quarta-feira, 15 de novembro de 2023

O ÓDIO ESTÁ ENTRE NÓS

"É preciso grandeza, tolerância e ponderação para que conflitos como o que incendeia o Oriente Médio sejam resolvidos “Nada une tão fortemente como o ódio — nem o amor, nem a amizade, nem a admiração.” A frase, dita pelo escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904), tem marcado a política mundial nos últimos anos. Impulsionadas pelas redes sociais e pelo imediatismo do universo digital, qualidades como o diálogo, a reflexão, o respeito ao diferente têm sido trocadas por reações como raiva, impulsividade e impropérios destinados aos seus inimigos. Não raro, esse comportamento belicoso busca o aplauso rápido de uma claque — mas traz, claro, a consequente resposta adversa da turma do outro lado.

O sucesso efêmero, o fato de chamar atenção com curtidas e joinhas, faz com que mais e mais pessoas se juntem a essa horrenda dinâmica. Indivíduos que eram razoáveis no trato pessoal, doces muitas  vezes, se transformam em selvagens digitais protegidos pelo distanciamento do seu celular.

Infelizmente, esse desvario não fica restrito à realidade virtual. Ele transborda para o mundo de verdade e traz consigo consequências nefastas. A força do ódio tem sido utilizada por líderes políticos em todo o planeta.

Levado ao paroxismo, esse ódio resulta naquilo que vemos hoje no conflito entre o grupo terrorista Hamas e o governo de Israel pela Faixa de Gaza. A repulsa entre os dois povos, palestinos e judeus, é histórica.

No princípio, era a religião. Há muitos séculos, trata-se apenas da vaidade de poderosos, da expansão territorial e da manipulação orquestrada por líderes sanguinários.

A falta de humanidade por parte de quem deveria buscar uma convergência mínima vem multiplicando o número de mortes, exacerbando a dor de todos que perdem um ente querido, e garantindo ainda mais munição e “combatentes” para essa eterna jihad (guerra santa). O cenário fica ainda mais abominável ao se perceber que políticos do mundo inteiro (assim como influencers ou apenas os imbecis, como tão bem classificou o escritor Umberto Eco) se alinham aqui e ali, alimentando um novo antissemitismo ou reforçando a islamofobia para se “posicionar” frente ao seu público. Lamentável. Triste. Ignóbil. Não é com fanatismos ou condutas que lembram selvagerias futebolísticas que conflitos dessa natureza podem ser resolvidos. É preciso grandeza, tolerância e ponderação. Tudo o que os grandes líderes mundiais não têm demonstrado nos últimos tempos.”                                                                                                                       Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867                                                                                                          SAIBA MAIS EM: https://veja.abril.com.br/mundo/carta-ao-leitor-o-odio-esta-entre-nos

Nenhum comentário:

Postar um comentário