomia (SS é 10 sem tirar uma vírgula) e também obtive notas excelentes nas outras disciplinas, inclusive na eletiva Canto Coral que foi realizado no Seminário de Música da UFBa, continua informando.  

Getúlio Antônio da Silva Bastos formou-se em Medicina em 1986 com, 47 anos, casado e com três filhos. Aos 80 anos, aposentado pelo INSS com pouco mais de R$ 2 mil, continua trabalhando como Médico de Família em Pé de Serra, perto de Feira de Santana.

Perdeu dois dos três filhos em acidente de moto, ambos com 17 anos, mas em datas diferentes.

Chamado às pressas quando o corpo de seu filho Ostiano chegou ao hospital.  Os colegas consternados, o viram costurando os pedaços do corpo do filho. Uma picape com dois cavalos, dirigido por um filho de fazendeiro rico, passou par cima da moto e dilacerou o corpo de meu sobrinho e não sofreu nenhuma penalidade.  

A esposa e toda família foi contra que ele comprasse uma moto para o outro filho e ele comprou dizendo que foi tudo uma fatalidade que não iria acontecer com o outro filho e aconteceu na mesma via, no Contorno de Feira de Santana. 

A esposa pediu a separação e desabafou: dizem que o raio não cai no mesmo lugar e na minha família caiu.   

 

No outro, também foi chamado pelo hospital, chegaram a abrir o tórax para massagear o coração, mas não conseguiram e ali se ajoelhou ao lado do corpo e aos 85 anos é diagnosticado com doença mental grave.  

A Faculdade de Medicina da Bahia foi a primeira do Brasil, onde nosso Pai, Ostiano Cerqueira Bastos ,também médico,  formado em 1935 e Theodora da Silva Bastos. Ficou órfão de mãe aos 9 anos (o autor tinha 11). Nossa mãe faleceu aos 39 anos deixando 7 filhos na orfandade e toda vida da família se desmoronou...

Éramos 6 homens e três já morreram e uma mulher. Na saída do caixão da casa em Candeias, meu pai discursou e disso que jamais daria uma madrasta pra os filhos, e cumpriu. Foi pai e mãe e tirou uma irmã que estava no convento em Salvador havia 24 anos para lhe ajudar a criar os 7 filhos. Era Maria das Mercês. Mais uma Maria na minha vida... era tia Yayá  

Durante o primeiro semestre redigi um manifesto contra a pena de morte contra um colega da UFBA que ganhou expressiva repercussão através do então senador Josafá Marinho que levou para ser discutido em plenário e também o referido manifesto foi capa de alguns jornais de Salvador e provavelmente do Jornal do Brasil, pois um repórter desse jornal me entrevistou em Salvador, lança manifesto em apoio a Theodomiro Romeiro dos Santos, condenado à morte pelo regime militar e por isso ficou mais de 5 anos sem poder voltar a estudar  

“Apresentei minha defesa em jornais de Salvador - Tribuna da Bahia deu bastante destaque (A Tarde também publicou) - e na Secretaria Geral de Cursos da UFBa, reiteradas vezes, até que - se não me falha a memória - em 1977 retornei à Universidade”

Fiz na época em Salvador um concurso da Petrobrás e fui bem classificado.  Acho que fiquei entre os dez primeiros.  Foram chamados além desses dez e meu nome não saiu,” disse.  

O autor entrou em conato com o coronel Jarbas Passarinho, pedindo clamando por justiça e reexame da situação desse irmão, falando de sua ingenuidade política, pois não criticava o regime no manifesto. Por ser espírita, para usava o argumento de que se não se pode criar a vida também não pode tirá-la e ele retornou ao curso de medicina em 1977.

 

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