sábado, 19 de março de 2022

'ORIENTE ESTÁ VIRANDO NOVO EIXO DO MUNDO'

 



O historiador britânico Peter Frankopan diz que o poder global está mudando de mãos, ao mesmo tempo em que crescem o autoritarismo e as ameaças à democracia

O britânico Peter Frankopan se tornou uma figura popular dentro de uma onda de historiadores - como o israelense Yuval Noah Harari - que se debruçam sobre uma visão mais ampla da trajetória da humanidade para explicar o caminho que nos trouxe até as atuais circunstâncias.

O historiador é autor dos best-sellers O Coração do Mundo: Uma nova história universal a partir da Rota da Seda - o encontro do Oriente com o Ocidente (editora Crítica) e sua sequência The New Silk Roads: The New Asia and the Remaking of the World Order (em tradução livre, As Novas Rotas da Seda: A Nova Ásia e o Rearranjo da Ordem Mundial, ainda sem edição brasileira).

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São livros que não apenas criticam uma visão excessivamente centrada no Ocidente como protagonista da História como defendem que o eixo das grandes decisões mundiais está se deslocando para o Oriente.

O início de 2022, com a Guerra da Ucrânia e o anúncio de uma "parceria sem limites" entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, está em consonância com a análise de Frankopan, que vem ganhando destaque desde meados da década passada.

O historiador (cuja família é de origem croata) se define como "particularmente interessado nas trocas e conexões entre regiões e povos". Ele conversou com a BBC News Brasil por telefone direto de Oxford, onde é professor de História Global e diretor do Centro para Pesquisa Bizantina.

BBC News Brasil - O senhor já vinha defendendo que o eixo de decisões com impacto global não passa mais apenas pelo Ocidente e que falta atenção sobre o processo de mudança que está em curso. Como os eventos deste início de 2022, que dizem respeito à relação entre Ocidente e Oriente, se incorporam à sua análise?  

Peter Frankopan - O problema é que nós reagimos apenas a eventos dramáticos. Nós reagimos agora, por causa da guerra na Ucrânia, a uma aliança entre Pequim e Moscou. Mas há muitas coisas que estão acontecendo, e nós não estamos prestando atenção. O preço do petróleo foi para as alturas, e países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos serão beneficiários dessa situação. Esses movimentos são muito profundos.

 

Quando eu digo que o eixo do mundo está se movendo para a Ásia, isso não é necessariamente algo bom. Como historiador, como cientista, eu tento olhar para fatos. O que escrevi em The New Silk Roads é que as decisões tomadas em Moscou, Pequim, Teerã, Nova Déli e Islamabad [Paquistão] já são mais importantes do que decisões tomadas em Lisboa, Madri, Roma ou Paris. Nos últimos 300 ou 400 anos, foram os europeus que causaram problemas pelo mundo todo, e foi a ascensão europeia que desafiou a ordem de então.

Essa relação Xi-Putin tem uma importância por questões pessoais. Eles têm idades próximas, têm um histórico familiar parecido, uma trajetória pessoal com semelhanças, então, obviamente Xi e Putin têm uma proximidade. Mas a parte mais importante dessa relação é que ambos veem o Ocidente de duas maneiras: ou em declínio ou como uma ameaça. Essa percepção global é muito importante, para entender a mentalidade dos dois e também suas ações de governo e estratégias.                               https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60698051

 


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