quarta-feira, 17 de junho de 2015

PETISTAS USARAM COMPUTADORES DO SERPRO NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL



Justiça aponta petista como autor de ataques a Aécio em rede social
DANIELA LIMA, Folha de São Paulo
Redes do Ministério da Fazenda e do Serpro, estatal responsável pelo sistema de tecnologia da informação de todo o governo federal, foram usadas por um petista que a Justiça diz ter disseminado mensagens com acusações de que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) traficava e consumia drogas.
As informações estão em dados entregues pelo Twitter ao judiciário de São Paulo, após processo aberto pelo tucano contra usuários do site.
O perfil do responsável pelas postagens nesses órgãos é o do chefe da divisão de "projetos e tecnologias educacionais" do Serpro em Belo Horizonte, Márcio de Araújo Benedito.
Filiado ao PT, ele integra a comissão de ciência e tecnologia da sigla em Minas. O perfil mantido por ele na rede social está entre os 55 que foram alvo de uma ofensiva judicial de Aécio, durante a campanha presidencial do ano passado. O tucano disputou a eleição contra a presidente Dilma Rousseff.
Na ação, Aécio pediu a quebra do sigilo de dados dos perfis para tentar identificar os autores das postagens.
O juiz Helmer Augusto Toqueton Amaral determinou que o Twitter entregasse os dados ao tribunal e, depois de analisar o conteúdo, autorizou o acesso dos advogados de Aécio aos dados de 20 usuários.
Ele concluiu que esses perfis produziram conteúdos que vincularam Aécio ao tráfico e ao consumo de drogas, o que daria ao tucano o direito de identificar os detratores.
De acordo com os dados entregues à Justiça, o petista também usou equipamentos da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, uma organização social ligada aos Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia. Ele acessou as redes dos órgãos por mais de três meses e usou estruturas de três Estados diferentes: Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Brasília.
Todos os órgãos citados negaram vínculo com o caso.
Procurado pela reportagem, Márcio Benedito negou ter feito "comentários que possam ser interpretados" como uma vinculação de Aécio ao tráfico e uso de drogas.
Notificado em setembro, ele diz que não apagou qualquer mensagem, embora publicações relacionadas nos dados entregues à Justiça não apareçam quando buscadas em sua conta. (Leia abaixo)
Em outro caso que corre em segredo de Justiça no Ministério Público apura o uso de um e-mail –que funciona como contato com jovens inscritos em um programa de assistência social do governo federal em Guarulhos (Grande São Paulo), cidade comandada pelo PT há 14 anos– para abastecer um dos perfis falsos do Facebook que vinculava Aécio a drogas e álcool.
OUTRO LADO
Márcio de Araújo Oliveira negou ter feito publicações que vinculassem Aécio Neves (PSDB-MG) ao uso e tráfico de drogas. "Meus comentários se restringiram a emitir opinião sobre as administrações de Minas", disse.
Ele afirma que "apenas os IPs [números que identificam o computador usado] não são suficientes para concluir que usou os equipamentos para atacar o tucano e que sua conta no Twitter é pessoal.
A Fazenda disse que vai abrir uma apuração interna sobre o caso. O Serpro afirmou que "repudia qualquer descumprimento à legislação" e informou que provê acesso à rede interna e de wi-fi, mas a utilização é "de responsabilidade de quem faz o acesso".
A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa forneceu dados sobre seus equipamentos à Justiça e diz que, como provedora, não tem responsabilidade pelas publicações feitas a partir de sua rede.
- Veja a íntegra das alegações de Márcio de Araújo Benedito, servidor do Serpro que integra a lista de usuários do Twitter que, segundo a Justiça de São Paulo, usaram as redes sociais para disseminar mensagens vinculando o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ao uso, apreensão e tráfico de drogas.
Folha - O sr. usou as redes desses órgãos para fazer postagens contra o senador Aécio Neves, vinculando-o ao uso de drogas, tráfico e apreensão?
Márcio de Araújo Benedito - Não. Primeiramente porque não fiz nenhum tipo de comentário que possa ser interpretado dessa forma. Meus comentários se restringiram a emitir a minha opinião sobre as administrações de Minas, fazendo uso de minha liberdade de expressão e pensamento. É preciso cuidado pois apenas os endereços IPs não são suficientes para juntar uma coisa a outra. Não tive tempo de verificar, pois alguns locais são diferentes de onde trabalho.
Que cargo o sr. ocupa no Serpro? Há quanto tempo trabalha no órgão?
Trabalho desde 2007, admitido por concurso público.
O sr. editou sua conta, apagando postagens que poderiam ser consideradas ofensivas ao senador?
Não, meu perfil continua igual sem nenhuma postagem apagada.
O sr. chegou a ser procurado pelo órgão em que trabalha para tratar da ação que o senador tucano move contra usuários do Twitter?
Não. Até porque minha conta é pessoal e não se mistura com nada do meu trabalho.
Os advogados do senador alegam na ação que ele move na Justiça que o sr. atuou em rede com outros perfis do Twitter para denegrir a imagem dele na internet. Como o sr. recebe essa acusação?
Recebo com estranheza, pois não conheço nenhum dos outros perfis. Alguns eu sigo por afinidade,mas outros nem sigo. Além disso, como já disse, o que falo é baseado em minhas opiniões, sem nenhuma influencia de grupos ou redes. Não atuo em rede nenhuma, seja pra o que for.






