Por Reinaldo Azevedo
“Há mais de quatro meses venho cobrando aqui, sistematicamente, a
demissão de Graça Foster, presidente da Petrobras. Ainda que nenhuma suspeita
houvesse contra ela; ainda que tivesse um passado impoluto como as flores;
ainda que fosse um verdadeiro gênio da raça na área administrativa, esta
senhora deveria ter caído no começo de agosto, quando ficou evidente que tivera
acesso prévio a perguntas que lhe seriam feitas na CPI. Mais do que isso:
ficou comprovado que um grupo se reuniu no gabinete da presidência da estatal
para combinar a maneira de fraudar a legitimidade da Comissão Parlamentar de
Inquérito. Há um vídeo a respeito. É inquestionável. Trata-se de um fato
comprovado, não de uma suspeita.
De agosto a esta data, Graça tem visto minguar a sua reputação; de
agosto a esta data, o passado de Graça tem sido reescrito por fatos nada
abonadores; de agosto a esta data, a técnica com fama de competente e irascível
tem-se mostrado apenas mais um quadro do PT na Petrobras, lá instalado não com
a missão de moralizar a empresa, mas de salvar a pátria dos companheiros.
Nesta sexta, ficamos sabendo que uma executiva da Petrobras — seu
nome: Venina Velosa da Fonseca — denunciou tanto à diretoria
anterior da estatal como à atual a existência de um esquema de roubalheira na
empresa (leia posts anteriores). E o que fez a diretoria anterior? Nada! E o
que fez a atual? Nada também! De quebra, as acusações de Venina atingem, e com bastante verossimilhança, o governador da Bahia,
Jaques Wagner, candidato a ser um dos homens fortes do governo Dilma.
A presidente da República não pode assistir, inerme, à
desconstituição da Petrobras sem tomar uma medida drástica. É preciso, e com
urgência, criar uma espécie de gabinete de crise — composto, também, de
técnicos sem vinculações com a estatal — para enfrentar a turbulência.
Se o episódio da CPI não fosse grave o bastante para inviabilizar
a permanência de Graça, há o caso, escandaloso por si, da empresa holandesa SMB
Offshore. Em fevereiro, VEJA denunciou que a gigante havia pagado propina a
intermediários na Petrobras em operações de aluguel de navios. Em março, a
presidente da estatal concedeu entrevista negando quaisquer irregularidades; no
mês passado, ela as admitiu, afirmando que tinha conhecimento das falcatruas
desde meados do ano. Graça só se esqueceu de que a Petrobras é uma empresa de
economia mista e de que seus acionistas merecem satisfação. Esse seu
comportamento servirá de prova contra a empresa em ações múltiplas nos EUA
contra a estatal, que pode assumir proporções bilionárias.
Não! Graça não é a moralizadora de que a Petrobras precisa. Graça
é apenas a moralizadora de que o PT precisa. E, a esta altura, está muito claro
que os interesses do PT e da Petrobras não se misturam. Ao contrário: a cada dia fica mais claro que o que é bom para a Petrobras é ruim para
o PT e que o que é ruim para o PT é bom para a Petrobras.”
Fonte: http://veja.abril.com.br/(12/12/2014)
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