Odebrecht
pagou R$ 4 milhóes por ‘palestras’ de Lula, por Josias de Souza 17/10/15
Nos
últimos quatro anos, a empresa LILS, que traz na logomarca as iniciais do dono,
Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu da Odebrecht, sua principal cliente, cerca
de R$ 4 milhões. No papel, o dinheiro remunerou palestras de Lula. Na prática,
informam os repórteres Thiago Bronzatto, Ana Clara Costa e Alana Rizzo na
revista Época, a verba destinou-se a alavancar negócios da construtora no
exterior. Afora as palestras, a Odebrecht bancou R$ 3 milhões em custos de
viagens de Lula para países onde mantém obras financiadas pelo bom e velho
BNDES.
Disponível
aqui, a notícia demonstra que o investimento da
Odebrecht, empresa enrolada na Lava Jato, revelou-se providencial. O morubixaba
do PT exibiu notável talento para desatar os nós que travavam contratos da
construtora. Mencionam-se episódios ocorridos na Venezuela, em Angola, na
República Dominicana e em Cuba. Juntos, converteram Lula em protagonista de um
inquérito da Procuradoria da República, em Brasília, por suspeita da prática de
crime de tráfico de influência.
A certa
altura, a notícia da revista Época anota: “Em alguns casos, as viagens de Lula
eram sucedidas por concessões de empréstimos do BNDES para obras de
infraestrutura no país. Angola é um exemplo disso. Desde 2011, a Odebrecht foi
a que mais recebeu financiamentos do BNDES no país africano, que está no topo
da lista de recursos destinados pelo banco para exportação. Entre abril de 2011
e abril de 2014, foram liberados US$ 3,1 bilhões dos cofres do BNDES para a
Odebrecht.”
O texto
prossegue: “Nos dias 30 de junho e 1º de julho de 2011, Lula foi contratado
pela Odebrecht para dar uma palestra na Assembleia Nacional em Luanda, capital
da Angola, sobre ‘O desenvolvimento do Brasil – modelo possível para a África’.
Em seguida, Lula se reuniu por 40 minutos com o presidente do país, José
Eduardo dos Santos. Após a conversa, Lula se encontrou com Emílio Odebrecht e
com diretores das empreiteiras Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade
Gutierrez.”
A
reportagem acrescenta: “Lula aterrissou em São Paulo no dia 2 de julho, à 0h30.
No dia 28 de julho de 2011, o BNDES liberou um empréstimo de US$ 281 milhões
(R$ 455 milhões, em valores da época), tão aguardado pela Odebrecht, para a
construção de 3 mil unidades habitacionais e desenvolvimento de infraestrutura
para 20 mil residências em Angola. No dia 6 de maio de 2014, Lula e Emílio
Odebrecht voltaram a se encontrar em Angola. O ex-presidente viajou, numa
aeronave cedida pelo governo angolano, de Luanda para a província de Malanje,
onde visitou a usina de açúcar e etanol Biocom, sociedade entre a Odebrecht
Angola e a Sonangol.”
Súbito, o
caso de Angola conectou-se à Operação Lava Jato. “Em depoimento de sua delação
premiada, o lobista Fernando Soares, o Baiano, disse que se associou ao
empresário José Carlos Bumlai, amigo de Lula, para viabilizar a palestra do
ex-presidente em Angola”, informa Época. “Baiano atendia a um pedido de um
general angolano, interessado no negócio. Lula estava a todo momento
acompanhado por Emílio Odebrecht, pela ex-ministra do Desenvolvimento Social
Márcia Lopes e pelo ex-deputado federal Sigmaringa Seixas, além de autoridades
angolanas.”
“Na manhã
do dia seguinte”, prossegue o texto, Lula “teve uma reunião de cerca de uma
hora com o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Nesse encontro,
discutiram, entre outros assuntos, a linha de crédito do BNDES para a construção
da hidrelétrica de Laúca, segundo telegramas do Itamaraty. Em dezembro do ano
passado, sete meses após a visita de Lula, o ministro de finanças de
Angola, Armando Manuel, assinou o acordo de financiamento com o BNDES. Em maio
deste ano, o presidente do banco, Luciano Coutinho, deu o último aval para a
liberação de um empréstimo que pode chegar a US$ 500 milhões (R$ 1,5 bilhão).”
Na última
quarta-feira, Lula esteve em Brasília para prestar depoimento no inquérito que
apura a suspeita de tráfico de influência internacional. Questionado sobre o
negócio de Angola, disse que “nada foi referido sobre o financiamento do BNDES
para a construção da hidrelétrica de Laúca e que o presidente José Eduardo
nunca tratou desses temas.” O diabo é que documentos oficiais do Itamaraty, já
obtidos pela Procuradoria, revelam o contrário. Lula não se deu por achado.
“Não passa de uma ilação, porque o comunicante (do Itamaraty) não teria
participado da reunião”, disse Lula.
Na semana
passada, o ministro Teori Zavascki, do STF, mandou soltar um dos presos da Lava
Jato recolhidos à carceragem em Curitiba. Chama-se Alexandrino Alencar. Atuava
como diretor de relações institucionais da Odebrecht. Acompanhava Lula em suas
viagem a soldo da construtora. Alexandrino tornou-se amigo de Lula. Porém, no
seu depoimento à Procuradoria, Lula cuidou de distanciar-se do personagem
tóxico: “Alexandrino era representante da Odebrecht, não sabendo precisar o
cargo; que só tinha relação profissional com Alexandrino”, anota a transcrição
do depoimento.
Ouvida
sobre suas relações com Lula, a Odebrecht classificou-a como “institucional e
transparente”. Ecoando o depoimento de Lula, a construtora negou que o
ex-presidente tenha feito lobby em seu favor junto a governos estrangeiros. O
Ministério Público ainda não se convenceu. Cogita formar uma força-tarefa de
procuradores para investigar o caso. Requisitou acesso a documentos
colecionadas pela Operação Lava Jato que façam referência a Lula, Odecrecht e
BNDES.
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