Janaina Paschoal: rotina de
isolamento pós-impeachment
Coautora do pedido que afastou Dilma Rousseff é
chamada de golpista na USP, convive com família petista do marido e vê Temer
fiel à responsabilidade fiscal
Por João
Pedroso de Campos
A jurista
Janaína Paschoal, co-autora do pedido de impedimento da presidente Dilma
Rousseff, fala para a comissão especial do impeachment no Senado Federal, em
Brasília - 28/04/2016 (Jefferson Rudy/Ag. Senado)
Coautora
do pedido de impeachment que acabou por resultar no afastamento da presidente
Dilma Rousseff, a advogada Janaina Conceição Paschoal se tornou personagem de
destaque nos meses que antecederam a aprovação do processo por crime de
responsabilidade contra a petista pelo Senado. Suas acaloradas defesas da ação,
seja no Congresso ou em eventos públicos, e as críticas ao Partido dos
Trabalhadores renderam infindáveis – e impagáveis – memes nas redes sociais.
Aclamada por grupos pró-impeachment e duramente atacada pela militância de
esquerda, Janaina viu sua rotina se alterar drasticamente. Quinze dias após o
afastamento de Dilma, contudo, a advogada submergiu – e tem de conviver com a
ira de militantes petistas. Ela está ideologicamente isolada na Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo (USP), de cujo Departamento de Direito
Penal, Medicina Forense e Criminologia é professora associada. “Reduto
petista”, segundo classifica Janaina, a escola sediada no Largo São Francisco,
assim como a maioria das universidades públicas brasileiras, é ambiente hostil
a ideias que não reflitam os ideais de esquerda. Mesmo à jurista autodeclarada
“radical de centro”, que frequenta a universidade desde os 17 anos.
O
convívio com militantes esquerdistas e do PT, contudo, não se restringe ao
ambiente acadêmico. A família do marido, com quem tem dois filhos, é petista
fervorosa, “de ir para a rua fazer campanha”, brinca Janaina. Ela relatou ao
site de VEJA, na saída de uma aula na semana passada, que os contraparentes não
acreditavam que o impeachment fosse prosperar. Com Dilma afastada, o assunto
morreu. “Não conversamos a respeito, eu sempre coloco a família em primeiro
plano”, garante.
“A vida
dela na universidade sempre foi muito sofrida”, diz o advogado Roberto Podval,
amigo de Janaina e primeiro chefe dela na área jurídica. Defensor do
ex-ministro José Dirceu na Operação Lava Jato e contrário ao impeachment
baseado nas pedaladas fiscais, Podval observa que em “todos os concursos para
titularidade, para avançar na carreira dentro da USP, ela (Janaina) sempre foi
preterida”. Entre os colegas do corpo docente do Direito da USP, destacam-se
petistas notórios, como os juristas Dalmo Dallari, Fábio Comparato e Sérgio
Salomão Shecaira, este “desafeto político da professora Janaina”, conforme
analisa Elival Ramos, professor de Direito Constitucional da universidade e
Procurador do Estado de São Paulo.
Desde o
afastamento de Dilma Rousseff da Presidência e a consequente – e constitucional
– ascensão do vice-presidente Michel Temer (PMDB) ao cargo mais alto do
Executivo, Janaina conversa sobre o assunto no ambiente acadêmico apenas com os
colegas favoráveis ao impeachment, “que são discretos”. Com os contrários, não
toca no assunto. A recíproca é verdadeira.
Entre os
alunos, por outro lado, a saída da petista do Planalto despertou a ira dos
adeptos da fantasiosa teoria do “golpe”. No dia seguinte ao afastamento de
Dilma pelo Senado, cerca de 15 acadêmicos penduraram ao lado do quadro negro da
sala Dino Bueno, onde a professora dá aula às sextas-feiras, um letreiro onde
se lia, em letras garrafais vermelhas sobre papel pardo: “golpista”. “Golpe
ontem e hoje”, ataca outro cartaz, este em letras escuras, suspenso sobre a
entrada da escadaria que dá acesso às salas de aula.
Houve na
universidade até enterro simbólico da Constituição, organizado na quinta-feira
passada, com direito a caixão para o “livro sagrado”, como carinhosamente a
jurista se refere à Carta Magna. “O cheiro de ilegitimidade e de pegar carona
no poder é muito grande”, protestou a professora de Teoria do Estado da USP
Maria Paula Dallari Bucci. “Entendo que a Constituição está mais viva do que em
qualquer outro momento, mas o PT é bom de marketing”, rebate Janaina.
Fonte:Veja
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