UM DESASTRE DE LULA/DILMA
Não ouviram o sábio ensinamento do
xeque Yamani, inventor da Opep: a Idade da Pedra não terminou por falta de
pedra
Carlos Alberto
Sardenberg,
O Globo, 01/01/15
O preço do petróleo
tem ciclos e pelo menos parte da história funciona assim. O mundo entra em um
período de crescimento — e aí falta o combustível, cuja produção estava
ajustada à demanda anterior, de baixa expansão econômica. Sobe o preço do
petróleo e isso viabiliza mais investimentos na exploração e produção de óleo,
especialmente quando se supõe que o crescimento global é duradouro.
E as pessoas têm
uma tendência irresistível de achar que agora vai, e vai por muito tempo. Daí,
podem acontecer duas coisas: o ciclo de expansão é longo ou curto. Neste último
caso, o preço do petróleo cai e volta logo ao patamar anterior, pois a oferta
fica maior que a demanda, diminuída com a redução do crescimento do PIB
mundial.
Procurar, explorar
e produzir petróleo novo não é atividade trivial. Requer muita tecnologia e
investimentos pesados. Se o ciclo de expansão global for muito curto, às vezes
nem dá tempo de se iniciar a busca. Investimentos são paralisados ainda na fase
de planejamento.
Mas se o período de
crescimento for longo o suficiente, os novos investimentos vão a campo,
viabilizados pela contínua alta da demanda. Foi o que aconteceu nos anos 90 e
no início deste século 21, até a grande crise de 2008/09. O consumo mundial de
óleo subiu o tempo todo e chegou aos 93 milhões de barris/dia.
Preços foram para a
lua e viabilizaram mesmo a produção do petróleo caro — e caro, nesta história,
é sempre em relação à mixaria que se gasta na Arábia Saudita para tirar um
barril de óleo bom: menos de US$ 5. Para comparar: nosso petróleo mais barato,
o da Bacia de Campos, sai por algo como US$ 15 o barril.
Já o óleo novo, do
pré-sal, varia de US$ 30 a US$ 70. No seu programa de investimentos até 2018, a
Petrobras fez todas as contas considerando o barril a US$ 100 na média do
período.
Pois o preço está
abaixo dos US$ 60.
Ficando assim,
inviabiliza alguns campos e reduz as margens de lucro de todos os outros. Quer
dizer, o investimento fica proporcionalmente mais caro.
Quando se olha para
a economia mundial, o que se vê hoje? Entre os desenvolvidos, só os EUA vão
bem. A recuperação ainda é moderada, diz o Federal Reserve, Fed, o banco
central deles. Mas é muito melhor do que ocorre no Japão e na Europa, onde só a
Inglaterra tem dados animadores.
A China, motor
emergente, está em clara desaceleração. Em consequência, o resto do mundo
necessariamente cresce menos. E não dá alimento para novas altas do petróleo.
Para alguns
economistas, o capitalismo já era, de modo que, no máximo, teremos ciclos muito
curtos de crescimento modesto. O que vem depois? Não dizem. Não sabem.
Mas se aceitarmos
que o capitalismo é o melhor sistema que a humanidade conseguiu criar, a melhor
ideia disponível, então certamente teremos novos longos ciclos de crescimento.
Portanto, para os
países que têm boas reservas de petróleo, é só ter calma, moderar os
investimentos atuais (fatal), mas ficar preparado para um novo ciclo de
crescimento global. Certo?
Mais ou menos. É
verdade que o óleo negro é a mais eficiente fonte de energia jamais descoberta.
Mas é poluente.
Isso não era importante quando se iniciou a era do petróleo, mas agora,
obviamente, é.
Além disso,
acontece que boa parte da humanidade, a maior parte, está farta dessa
dependência do petróleo. Primeiro, porque dá excessivo poder político aos donos
do óleo. Segundo, porque transfere muita riqueza a esses donos. Depois, porque
picos e vales dos preços desarrumam a economia global, ora gerando inflação,
ora deflação.
Resultado, está
todo mundo procurando e desenvolvendo outras fontes de energia que, a cada dia,
tornam-se mais viáveis, econômica e tecnicamente. Aqui cabem desde as novas
formas de se obter óleo e gás, como a extração do xisto, até as outras fontes,
etanol, palha de cana, vento, sol, e um mundo de alternativas nas quais
trabalham centros de tecnologia pelo mundo afora.
Tudo considerado,
fica evidente que o Brasil, nos governos Lula e Dilma, perdeu uma imensa
oportunidade. Cinco anos sem leilão para a exploração de novas áreas, enquanto
se discutia e se tentava aprovar a nova forma de dividir o dinheiro do óleo,
deixaram um enorme prejuízo. Perdeu-se um momento de preço alto, que certamente
atrairia investimentos, nacionais e estrangeiros, ávidos pelos novos campos.
Quando se juntam a
cobiça e a miopia política, histórica e econômica, o resultado só pode ser um
imenso desastre. Lula e Dilma anunciaram a autossuficiência em petróleo e a
devolução da Petrobras ao povo brasileiro, para terminar importando combustível
caro e jogando a Petrobras no mar da corrupção e do atraso. Sem contar a quase
destruição do etanol. Pode haver desastre maior que esse?
Não ouviram o sábio
ensinamento do xeque Yamani, inventor da Opep: a Idade da Pedra não terminou
por falta de pedra. Carlos Alberto Sardenberg é jornalista
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