Diretor de ministério também postou mensagens vinculando Aécio a drogas
DANIELA LIMA, Folha de São Paulo
Um diretor do Ministério do Desenvolvimento Social é dono de um perfil em redes sociais que, segundo a Justiça de São Paulo, disseminou mensagens na internet vinculando o senador Aécio Neves (PSDB-MG) a apreensão de drogas.
Luiz Müller é militante do PT do Rio Grande do Sul e ocupa o cargo de diretor de inclusão produtiva na pasta. Sua área é vinculada à Secretaria Extraordinária de Superação da Extrema Pobreza (SESEP).
O petista é um dos alvos da ação que o tucano move na Justiça desde o ano passado para ter acesso aos dados de internautas que publicaram mensagens em redes sociais vinculando Aécio ao consumo ou tráfico de drogas. Seu perfil está entre os que o juiz Helmer Augusto Toqueton Amaral determinou a quebra de sigilo por entender que, dado o conteúdo de algumas mensagens, Müller vinculou o senador a "apreensão" de drogas.
É o segundo caso de um servidor federal que atuou nas redes durante a campanha presidencial de 2014 e acabou alvo da ação movida por Aécio.
Como revelou a Folha nesta quarta (17), redes do Ministério da Fazenda e do Serpro, estatal responsável pelo sistema de tecnologia da informação de todo o governo federal, foram usadas por um petista, Márcio de Araújo Benedito, que a Justiça diz ter disseminado mensagens com acusações de que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) traficava e consumia drogas.
Benedito é chefe da divisão de "projetos e tecnologias educacionais" do Serpro em Belo Horizonte.
A reportagem não conseguiu localizar Müller por telefone, mas ele publicou um texto em um blog, em setembro do ano passado, após ser notificado da ofensiva judicial de Aécio. No artigo, ele condena a iniciativa do senador e se defende das acusações.
"Reproduzo no perfil do Twitter textos deste e de outros blogs, com conteúdo e argumentos. Nunca fiz nenhuma 'acusação' a ninguém e a nenhum candidato", escreveu Muller. "Publico neste blog e repercuto no Twitter ideias e propostas e contesto com argumentos, ideias e propostas das quais eu discordo", afirmou.
Ele afirmou no texto que "os representantes do neoliberalismo têm medo dos que professam ideias. Por isto acusam a mim e a outros tuiteiros". "Querem calar os que contestam o entreguismo do patrimônio nacional, explícito em seus programas. Não me calarão. Ajudei a construir o PT. E junto com tantos milhões de Brasileiros ajudamos a eleger um operário e uma mulher para a Presidência da República", concluiu.                                    Fonte: Folha de São Paulo, 17/06/2015



terça-feira, 16 de junho de 2015

QUE BRASIL NÓS QUEREMOS?



QUE MUNDO NÓS QUEREMOS?

“Lembro-me que Boff teve orgasmos (e os
declarou por escrito) quando a Dilma 
ganhou a eleição em 2010”, lembrou Rubens da Silva Pontes

É pau, é pedra, é o fim de um caminho: um projeto Brasil.
Este é o título de um artigo do editor Cesar Benjamin na revista Piaui de abril de 2015, sobre o texto de Leonardo Boff, que segue:

Por Leonardo Boff, teólogo, filósofo, ecólogo e escritor.

Talvez seja uma das mais instigantes interpretações da mega-crise brasileira, fora do arco teórico do repetitivo e enganoso discurso a partir do PIB.
Afirmam-se aí, no meu entender, dois pontos básicos: o esgotamento da forma de fazer política do PT (
lulismo) e a urgência de se pensar um projeto de Brasil, a partir de novos fins e de novos valores. Esse seria o grande legado da atual crise que Benjamin reputa como “a mais grave de nossa história”.

