NOSSOS
DEMÔNIOS INTERIORES
Por Theodiano Bastos
Sobre esse tema escrevi o texto O PIOR INIMIGO ESTÁ DENTRO DE NÓS - O SEGUNDO EU DE TODOS NÓS publicado no blog O PERISCÓPIO: theodianobastos.blogspot.com.br
C.P.F.G. - Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola - http://cpfg.blogspot.com/
Tanto a Religião como a
Psiquiatria e a Psicanálise têm a alma como seu campo de trabalho ou de
batalha. Através dos séculos da história da igreja, os cristãos, de um modo
geral, têm interpretado os conflitos emocionais como lutas espirituais contra
“seres” vindos de fora. Os religiosos ocidentais têm medo de que a psicanálise
ao sondar as profundezas mentais do ser humano, lhes roube “o Pai dos Céus”. A
dor existencial e a experiência subjetiva dos indivíduos com perturbações
mentais são motivos de uma intensa e profunda abordagem pelos psicanalistas. O
que estes profissionais pretendem é restabelecer a harmonia psíquica, trazendo
para a consciência do portador de neurose (inclusive a eclesiástica), a origem
e o significado de suas práticas ritualísticas compulsivas.
Aos “Demônios” da
religião ocidental a ciência deu-lhes outros nomes, como esquizofrenias
auditivas e visuais, psicoses e neuroses. As possessões demoníacas ela
classificou de quadros histéricos.
O apóstolo Paulo foi um
dos primeiros escritores cristãos a expressar a dor emocional resultante de
conflitos íntimos:
“Acho então essa lei em mim, que
quando quero fazer o bem, o mal está comigo. [...] Miserável homem que eu sou,
quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7, 21 -24)
O fundador do
cristianismo percebia, dentro de si, essa guerra mental interna e imaginária
entre as forças divinas e diabólicas, daí ele ter escrito na sua carta aos
Efésios (6 , 12):
“Pois não temos de lutar contra a carne e o sangue
[...], [...] mas contra as forças espirituais nas ‘regiões celestiais’”. (Essas
regiões, Freud traduziu como “o inconsciente”).
Com relação ao demônio
como força maléfica, no século V, Santo Agostinho insistia que o mal não vinha
de fora, era a vontade do homem que o provocava.
Foi o herege Freud
quem ressaltou alguns aspectos do que sobrenaturalmente se denomina “demônio”.
Numa tentativa de explicar esse fenômeno, ele realizou uma emblemática
abordagem psicanalítica no seu livro, “Neuroses Demoníacas do século XVII”
(1923). Vejamos o que ele diz na introdução da sua significativa obra:
“Os
estados de possessão correspondem às nossas neuroses, para cuja
explicação mais uma vez recorremos aos poderes psíquicos. A nossos olhos,
os demônios são desejos maus e repreensíveis, derivados de impulsos instintuais
que foram repudiados e reprimidos. Nós simplesmente eliminamos a projeção dessas
entidades mentais para o mundo externo, projeção esta que a Idade Média fazia;
em vez disso, encaramo-las como tendo surgido na vida interna do paciente, onde
têm sua morada”.
Freud
considerava que essa questão “sobrenatural” entre “deuses e
demônios” era um resultado da ambivalência do filho para com o seu pai: o filho
anseia pelo seu genitor, assim como tem medo de desafiá-lo. O pai da
psicanálise entendia que as representações mentais do demônio maligno,
constituíam-se exatamente a antítese de Deus, e que a “entidade oposta” estava
muito perto do Divino, em sua natureza.
Uma coisa não se pode
negar: é a de que a guerra entre deuses e demônios vem se travando nas mentes
dos religiosos fundamentalistas desde épocas remotas. Com a descoberta do
inconsciente ficou claro que esses “deuses e demônios” que os antigos
percebiam, nada mais são que produtos da psique humana, traduzidos por eles
como forças externas personificadas do mal e do bem. A figura do capeta, diabo
ou demônio, ainda hoje, entre os fundamentalistas, é traduzida como potestades
do ar que invadem a mente humana para guerrear contra os deuses imaginários. É
nesse grande palco mental que o apóstolo Paulo denominou de “lugares
celestiais”, que se trava a imaginária luta entre as forças divinas e
diabólicas.
Nas narrativas das
Escrituras Sagradas os deuses se transformavam em demônios maus quando novos
deuses os expulsavam. Quando determinado povo era conquistado por outro, seus
deuses caídos, não raramente, se transformavam em demônios aos olhos dos
conquistadores. Diz a História que nas épocas primitivas da religião, o próprio
Deus possuía todos os aspectos terrificantes que mais tarde se combinariam para
formar uma contraparte Dele.
A
psicanálise tornou-se a arquiinimiga da religião, ao desvendar que é do
porão obscuro (inconsciente) do sectário, que se projetam os impulsos
inaceitáveis de sua vida pregressa sob a forma simbólica de demônios. Sendo
assim, a “religião” parece funcionar como um sistema repressivo que
aparentemente protege o indivíduo das ameaças de suas pulsões instintivas e
agressivas, à custa do sacrifício do prazer. Pelo fato do inconsciente ser
percebido como algo além da vontade consciente, é que os antigos atribuíam ao
mundo sobrenatural do além, a origem dos seus “demônios e anjos internos”.
“É do céu do nosso inconsciente que expulsamos
‘anjos caídos’ todos os dias” (Levi) Por
Levi B. Santos
rubens silva pontes
ResponderExcluirBravíssimo, amigo.
Excelente abordagem de um tema tão instigante.
Abraço, com admiração, do
Rubens