Por José Casado A economia do crime floresce no vácuo do Estado na Amazônia
Se o problema de Brasília é o tráfico de influência, o da Amazônia é a
influência do tráfico de drogas, de terras, de madeira, de animais e de
minerais — ouro, diamante, cassiterita, urânio e manganês, entre outros. E isso
só é possível com respaldo político em Brasília, naturalmente. Rodrigo
Londoño-Echeverri é o nome no registro de nascimento. Fosse um país, a Amazônia
seria o sexto maior em extensão. Ela o questiona o que ele foi fazer lá, e ele
diz que foi saber notícias dela. Abrange mais da metade (59%) do território
nacional e abriga treze de cada 100 brasileiros entre margens de 25 000
quilômetros de rios navegáveis. Atravessou os últimos 46 anos como Timochenko,
seu codinome na guerrilha de extrema esquerda que devastou a vida colombiana
durante cinco décadas — de 1964 até 2016, quando as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (FARC-EP) negociaram um acordo de
paz com o governo, entregaram as armas e se desmobilizaram. pedaço semi-habitado do planeta, com menos de
seis pessoas por quilômetro quadrado, a economia do crime floresce sobre ruínas
de uma rede institucional preservada em condições precárias desde a Colônia,
cujo objetivo é guarnecer a soberania do Brasil na maior parte (60%) da
floresta compartilhada com meia dúzia de países vizinhos. É um outro grave erro
da instituição achar que a luz poderá ser substituída pela escuridão.
Um retrato da ameaça de falência do Estado brasileiro está na violência
impulsionada pela economia do crime, que progressivamente condiciona a vida e
desagrega a gestão política na região. Último chefe das FARC-EP, Timochenko
encarou ontem algumas das vítimas da guerrilha comunista na primeira da série
de audiências públicas do Juizado Especial para a Paz, em Bogotá..Fosse um
país, a Amazônia ocuparia o 26º lugar entre as nações mais violentas na virada
do milênio. Nesta segunda década do século XXI, porém, já teria avançado para a
quarta posição, atrás de El Salvador, Venezuela e Honduras. Ouviram relatos de
um punhado de sobreviventes dos 21 mil sequestros que realizaram. Foi o que
constataram os pesquisadores Rodrigo Soares, do Insper, Leila Pereira e Rafael
Pucci, da PUC-Rio."Num to precisâno de nada.Eles reviraram bancos de
dados governamentais (Datasus) e do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde,
consórcio da Universidade de Washington com a Fundação Bill e Melinda Gates. Reconheceram
a responsabilidade em incontáveis crimes de guerra e contra humanidade no
rastro de 35.Em outras palavras humildade, transparência e compromisso público
e sincero com superação dos erros e promoção de meios, métodos e mecanismos
para evitar sua repetição.
A Amazônia está se tornando um território sem lei, num processo de
dissolução institucional com alto custo humano. Ali estão 14% dos municípios
brasileiros, como o de Altamira, no Pará, maior que onze estados ou países como
Dinamarca, Holanda e Bélgica.197 vítimas em cinco décadas de guerra civil
colombiana, segundo a contagem oficial. Nem de ninguém", corta Juma. Quatro
deles (do total de 775) começaram esta década se destacando entre as dez áreas
mais violentas do país.Na lista nacional dos 100 municípios onde mais se mata,
23 também são amazônicos, segundo a pesquisa concluída no último dezembro. Pagava-se
um prêmio de US$ 5 milhões (cerca de R$ 20 milhões) pela cabeça de Timochenko. “”
É notável que esses campeões da violência na Amazônia sejam municípios
pequenos, com menos de 100 000 habitantes..
