domingo, 1 de janeiro de 2023

O MITO DO OPERÁRIO SALVADOR VOLTA AO PODER PELA TERCEIRA VEZ

 

Por Theodiano Bastos  

“Há pessoas que conseguem se destacar das massas, elevando-se como picos de montanha, escolhendo seu próprio caminho, enquanto a maioria se apega aos caminhos comuns, com medo de trilhar veredas desconhecidas, diz Carl Gustav Jung em sua obra “O Desenvolvimento da Personalidade”. Por que existem os que resolvem arriscar, abandonando os caminhos comuns? O que os impulsiona a trilhar caminhos desconhecidos? É a coação de acontecimentos, a necessidade premente que consegue ativar mudança da natureza humana, responde Jung. “Mas a personalidade jamais poderá desenvolver-se  se a pessoa não escolher seu próprio destino”. Não há vento que sopre favorável para quem não tem rumo, diz a sabedoria popular. “Provém, enfim, da necessidade e também da decisão consciente, pois ninguém desenvolve sua personalidade porque alguém aconselhou, pois a natureza jamais se deixa impressionar por conselhos dados com boa intenção. Sem haver necessidade, algo que obrigue (o destino de cada um?), nada muda a natureza humana, ensina Jung. 

BOLSONARO FOI DERROTADO PELA REJEIÇÃO

“Para ser pátria amada, não pode ser pátria armada” Diz Don Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida

Pela última pesquisa do Datafolha: 50% dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum; 4 pontos a menos que Lula, que é rejeitado por 46% do eleitorado.                                                                 Com 100% das urnas apuradas, Lula se elegeu com  60.345.999 votos válidos equivalem a 50,9% dos votos válidos. O atual presidente Jair Bolsonaro recebeu 58.206.354 votos válidos (49,1%).

Com o fiasco da terceira via, que não conseguiu romper a polarização, restaram Lula e Bolsonaro.                              E para derrotar Bolsonaro, uma impressionante frente ampla foi formada, reunindo 14 partidos, Fernando Henrique e toda sua equipe.   

Uma vantagem da candidatura de Lula, desde seu lançamento, é o conjunto de forças que compõem a coligação Brasil da Esperança. Além da Federação Brasil da Esperança, que reúne PT, PCdoB e PV, a chapa conta ainda com o PSB de Alckmin, Solidariedade, Federação PSol-Rede, Agir, Avante e Pros, com o objetivo comum de derrotar o bolsonarismo, fortalecer a democracia e reconstruir o país. 

“Lula terá de reconciliar um país despedaçado para diminuir tensão e evitar ‘terceiro turno”  

Caçula de uma família de oito irmãos (os revolucionários sempre são os caçulas), metalúrgico, ex-vendedor de tapioca, engraxate, retirante nordestino, que chegou num pau-de-arara em São Paulo, aos 7 anos, após 13 dias de uma viagem de 3 mil quilômetros de viagem na carroceria de um caminhão, usando a mesma camisa. Lula, como outros nordestinos, suportou o estigma de ser pau-de-arara. “Só em São Paulo poderia surgir alguém como Lula“, diz Ruy Mesquita, editor do jornal O Estado de São Paulo, o mais tradicional do estado. “Esta é uma das sociedades de maior mobilidade que se pode imaginar.”

Teve uma infância miserável e passou até fome em Caeté, sertão de Pernambuco; viúvo aos 39 anos quando perdeu no parto a esposa e o filho, casou-se com Maria Letícia, que foi babá aos nove anos e operária de uma fábrica de doces aos 13, também viúva de um motorista de táxi assassinado quando estava grávida de quatro meses, Luiz Inácio Lula da Silva se elege Presidente da República com 52.793.364 votos,  

Em 2004 reelegeu-se no segundo turno com 58.295.042, (60% dos votos), (mas o PT só teve 18% dos votos) derrotando Geraldo Alckmin do PSDB que ficou com 37.543.178 votos.

