MANIFESTO DO RIO NEGRO, por
Theodiano Bastos
Do
naturalismo Integral
Com muito prazer e honra recebemos do Sr.
Frans Krajcberg todo o relato de sua excursão
pelo Rio Negro, (em 1978), em
companhia de Pierre Restany (critico de arte em Paris) e Sepp Baenderek
nascido na Iugoslávia e
naturalizado brasileiro, como o e o Sr. Krajcberg, nascido na Polônia e que reside
numa bela mansão construída pelo arquiteto Zanini na praia de Nova Viçosa/BA.
Segundo o "Manifesto do Rio
Negro" divulgado, o Amazonas constitui-se hoje em dia, sobre o nosso planeta,
num "último reservatório" refúgio da natureza integral. Pregando o
naturalismo integral, os Srs. Krajcberg, escultor e naturalista, Pierre
Restany, crítico globetrotter francês e Sepp, pintor de renome internacional,
dizem que o naturalismo integral é alérgico a todo tipo de poder ou de metáfora
de poder. 0 único poder que
ele reconhece é o poder purificador
e catártico, da imaginação a serviço da sensibilidade; e jamais o poder
abusivo da sociedade. Esse naturalismo
é de ordem
individual,
pregam.
A opção
naturalista não se limita a exprimir o medo do homem frente ao perigo que a
natureza enfrenta pelo excesso de civilização industrial e urbana. Ela traduz o
advento de um estado global da percepção, a passagem individual para a consciência
planetária. Nós vivemos uma época de balanço dobrado, dizem, ao final do século
se junta o final do milênio com todas as transferências de tabus e da paranoia
coletiva que essa recorrência temporal implica a come<;ar pela transferência
do medo do ano 1000 para o ano 2000, o átomo
no lugar da peste.
Retomo as Origens
Nós vivemos, assim, uma época de balanço.
Balanço do nosso passado aberto para o futuro. Nosso primeiro Milênio deve
anunciar o Segundo. Nossa civilização judeu cristã deve preparar sua Segunda
Renascença.
A volta ao idealismo em pleno século XX
supermaterialista, a volta do interesse pela História das religiões e a tradição
do ocultismo, a procura cada vez maior por novas iconografias simbolistas:
todos esses sintomas são consequência de um processo de desmaterialização do
objeto, iniciado em 1966, e que e O fenômeno maior da hist6ria da arte
contemporânea no Ocidente.
Pregam a necessidade de se lutar contra a
pior das poluições que é a poluição dos sentidos e do cérebro.
Choque da Amazônia
Sepp: Eu tenho guardado desde a minha infância
uma grande sensibilidade para os rios.
Passei a minha juventude à beira
de três rios, o Danúbio, o Drave
e o Sava. Foi nesses rios que pintei as minhas primeiras aquarelas. Só conheci
o mar bem mais tarde, e ele se tornou para mim uma espécie de transição afetiva
para Amazônia.
A água é o mistério: e a floresta a sua
continuação: o mistério da vida e da morte.
Mistério fundamental, exaltado
pela natureza da Amazônia..
0 correr contínuo
das águas dos rios, suas alternantes subidas nas chuvas e descidas
nas secas correspondem na unidade destes
fluxos ao ciclo biológico da selva: cipós asfixiando as árvores que os
suportam, rebentos de plantas que repousam sobre a podridão dos troncos mortos,
o cultivo das roças sobre as cinzas das queimadas tornando-se pastagem.
Frans: Eu sou também sensível ao choque
causado pelos contrastes da natureza e a grandeza destas paisagens. Porém, o
que mais me choca, acima de tudo, é esta natureza como um ambiente global, que inclui as árvores
e os homens, as plantas e os animais, a agua
e o céu. A nossa visão anêmica da civilização urbana é tão débil em comparação
ao dado objetivo do Rio Negro. A Natureza aqui e geradora dum espao-tempo
global e autônomo. 0 homem e o animal são totalmente integrados no contexto
natural. 0 índio. e o caboclo vivem como plantas. Mas a sociedade aniquila o
individuo.
Pierre Restany: 0 homem de hoje realizou um
esforço imenso para se integrar na natureza urbana ao criar uma arte que corresponde
as motivações essenciais do senso moderno da natureza e da civilização consequente
da segunda revolução industrial. Por que ele não será capaz de se integrar na
imensidade global da natureza pura?
Sepp: Não
somente para que ele mesmo se renove sensualmente, mas também para preservar
esta natureza, ameaçada pelo homem da cidade num menor ou maior espaço de
tempo.
Fonte: livro
A PROCURA DO DESTINO, autor Theodiano Bastos https://www.amazon.com.br/dp/B01GCWLGFM
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