Isso me remete ao que ouvi de J. Stiglitz, Nobel em economia, numa conferência em 2009, nos espaços da ONU, na qual eu estava presente: “o legado da crise econômico-financeira de 2008 será um grande debate de ideias sobre que mundo nós queremos”. Pelo mundo afora e no Brasil, esse parece ser realmente o grande debate. Outros chegam a formulá-lo de forma dramática: ou mudamos ou morremos. A percepção generalizada é que, assim como as coisas estão, não podem continuar, pois, lá na frente, um abismo nos espreita.
Face à crise atual ganham força as palavras severas de Celso Furtado, num livro que vale apenas ser revistado: “Brasil: a construção interrompida” (1993): “Falta-nos a experiência de provas cruciais, como as que conheceram outros povos, cuja sobrevivência chegou a estar ameaçada.  Nos falta também um verdadeiro conhecimento de nossas possibilidades e, principalmente, de nossas debilidades. Mas não ignoramos que o tempo histórico se acelera e que a contagem desse tempo se faz contra nós. Trata-se de saber se teremos um futuro, como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação” (p.35). E conclui pesaroso: “tudo aponta para a inviabilização do país como projeto nacional” (p. 35).
Estimo que a grande e decisiva “prova crucial” chegou. Tenho colocado com frequência esta alternativa: ou nos propomos refundar o Brasil sobre uma nova visão de mundo e de futuro, ou seremos condenados a ser um apêndice do projeto-mundo que entrou em crise nos países centrais, alastrando-se por todo o sistema, e que não consegue encontrar uma saída viável. Temos vontade de dar esse passo que nos renove nos fundamentos? Benjamin pondera: “Nosso sistema político gira em falso. Governa a si mesmo, em vez de governar o Brasil. Presos nessa armadilha, tornamo-nos uma sociedade de vontade fraca, que não consegue canalizar sua energia para o que verdadeiramente importa. Sociedades assim perdem a capacidade de se desenvolver, ainda mais em um contexto internacional, como o atual, em que as disputas se acirram”. E conclui: “Precisamos encontrar gente nova, organizada de maneira nova, que, em vez de tentar se adaptar ao que a sociedade é, ou parece ser, aceite correr os riscos de anunciar o que ela pode vir a ser, para impulsioná-la”. Essa gente nova é que estamos buscando e que Celso Furtado tanto almejava.
O meu modesto sentimento do mundo me diz que importa realizar as seguintes transformações, se quisermos sair bem da crise e termos um projeto autônomo de nação:
-Assumir o paradigma contemporâneo, que já possui um século de formulação, fundado na nova cosmologia, na física quântica, na nova biologia, na teoria da complexidade e do caos: o eixo estruturador não será mais a economia sustentável e o PIB, mas a vida. A vida da Terra viva, a diversidade da vida e a vida humana. O capital material esgotado, dará lugar ao capital humano-cultural inesgotável, permitindo-nos ser mais com menos e integrar todos na mesma Casa Comum. Tudo o mais deve colocar-se a serviço dessa biocivilização, chamada também de “Terra da Boa Esperança” (Sachs, Dowbor). A continuar, o paradigma atual nos levará fatalmente ao pior dos mundos.
-Fazer uma verdadeira reforma política, pois a que foi feita não merece esse nome e é fruto de reles fisiologismo.
-Fazer uma reforma tributária para diminuir as desigualdade do país, um dos mais desiguais do mundo, vale dizer, em termos ético-políticos, mais injustos.
-Fazer uma reforma agrária e urbana, já que a ausência da primeira levou a que prevalecesse o agronegócio exportador, em detrimento da produção de alimentos, e fez com que 83% da população migrassem para as cidades, geralmente para as periferias, encontrando má qualidade de vida, de saúde, de educação, de transporte e de infraestrutura.
Retomo o título de Benjamin: “é pau, é pedra, é um fim de caminho”; não só o fim do atual projeto-Brasil, mas o fim do projeto-mundo vigente.
Dentro de pouco, a economia se orientará pelo ecológico e pelos bens e serviços naturais. Nisso podemos ser a grande potência, pelos imensos recursos que temos. O mundo precisará mais de nós do que nós do mundo.

Para quem toma a sério a reflexão de uma ecologia integral, praticamente ausente nas discussões econômicas, do aquecimento global e dos limites físicos da Terra, estas minhas palavras não soam apocalípticas, mas realísticas. Temos que mudar, se quisermos continuar sobre este planeta Terra, pois, por causa de nossa irresponsabilidade e inconsciência, ele já não nos suporta mais.
Ver o meu livro “Cuidar da Terra-proteger a vida: como evitar o fim do mundo”, Record 2010.