Pegue-me
se for capaz
Rosemary Noronha submergiu. Não se apresenta à
Justiça a cada 15 dias, contrariando ordem judicial, e despista oficiais que
tentam intimá-la em sua residência. Mais magra, sem dinheiro e sob o risco de
perder um imóvel, a ex-amante de Lula quebra o silêncio e diz à ISTOÉ ser
apenas um “peão” e uma “assessora de bastidor”
ISTOÉ, Germano Oliveira 10/01/19
Rosemary Nóvoa Noronha, a ex-amante de Lula, foge
dos oficiais de Justiça como o diabo da cruz. Ninguém consegue intimá-la desde
2017. No Edifício Sagarana, perto do Shopping Paulista, no bairro do Paraíso,
em São Paulo, o porteiro já está devidamente instruído: ela sai bem cedo e só
volta tarde da noite – os oficiais de Justiça precisam intimá-la em horário
comercial. Ela deveria se apresentar à Justiça de 15 em 15 dias, por conta de
medidas cautelares adotadas contra ela pela juíza Adriana Freisleben de
Zanetti, da 5ª Vara Federal, de São Paulo, mas não cumpre o determinado. Ela
foi proibida pela Justiça também de exercer qualquer cargo público e de se
ausentar do País sem autorização judicial. Ao menos essa determinação, ela está
cumprindo. Afinal, só deixa apartamento de cobertura do Sagarana, onde mora
desde o início dos anos 2000, para despistar as autoridades. Além de se recusar
a receber intimações judiciais, Rose, como é conhecida, também se nega a dar
entrevistas. Depois de muita insistência, ligou para a reportagem da ISTOÉ. Mas
para reclamar que o fotógrafo da revista fazia campana na porta do seu
edifício. Durante a conversa, desabafou: “Vocês só falam mentira. Não sou
amante do Lula. Sou assessora, de bastidor. Um peão. Não preciso aparecer em
revista. Não sou ninguém”.
Rose mente que nem sente, como
diz o adágio popular. A ex-secretária da Presidência em São Paulo – sabe-se –
não é irrelevante. Ela já foi muito poderosa – também é notório. Quase uma
segunda primeira-dama. Por dezenove anos foi de fato amante de Lula. O petista
conheceu Rose quando era presidente nacional do PT e ela uma funcionária de
agência do Banco Itaú, no centro de São Paulo. Lula ia com freqüência à
agência, encantando Rose, que “passou a fazer recortes dos jornais em que Lula
aparecia e a guardar o material em caixas de papelão”, como recorda sua irmã, Sônia Maria Nóvoa.
“Ela me dizia que um dia ainda seria namorada de Lula”. Em 1993, Lula ascendeu
Rose à secretária na sede nacional do PT. A partir daí, Rose e Lula viveram um
romance tórrido. Ao alcançar o poder, em 2003, Lula nomeou Rose como assessora
especial em São Paulo. Nessa condição, Rose passou a viajar mundo afora no jato
da Presidência da República, sempre ao lado de Lula. Enquanto isso, Marisa
Letícia, a primeira-dama oficial, era alijada das comitivas internacionais.
Logo, ficou enciumada e proibiu o marido de levá-la nas viagens. Na esteira, o
petista nomeou-a chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo em
2006. Foi quando alcançou o ápice do poder pessoal. Mandava e desmandava,
sempre em nome da Presidência e do, claro, presidente Lula. Depois da prisão do
petista, caiu em desgraça. Emagreceu, perdeu prestígio e dinheiro. Hoje, tenta
exibir humildade, característica que jamais foi o seu forte.
Esconde-esconde
Mas, afinal, por que Rosemary
Noronha brinca de esconde-esconde com a Justiça? Ela ainda responde a três
processos decorrentes das fraudes cometidas na Operação Porto Seguro,
desenvolvida pela Polícia Federal em 2012. Segundo pessoas próximas a ela, teme
ser presa a qualquer momento. Por isso, prefere não se apresentar quinzenalmente
à 5ª Vara Federal, desobedecendo ordem judicial. Em rápida entrevista por
telefone à ISTOÉ, no entanto, ela alega que ainda não foi condenada. “O que
existe por enquanto é muita mentira dita pela imprensa. E não dizem que cometi
crimes. Falam apenas da minha vida pessoal, que fui amante do Lula. Tudo
mentira. Agora, se a Justiça disser que eu devo alguma coisa, eu vou pagar”,
desabafou Rosemary. Confrontada com os fatos apurados pela Polícia Federal na
Porto Seguro, Rose recuou. “Não estou dizendo que tudo o que a PF apurou é
mentira, mas isso ainda tem que ser referendado pela Justiça. Cada um que pague
pelo que fez”.
Quando teria cometido os delitos,
Rose ainda era chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em
São Paulo. Foi demitida por Dilma logo depois do escândalo, depois de acerto
prévio com Lula, que passou a bancar seus advogados – mais de 40, segundo a
irmã de Rose – por meio de Paulo Okamoto. Segundo as acusações dos procuradores
da República José Roberto Oliveira e Thaméa Danelon Vielengo, Rosemary se valeu
do cargo para nomear os irmãos Paulo Vieira e Rubens Vieira para a Agência
Nacional de Águas (ANA) e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac),
respectivamente. Para sacramentar a nomeação, o próprio juiz Fernando Américo
Figueiredo Porto, da 5ª Vara Federal Criminal, afirmou que Rose usou como
tráfico de influência um contato na presidência da República identificado como
JD, que para o juiz tratava-se do ex-ministro José Dirceu, à época cumprindo ordens de Lula.
