domingo, 21 de novembro de 2021

ATENTADO DO RIOCENTRO: DEPOIMENTO PARA A HISTÓRIA


 JUSTIÇA MILITAR INOCENTA NANUQUENSES

ATENTADO DO RIOCENTRO: DEPOIMENTO PARA HISTÓRIA

Por THEODIANO BASTOS

O semanário de Teófilo Otoni TRIBUNA DO MUCURI comandado por Getúlio Neiva, quando publicou  em sua edição de 31/01/81, na primeira página em grande manchete, a notícia sobre o enquadramento de cidadãos de nossa comunidade, tornou público o que poucos sabiam.

Denunciantes: Roberto Ladeira, Juiz de Direito e Juvêncio Jacinto de Oliveira Filho, Promotor de Justiça da Comarca de Nanuque. O Juiz acabou afastado da magistratura e o promotor foi transferido para outra comarca onde morreu de tanto beber, pois era uma alcoólatra.

Eles encaminharam para a 4ª Circunscrição Judiciária Militar em Juiz de Fóra, INQUÉRITO 14/81, acusando os cinco cidadãos como subversivos por haverem criticado a atuação da Justiça local no caso dos pescadores. A notícia traumatizou a cidade e uma revolta surda e um medo difuso se alastrava pela região.                                                                                                                               OS DENUNCIADOS E O CRIME

Prof. Emílio Boudens (já falecido), Diretor do colégio Santo Antônio e do anexo em Nanuque da Universidade Santos Dumont, ex-presidente da Câmara Municipal, pai de 8 filhos com uma folha de serviços prestados à comunidade, não só no campo educacional como no desenvolvimento regional digno dos maiores encômios, prestando serviços a nossa cidade há mais de 20 anos;

Theodiano Bastos, empresário, atual presidente do PMDB, ex-presidente da Associação Comercial Industrial e Agropecuária de Nanuque, onde prestou relevantes serviços à comunidade, tendo realizado três Feiras de Ciência FEIREC e dois Seminários Regionais, onde reside há mais de 13 anos em Nanuque, pai de quatro filhos.   

Matosinhos de Castro Pinto (já falecido) , Diretor do jornal “Ponto de Vista”, há mais de 8 anos atuando na comunidade, ex-prefeito e ex-deputado, pai de sete filhos.

Antônio Pereira Louzi , Vice-prefeito, dono do jornal Folha de Nanuque, ministro da Igreja de São José Operário, ex-presidente da Arena e do Lyons Club de Nanuque, pai de quatro filhos, morador desta comunidade há mais de 20 anos

E finalmente Manoel Pereira Louzi, (já falecido) Diretor da Folha de Nanuque. Cidadão praticamente criado em Nanuque.

Ora, como se poderia sustentar uma denúncia de que esses cidadãos são subversivos e ameaçam a Segurança Nacional?

Só porque criticaram a atuação da justiça local no caso dos pescadores, principalmente sobre a morte dos pescador Adão Alves Correia. Isso é querer voltar aos tempos de trevas.

Na denúncia pediam o enquadramento de todos no art. 16  do Decreto Lei 898/69 editado pela Junta Militar de triste memória.

MOTIVO DA REVOLTA

Os ricos e poderosos fazendeiros com fazendas às margens do Rio Mucuri entre Carlos Chagas e Nanuque conseguiram com a Polícia Ambiental de Minas uma portaria proibindo a pesca no rio nesse trecho e os humildes pescadores, para sobreviverem foram obrigados a usarem suas canoas para cortar bengo nas margens do rio e vender para esses fazendeiros e por causa de discussão de preços o Adão foi assassinado por Aureliano Lindemberg Monteiro, vulgo Chicão, capataz de um poderoso e temido fazendeiro de Nanuque. 

No relatório de 5 folhas, encaminhado para a Auditoria da 4ª Circunscrição judiciária Militar, o Bel. Euclides Silva Bomfim, Delegado de Polícia Federal em Governador Valadares informa que não vislumbrou nenhum propósito dos denunciados em incitar a população de Nanuque contra o Juiz e o Promotor, no caso do assassinato do pescador Adão.  

