PF liga Pasadena a suspeita de lavagem e vê
‘organização criminosa’ na Petrobrás
Delegado
diz que operações da refinaria nos EUA podem ter sido usadas em um esquema de
desvios envolvendo transferências via offshore para ‘abastecimento de grupos
que atuam na estatal’
21
de maio de 2014
“Brasília - A
Polícia Federal investiga a ligação entre a compra pela Petrobrás da refinaria
de Pasadena, nos EUA, e o esquema de lavagem de dinheiro desbaratado em 17 de
março pela Operação Lava Jato, que envolve suspeitas sobre obras na refinaria
Abreu e Lima, em Pernambuco. Os investigadores citam a existência de uma
possível "organização criminosa" que estaria atuando "no
seio" da estatal de petróleo.
Os dois casos têm
um personagem em comum: o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto
Costa, que ficou no cargo entre os anos de 2004 e 2012.
A compra de
Pasadena, iniciada em 2006 com a aquisição de 50% da refinaria de uma empresa
belga, a Astra Oil, é cercada de polêmica em razão do preço pago pela
Petrobrás. Após o negócio ser fechado, a estatal brasileira indicou um
integrante para representá-la no conselho de proprietários. Esse representante
era Paulo Roberto Costa.
Após um litígio
envolvendo questões contratuais, a Petrobrás acabou desembolsando mais de US$
1,2 bilhão pela compra de 100% da refinaria. A Polícia Federal suspeita que as
operações envolvendo a unidade tenham sido usadas para pagamento de propinas e
uso de offshores para o "abastecimento de grupos" que atuavam na
estatal.
Ofício. É em um ofício
enviado em 22 de abril ao juiz federal Sérgio Fernando Moro, do Paraná,
que o delegado Caio Costa Duarte, da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros
em Brasília, cita a existência de "uma organização criminosa no seio"
da estatal, que atuaria desviando recursos, e pede o compartilhamento de provas
da Operação Lava Jato.
Segundo o ofício, o
"empréstimo" das provas e do material apreendido na Lava Jato seria
de "grande valia" para a condução do inquérito sobre Pasadena.
O documento da PF foi lido ontem na Câmara pelo líder do Solidariedade, Fernando Francischini (PR). "O delegado chefe da investigação de Pasadena pediu cópia da operação dizendo que descobriu que o ex-diretor da Petrobrás era conselheiro da refinaria e da trading na época da aquisição. E que todo o cruzamento dos dados mostra que o Paulo Roberto (Costa) estava trazendo dinheiro de fora, via offshore, via Alberto Youssef", disse o deputado. O doleiro Alberto Youssef é um dos presos da Operação Lava Jato.
Celeridade. No ofício, o delegado sustenta que o compartilhamento das provas traria economia processual e celeridade da investigação. "Em linha gerais, adentrando no mérito do procedimento persecutório, a partir da compra de uma refinaria no Estado do Texas/EUA (Pasadena), por parte da Sociedade de Economia Mista Petrobrás, possíveis valores teriam sido enviados ou mantidos no exterior sem a respectiva declaração aos órgãos competentes", diz ele.
A Lava Jato foi deflagrada em março para desarticular organizações criminosas que tinham como finalidade a lavagem de dinheiro em diversos Estados da Federação. De acordo com as informações fornecidas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), integrantes do esquema teriam movimentado até R$ 10 bilhões.
Abreu e Lima. Uma das suspeitas da PF é de que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás atuou como elo entre o doleiro e a estatal. Costa teria atuado, por exemplo, em contratos de obras da Petrobrás tocadas pelo consórcio liderado pela empreiteira Camargo Corrêa na refinaria Abreu e Lima, em construção em Pernambuco.
O ex-diretor da Petrobrás nega ter participado de ilegalidades envolvendo a estatal. Procurada na noite de ontem, a Petrobrás informou que não tinha conhecimento da nova linha de investigação da Polícia Federal.”
Fonte: http://www.estadao.com.br (22/05/14)
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