Boquinhas para a família
Com os amigos nos cargos
estratégicos, Rose amealhou dinheiro de empresários com interesses nessas
agências. Paulo e Rubens ainda arrumaram empregos para as filhas de Rose nas
autarquias. Até mesmo o seu ex-marido José Claudio de Noronha arranjou uma
boquinha. O atual esposo, João Batista de Oliveira Vasconcelos, não ficou de
mãos abanando. Para ele, Rose conseguiu contratos para obras de reformas de uma
agência do Banco do Brasil, serviço pelo qual a empresa de Vasconcelos, a New
Talent, faturou R$ 1,12 milhão. Em decorrência dessa denúncia por improbidade
administrativa, corrupção, formação de quadrilha e falsidade ideológica, Rose
teve os bens indisponíveis, em decisão referendada pelo Tribunal Regional Federal
da 3ª Região (TRF-3).
Não é a única encrenca que
Rosemary tem com a Justiça. Oficiais de Justiça de Santos tentam intimá-la para
que o juiz Carlos Ortiz Gomes conclua o leilão do apartamento que Rose possui
na rua Oswaldo Cruz. Até agora, as tentativas são infrutíferas. Como no filme
“prenda-me se for capaz”, Rosemary lança mão de toda sorte de estratégias para
escapar dos agentes. Ela é herdeira do imóvel, que pertencia à sua mãe
Adrelina, morta há cinco anos de AVC. O imóvel ficou para Rose, sua irmã Sônia
e o irmão Edson. Mas sem recursos desde que Lula foi preso, eles não pagam
despesas do apartamento – incluindo R$ 4.600,00 do condomínio.
O síndico Tibúrcio Roberto
Marques de Souza mandou a Justiça executar a dívida. Para não ver o imóvel ser
leiloado, Rose se recusa a receber intimações judiciais.
Além dos processos resultantes da
Porto Seguro, Rosemary responde a uma ação na Justiça de São Paulo por crimes
de lavagem de dinheiro envolvendo imóveis da Cooperativa Habitacional dos
Bancários (Bancoop) repassados para a Construtora OAS concluir. A Bancoop,
então presidida por João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, também preso em
Curitiba, faliu e transferiu os imóveis para a OAS concluir, em razão das
excelentes relações da empreiteira com o PT de Lula. Rose é uma das
investigadas no caso, atualmente nas mãos do promotor Cássio Conserino, do
Ministério Público de São Paulo. O inquérito estava sob a batuta do juiz Sergio
Moro, na 13ª Vara Federal do Paraná, e como consequência resultou na prisão de
Lula. Rosemary Noronha e outros petistas foram denunciados no mesmo processo. A
ex-chefe de gabinete da Presidência tem pelo menos dois apartamentos da Bancoop
e que tiveram as obras terminadas pela OAS. A Justiça de São Paulo investiga se
houve propina envolvida.
“A Justiça ainda
não me condenou, mas se disser que eu devo alguma coisa, vou pagar” Rosemary Noronha
Um dos imóveis está localizado no
Edifício Torres da Mooca e encontra-se em nome do irmão de Rose, Edson Lara
Nóvoa. O outro apartamento, no Edifício Ilhas D’Itália, um duplex, está
registrado em nome de sua filha, Mirelle Nóvoa. A OAS entregou os edifícios
onde Rose tinha os imóveis, mas deixou de finalizar prédios ao lado, como ISTOÉ
constatou esta semana. Segundo a síndica do edifício Gisele Moreira, o
apartamento da filha de Rose permanece vinculado à OAS, assim como dezenas de
outros imóveis. “A OAS terminou os edifícios em 2014, mas não transferiu os
bens para os nomes dos verdadeiros donos. O risco agora é que a OAS vá à
falência, como dizem, deixando centenas de famílias sem os apartamentos”. Como
na Pasárgada da Bancoop, Rose era amiga do rei e este recebia favores da OAS, a
empreiteira teve o cuidado de, prioritariamente, concluir as obras dos imóveis
ligados a ela. Agora, resta saber se a Justiça vai ou não confiscar de vez os
bens bloqueados de Rose, assim como fez com o tríplex no Guarujá que Lula
ganhou de presente da empreiteira. Aí sim seus destinos estarão definitivamente
entrelaçados.
Fonte: https://istoe.com.br 11/01/19
Rubens Pontes:
ResponderExcluirDói na alma das pessoas de boa fé. Uma história que nada tem de ficção, mas bem que poderia servir de tema
para Dante dar continuidade à sua Divina Comédia, a partir do Oitavo
Um dia qualquer, num futuro imprevisível, quem ler o texto que você me encaminhou imaginará ser parte de de uma obra de ficção,
ResponderExcluirescrita por força de uma alucinação do seu autor.
Para nós, nesses dias ainda turbulentos, no entanto, é mais pagina de uma cruel história que põe a nu a cruel realidade da parte escura da política brasileira.
Rubens Pontes, por e-mail