Eles concentraram 12 160 mortes violentas em duas décadas, entre 1999 e
2019.Continua após a publicidade “Estamos aqui para assumir nossa
responsabilidade individual e coletiva diante dos crimes mais abomináveis cometidos por nossa organização como resultado de uma política em que nossa luta foi inspirada e que levou a crimes contra a
humanidade e crimes de guerra” — disse o antigo chefe das FARC-EP aos
sobreviventes. Isso equivale a um terço do total de vítimas deixadas pela
guerrilha comunista (Farc-EP) em cinco décadas de guerra civil na Colômbia,
segundo a contagem oficial. Continua após a publicidade Representa, também,
quase o dobro das mortes no conflito permanente entre israelenses e palestinos,
na Faixa de Gaza — indica a contabilidade das Nações Unidas consultada por
Soares, Pereira e Pucci.“Eu gostaria de poder dizer: ‘Eu não pedi isso, eu pedi
aquilo’, porque eu não teria pedido e não posso acreditar que nossos
comandantes tenham ordenado e permitido isso. José Lucas, nesse momento,
defende o irmão: "O pior é que fica. Sete de cada dez homicídios nesses
pequenos municípios amazônicos tiveram relação com atividades como
narcotráfico, caça, pesca e desmatamento ilegais, grilagem de terras e
contrabando de minerais. Negócios do tráfico e dos crimes ambientais fluem
pelos mesmos canais financeiros e políticos. E nunca medimos isso.
E é no Pará que a economia do crime avança mais rápido. Ele só num qué
dá o braço a torcê". Em duas décadas, o estado duplicou (para 40%) a sua
participação no total de homicídios na Amazônia. Não vimos o ser humano. Nos
anos 90 do século passado, as fronteiras brasileiras com Bolívia, Peru e
Colômbia, principais produtores mundiais de cocaína, se tornaram veias abertas
para o fluxo ilegal de drogas, madeiras e minérios para Estados Unidos, Europa
e África. De país de trânsito, o Brasil passou a um dos maiores mercados
consumidores de drogas. Eu, pessoalmente, não consigo encontrar uma explicação
de como nos degradamos tanto na guerra, e como a dinâmica da guerra nos
degradou a ponto de dar tal tratamento [às vítimas]..Novas multinacionais
brasileiras nasceram na proteção de rotas de tráfico e de contrabando.
Ascendem em parcerias com os cartéis do México, da Colômbia, do Peru e
da Bolívia na produção na floresta e na distribuição, via portos e aeroportos
de Manaus, Fortaleza e São Luís.” – Até o ano passado, as FARC-EP eram
classificadas pelos Estados Unidos como uma organização terrorista. As três
principais máfias nacionais guerreiam pelo domínio do espaço amazônico. Juma
afirma que José Lucas é um homem bom, mas avisa para ele não se meter nessa
situação. É de Manaus o único grupo (FDN) com efetivos e finanças suficientes
para competir com as máfias de São Paulo (PCC) e do Rio (CV)./Reprodução
“Assumo aqui a responsabilidade por ter apoiado essa política e por ter
concordado com o sequestro como forma de financiamento [da guerrilha].Trata-se
de uma indústria capitalista, assentada em redes de interesses locais, mas
hierarquizada e conectada ao mercado financeiro, responsável pelo ciclo da
lavagem, a legalização, dos lucros. É um bem-sucedido projeto empresarial
latino-americano, cujos dinamismo e lucratividade crescem no vácuo do Estado. Eu
me pergunto: como assim? Quatorze anos, treze anos, doze anos, dez anos, um
ano… É muito tempo, um tempo muito longo..
No lado brasileiro, a prevalência do “liberou geral” sob Jair Bolsonaro
evidencia riscos de anarquia institucional, ou anomia, pelas sucessivas
demonstrações de incapacidade estatal de assegurar lei, ordem e controle sobre
mais da metade do território. A economia do crime na Amazônia se tornou
relevante demais para ficar à margem do debate eleitoral. Jamais vamos sentir o
que você sentem, mas isso aqui nos dá a possibilidade de entendê-los e de
perceber a gravidade do delito que cometemos. Os textos dos colunistas não
refletem, necessariamente, a opinião de VEJA Publicado em VEJA de 29 de junho
de 2022.
SAIBA MAIS EM: https://headtopics.com/br/sinais-de-fal-ncia-jose-casado-27501806 E
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