Por Diogo
Mainardi
É Zelensky que cerca Moscou. Diante da derrota moral, da ruína econômica que se avizinha e do risco nuclear, a Rússia tem de enxotar o carniceiro do Kremlin
Vladimir
Putin acha que cerca Kiev, mas é Kiev que o cerca. O carniceiro russo esperava
fazer uma blitzkrieg na Ucrânia agredida, mas encontrou uma resistência não
menos do que heroica do exército oponente, comandada por um presidente que
conta hoje com a aprovação de 94% dos ucranianos. Volodymyr Zelensky, não importa se era bom ou
mau presidente, tornou-se um símbolo de coragem e resiliência para os seus
compatriotas e para o mundo. O Ocidente, temeroso de uma guerra prolongada que
também lhe seria custosa, ofereceu-lhe uma rota de fuga. Ele recusou-se a
abandonar a luta, como Vladimir Putin esperava que fizesse — e, com o seu
comportamento inspirador e impressionante capacidade de comunicação nas redes
sociais, obrigou os líderes ocidentais a mostrar os dentes para a Rússia, seja
na forma de sanções econômicas mais duras do que as previstas, seja por meio de
ajuda militar efetiva. Ainda que o rolo compressor russo atinja os seus
objetivos militares, já está claro que os ucranianos não se dobrarão aos
invasores e estão dispostos a transformar o seu país numa espécie de
Afeganistão para os russos. Na Europa, a cifra fornecida por Kiev, de que o
seus exército matou 3.500 soldados inimigos em cinco dias de conflito, começa a
ser levada a sério, depois de ser considerada mera propaganda. Se a informação
for mesmo verdadeira, é algo assombroso. Será espantoso ainda que seja um terço
disso.
Para se ter ideia,
em 10 anos de guerra, os russos perderam 14,5 mil homens em território afegão.
Moscou anunciou hoje que vai desacelerar a ofensiva.
Volodymyr
Zelensky é um ex-comediante que foi subestimado no Kremlin e no Ocidente — e só continua a sê-lo pelos idiotas.
Com um simples celular, ele já derrotou Vladimir Putin e a sua máquina de
censura e fake news. O carniceiro russo perdeu a batalha de comunicação, como
se pode ver pelas manifestações de rua contra a invasão da Ucrânia que ocorrem
nos países ocidentais e na própria Rússia. Pelos boicotes esportivos de imensa
repercussão. Pelas sanções ocidentais aos canais de notícias falsas
patrocinados pelos russos que vinham operando livremente no Ocidente. O
mundo livre e moderno constata a diferença entre um Volodymyr Zelinsky, que
transmite de lugares públicos de Kiev e sabe se comunicar pelo Twitter (quase 4
milhões de seguidores neste momento) e pelo Instagram (quase 13 milhões de
seguidores), e um Vladimir Putin, isolado no cavernoso Kremlin e que faz uso
apenas de um TV estatal que lhe é inteiramente submissa, da censura e das fake
news. Como disse o jornalista americano Dan Rather no Twitter, “Putin
deve estar se mordendo ao ver Zelensky tornar-se um herói mundial, o líder
forte e corajoso que se eleva moralmente sobre o pária russo. Isso torna o
destino de Zelensky ainda mais precário. E a situação na Ucrânia ainda mais
preocupante”.
O ex-agente obscuro
da KGB achou que poderia cancelar a Ucrânia como nação, com um discurso montado
numa retórica velha da época da Guerra Fria, mas acabou fortalecendo o
sentimento nacional ucraniano expresso admiravelmente pelo presidente
ex-comediante. Hoje, enquanto a Ucrânia é objeto de solidariedade e ajuda
financeira e militar, a Rússia se vê sob um carniceiro que, roído pela vaidade,
pela inveja e pela vingança, ameaça não apenas a Ucrânia, mas a humanidade,
dizendo que pode lançar mão de armas nucleares, para liquidar um mundo que não
reflete a imagem que ele acha ter de si próprio.
Só há um caminho a
seguir para a Rússia. Depois do desmoronamento moral do seu líder e da
degradação da imagem do país, da possibilidade de se atolar em outro
Afeganistão, mas na Europa, da ruína econômica que se avizinha — o
rublo desabou 40%, a taxa de juros foi a 20%, a bolsa de valores não abriu hoje —
e, principalmente, do risco de o carniceiro lançar mão de armas atômicas para
destruir não somente a Ucrânia, mas a inteira civilização, o que
ainda compreende a Rússia, cabe aos próprios russos se livrar de Vladimir
Putin. É preciso que eles o derrubem. Zelensky é um líder corajoso e admirável
na sua modernidade; Putin é um ditador covarde e perigoso no seu anacronismo.
Ele foi longe demais para que a sua palavra possa ser crível em qualquer
negociação. https://www.oantagonista.com/opiniao/os-russos-precisam-derrubar-putin/
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