É um fenômeno político, queiramos ou não, um acontecimento inusitado, da maior significação na história do povo brasileiro. Líder nato, astuto e sagaz, dotado de esperteza intuitiva, muito inteligente, carismático/messiânico, sem instrução formal, formado na universidade da vida, mas com grande desenvoltura, conforme se vê nas reuniões com líderes mundiais. É um orador carbonário, temido, porque pode incendiar o país acionando a CUT, o MST, o Movimento dos Sem-Tetos e outros. Sem nenhuma experiência administrativa, nem como prefeito, secretário de estado ou ministro, mas está cercado de cabeças coroadas da intelectualidade do país, artistas, empresários e militares. Elegeu-se presidente após sofrer quatro derrotas eleitorais: Em 1982, ficou em 4º lugar na disputa pelo governo de São Paulo, pleito vencido por Franco Montoro, teve uma passagem na Assembléia Constituinte e perdeu três vezes para presidente da república: para Fernando Collor e duas derrotas para Fernando Henrique Cardoso, sempre no primeiro turno. Nenhum outro político brasileiro disputou a presidência por cinco vezes. Só queria ser presidente da república.

Lula corporifica o desejo real de mudança. Visto como “herói da classe operária”, e o “operário salvador”, elegeu-se prometendo a mudança, e no governo praticou o continuísmo; é um neoliberal-populista. Transformou-se no porta-voz da indignação do povo, captando os votos da insatisfação, da revolta, do ressentimento e da insurreição. O povo clama por uma personalidade salvadora, clama por alguém que acenda o farol da esperança, mas tem pressa, quer soluções imediatas, quer mágica. Aí reside o grande perigo, o risco de uma decepção geral e existe a maldição do segundo mandato. O povo parece procurar um designado, um ungido, predestinado, iluminado, um salvador da pátria. Alguém enviado pelo destino, que aceite trilhar caminhos diferentes, aceitando com confiança o caminho inspirado pelo destino. O designado age como se fosse uma Lei de Deus, da qual não é possível esquivar-se. O salvador da pátria deve obedecer à sua própria lei, como se um demônio lhe insuflasse caminhos novos e estranhos. “Quem tem designação escuta a voz do seu íntimo, pois está designado”, daí a lenda que atribui a essa pessoa um demônio pessoa, que aconselha e cujos encargos deve executar, ensina o mestre Jung, que continua afirmando: “Designação é como uma convocação feita pela voz que provém do interior da pessoa. Assim será e assim deve ser, o que é próprio de líderes messiânicos. Essa voz interior lhe diz como chegar ao objetivo, faz com que ele se sinta designado, do mesmo modo que os grupos sociais por ocasião de uma guerra, revoluções ou outra ilusão qualquer”.  

No poder, revelou-se um líder messiânico-pragmático e neoliberal-populista. Mas teve o bom senso de manter todo o arcabouço montado pelo governo do PSDB como o saneamento do sistema financeiro, as privatizações, as agências reguladoras, a Lei de Responsabilidade Fiscal, as metas de superávit primário e de inflação, o câmbio flutuante e a autonomia operacional do Banco Central. Com surpreendente desenvoltura e habilidade tem exaltado o Brasil aos olhos do mundo  

“o poder é um fardo em seu destino”. O corporativismo, o MST e a CUT e o sectarismo dos radicais do partido, de forte viés revolucionário e até totalitário. “Sem os exaltados não se fazem as revoluções; mas com eles, depois, é impossível governar”, alertava Joaquim Nabuco. Atualizando a advertência do estadista Joaquim Nabuco, podemos dizer: sem os “aloprados” não se ganham as eleições; mas com eles, depois, é impossível governar.

É espantosa a aversão de Lula por tudo que diga respeito ao aprimoramento intelectual. Ele cultiva a ignorância e se orgulha dela. E segundo Augusto Nunes: “Um homem que não estudou nada e se considera doutor em tudo.

Governou dois mandatos beneficiado por uma conjuntura econômica internacional favorável e teve o bom senso de manter a política econômica herdada do governo de FHC. O país cresceu a taxas razoáveis e com emprego, renda e crédito, o povo o reelegeu e fez Dilma presidente. Por que essa gente não foi capaz de melhorar sua vida?

A mensagem para o povão é clara: “Ele era um dos nossos, não importa o que tenha feito”.

 

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