"É preciso grandeza, tolerância e ponderação para que conflitos como o que incendeia o Oriente Médio sejam resolvidos “Nada une tão fortemente como o ódio — nem o amor, nem a amizade, nem a admiração.” A frase, dita pelo escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904), tem marcado a política mundial nos últimos anos. Impulsionadas pelas redes sociais e pelo imediatismo do universo digital, qualidades como o diálogo, a reflexão, o respeito ao diferente têm sido trocadas por reações como raiva, impulsividade e impropérios destinados aos seus inimigos. Não raro, esse comportamento belicoso busca o aplauso rápido de uma claque — mas traz, claro, a consequente resposta adversa da turma do outro lado.
O sucesso efêmero, o fato de chamar atenção com
curtidas e joinhas, faz com que mais e mais pessoas se juntem a essa horrenda
dinâmica. Indivíduos que eram razoáveis no trato pessoal, doces muitas vezes, se transformam em selvagens
digitais protegidos pelo distanciamento do seu celular.
Infelizmente, esse desvario não fica restrito à
realidade virtual. Ele transborda para o mundo de verdade e traz consigo
consequências nefastas. A força do ódio tem sido utilizada por líderes políticos
em todo o planeta.
Levado ao paroxismo, esse ódio resulta naquilo que
vemos hoje no conflito entre o grupo terrorista Hamas e o governo de Israel
pela Faixa de Gaza. A repulsa entre os dois povos, palestinos e judeus, é
histórica.
No princípio, era a religião. Há muitos séculos,
trata-se apenas da vaidade de poderosos, da expansão territorial e da
manipulação orquestrada por líderes sanguinários.
A falta de humanidade por parte de quem deveria
buscar uma convergência mínima vem multiplicando o número de mortes,
exacerbando a dor de todos que perdem um ente querido, e garantindo ainda mais munição
e “combatentes” para essa eterna jihad (guerra santa). O cenário fica ainda
mais abominável ao se perceber que políticos do mundo inteiro (assim como
influencers ou apenas os imbecis, como tão bem classificou o escritor Umberto
Eco) se alinham aqui e ali, alimentando um novo antissemitismo ou reforçando a
islamofobia para se “posicionar” frente ao seu público. Lamentável. Triste. Ignóbil.
Não é com fanatismos ou condutas que lembram selvagerias futebolísticas que
conflitos dessa natureza podem ser resolvidos. É preciso grandeza, tolerância e
ponderação. Tudo o que os grandes líderes mundiais não têm demonstrado nos
últimos tempos.” Publicado em
VEJA de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867 SAIBA MAIS EM: https://veja.abril.com.br/mundo/carta-ao-leitor-o-odio-esta-entre-nos