JUSTIÇA MILITAR NÃO ACATOU A DENÚNICIA   

Em 30/04/81, quando este atentado foi executado, cinco cidadãos de Nanuque, Matosinhos de CastroFilho, dono do jornal Ponto de Vista, eu e o Prof. Emílio Boudens, por puclicarem as denúncis, Antônio Pereira Louzi e Manoel Pereira Louzi, esses últimos donos do jornal Folha de Nanuaque, estavam denuciados na Auditoria da 4ª Circunscrição Judiciária Militar em Juiz de Fora por Roberto Lacerda, Juiz de direito e Juvêncio Jacinto de Oliveira Filho, Promotor de Justiça ambos da Comarca de Nanuque/MG, como como incursos na Lei de Segurança Nacional, por delito de opinião, ao denunciarmos nos jornais da cidade o assassinato de humilde pescador Adão que deixou na orfandade sete filhos menores, por Chicão, capataz de um poderoso e temido fazendeiro. 

Todos foram ouvidos e fichados na Polícia Federal em Governador Valadares. Além dos dedos, também as mãos de todos ficaram no inquérito. Uma humilhação inominável.

Como fui denunciado como mentor intelectual, fui ouvido duas vezes, uma delas em acareação com Monoel Louzi, diretor responsável pela Folha de Nanuque.

Quando do atentado, também estavam denciados na LSN Lei de Segurança Nacional, Lula, Boris Casoi, Chico Mendes e outros.

Se o plano sinistro tivesse dado certo, certamento todos estariam presos ou desaparecidos... O Inquérito Nº14/81 foi aquivado pelo Superior Tribunal Militar em 27/05/1981 por “Não configurar o delito previsto no art. 16 do DL. Nº 898/69, o fato de alguém fazer comentários inreverentes e desairosos acerca da atuação funcional de magistrado. Questiúculas locais não ensejam o advento de cime capitulado na LSN, pela incacidade de atingir o bem jurídico nela tutelado... Em disso disso da-se provimento da Defesa, com o fim de reconhecer-se a incopetência da Justiça Militar para julgar os fatos descritos na denúncia, anulando-se, em consequência a sentença de 1º grau, negando-se o apelo do MPM” Dr. Waltamyr de Almeida Lima, Juiz-Auditor Substituto.      

ASTÚCIA Esse atentado ocorreu durante o governo de João Figueiredo. Fiz um relato minucioso do que ocorria e coloquei no envelope como destinatário Hélio Beltrão ministro para Desburocratização que atuava no Palácio do Planaalto e dentro do envelope o destinário era o general Golbery do Couto e Silva, Chefe da Casa Civil da Presidência da República,  e que era o anti-"Linha-Dura" no Regime Militar.

GRATIDÃO ao ex-presidente Jânio Quadros, de quem tenho 32 de seus “bilhetes” de seu própio punho, publicados no meu livro O TRIUNFO DAS IDEIAS e PEGADAS DA CAMINHADA. Os originais estão no Arquivo Nacional no Rio.   

Jânio, ao tomar conhecimento do episódio, pediu que entrasse em contato com José Aparecido de Oliveira (que fez a apresentação de meu livro A PROCURA DO DESTINO e veio a ser Governador do Distrito Federal e Ministro da Cultura do governo Sarney) e ele contratou no Rio um advogado especialista em Lei de Segurança Nacional para defender-me e aos demais denunciados.  

Em 30 de abril de 1981, Andréa, irmã de Aécio e neta de Tancredo Neves, foi testemunha do Atentado do Riocentro. Ela tinha ido com o namorado ao show comemorativo ao Dia do Trabalho, com a participação do compositor Chico Buarque de Holanda. Saíram de Ipanema rumo ao Pavilhão Riocentro, na Barra da Tijuca. Foi ela e o namorado que socorreram o capitão Wilson Machado. Ele estava segurando o intestino e pediu para ela ligar para um número. Ao ligar, quem atendeu disse que era do DOI-CODI... o temido Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna foi um órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão do governo brasileiro durante a ditadura que se seguiu ao golpe militar de 1964.

O ATENTADO DO RIOCENTRO foi um frustrado ataque a bomba ao Centro de Convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, na noite de 30 de abril de 1981, quando ali se realizava um espetáculo comemorativo do Dia do Trabalhador, durante o período da ditadura militar no Brasil. O atentado, perpetrado por setores do Exército Brasileiro insatisfeitos com a abertura democrática que vinha sendo feita pelo regime, ajudou a apressar a redemocratização do país, completada quatro anos depois, com a primeira eleição presidencial realizada no Brasil em vinte e quatro anos.

As bombas, levadas ao complexo num carro esportivo civil Puma GTE, seriam plantadas no pavilhão pelo sargento Guilherme Pereira do Rosário e pelo capitão Wilson Dias Machado. Com o evento já em andamento, uma das bombas explodiu prematuramente dentro do carro onde estavam os dois militares, no estacionamento do Riocentro, matando o sargento e ferindo gravemente o capitão Machado. Uma segunda explosão ocorreu a alguns quilômetros de distância, na miniestação elétrica responsável pelo fornecimento de energia do Riocentro. A bomba foi jogada por cima do muro da miniestação, mas explodiu em seu pátio e a eletricidade do pavilhão não chegou a ser interrompida. Na tentativa de encobrir o fracasso da operação, o SNI - Serviço Nacional de Informações culpou as organizações de esquerda – na época já extintas – pelo ataque. Essa hipótese já não tinha sustentação na época e anos mais tarde se comprovou, inclusive por confissão, que ele foi uma tentativa de setores mais radicais do governo (principalmente do CIEx e do SNI) de, colocando a culpa na oposição radical pela carnificina prevista a acontecer, convencer os setores mais moderados de que era necessária uma nova onda de repressão de modo a paralisar a lenta abertura política que estava em andamento.

A abertura de um Inquérito Policial Militar, porém, fracassou em estabelecer os responsáveis do regime, levando à renúncia do general Golbery do Couto e SilvaChefe da Casa Civil do governo do general João Figueiredo e um dos criadores do SNI, e ao arquivamento do caso. Novamente reaberto em 1999, após o aparecimento de novas evidências, três meses de investigação autorizadas pela procuradoria-geral da República, considerando que o ato não estava coberto pela Lei da Anistia – que anistiava crimes políticos entre 1961 e 1979 – resultaram na condenação do capitão Machado por homicídio culposo, estendida ao sargento Rosário se estivesse vivo, do indiciamento por falso testemunho e desobediência do general da reserva Newton Cruz e do coronel Freddie Perdigão, falecido dois anos antes, por comandar a operação. O caso entretanto foi arquivado no mesmo ano sem qualquer punição aos envolvidos por decisão do Superior Tribunal Militar, que se considerou sem condições de mais punir os responsáveis, já que uma decisão anterior do próprio tribunal enquadrou o caso na Lei da Anistia.

Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade apresentou um relatório preliminar sobre o atentado, afirmando que ele fez parte de uma ação articulada do Estado brasileiro.] O episódio, com seus desdobramentos, tornou-se um marco da decadência e do esgotamento do regime militar no Brasil, que daria lugar dali a quatro anos ao restabelecimento da democracia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Atentado_do_Riocentro 

 

3 comentários:

  1. Sílvio Mares, Vitória/ES:

    Theodiano
    Este episódio muito bem lembrado por você foi um dos grandes equívocos praticados por aqueles que queriam a manutencao da ditadura militar já neste momento encaminhando para o fim. Felizmente foi um fracasso.

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  2. Heitor Carvalho, BH: Obrigado pelo testemunho !
    HGC

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  3. Rubens Pontes, Capim Branco/MG: Uma contundente fase da ainda recente História brasileira que exige ser preservada.

    Parabéns, Theodiano Bastos, por não permitir que traças da memória corroam documentos dessa importância,

    sobretudo por não estarmos isentos de ameaças partindo dos que têm nos ombros estrelas que só deviam brilhar no Céu.

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