Por THEODIANO BASTOS
Com a
capitulação do Exército, é necessário começar desde já a organizar a resistência, diz Fernando
Gabeira
"Decisão do Exército é
habeas corpus para a anarquia", diz ex-ministro Aldo Rebelo
DO VERDE AO
AMARELO
Por Fernando
Gabeira
A decisão do Exército de não punir o general
Eduardo Pazuello é dessas notícias que anunciam uma época.
Já tinha escrito que
saberíamos por ela se há luz no fim do túnel ou se nos espera uma longa escuridão.
Infelizmente, o Exército brasileiro amarelou diante da pressão de Bolsonaro. No
futuro, saberemos se amarelou por covardia ou se aderiu conscientemente a um
projeto autoritário. VEJA MAIS: https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/do-verde-ao-amarelo.html
Ao analisar a decisão do comandante do Exército, general Paulo Sérgio
Nogueira de Oliveira, de não punir o subordinado Eduardo Pazuello, Aldo
acredita que foi dada uma sinalização desastrada e perigosa para os escalões
inferiores dos quartéis das três Forças
Defesa no governo da ex-presidente Dilma
Rousseff, entre 2015 e 2016, Aldo Rebelo não acredita que Jair Bolsonaro terá
capacidade ou coragem para promover uma ruptura democrática que o favoreça.
Isso porque não acha que as Forças Armadas vão acompanhá-lo numa aventura dessa
natureza, embora enxergue a não
punição do general Eduardo Pazuello —
que participou de um ato político promovido pelo presidente da República, no
Rio de Janeiro — como algo gravíssimo.
Para Aldo, a decisão
do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, não
representa o conjunto da instituição, mas acha que foi aberta uma espécie de
caixa de pandora que permitirá ao subalterno se insurgir contra o comandante.
Mas, lembra que, nas três Forças, não há militares simpáticos apenas ao
bolsonarismo — têm aqueles que também se identificam com as pautas da esquerda,
algo que poderia agravar a anarquia na caserna.
O que a decisão de não punir o general Eduardo Pazuello mostra sobre o
Exército e a relação da instituição com o presidente Jair Bolsonaro?
É preciso separar o Exército como instituição dos seus eventuais dirigentes.
Não confundir a história das Forças Armadas com o pessoal que toma decisões
equivocadas. A decisão em relação a Pazuello tem o sentido de estimular a
indisciplina, a anarquia nas corporações militares. Essas decisões sobre
infrações disciplinares têm um duplo sentido: alcança o infrator, mas tem,
também, o alcance educativo para toda a tropa, de sinalizar o que é errado e o
que é certo. A decisão em relação ao general é a sinalização de que a
indisciplina está liberada. Foi dada uma espécie de habeas corpus para a
anarquia dentro da tropa. Um habeas corpus preventivo — essa é a gravidade da
decisão. E vai estimular um infrator contumaz, o presidente da República, que
sempre praticou a indisciplina, que foi expulso do Exército como indisciplinado.
Basta analisar a biografia de Bolsonaro sempre que tinha um gesto de
indisciplina nas Forças Armadas. É isso que ele sempre fez: levar carro de som
para as portas dos quartéis, para residência de militares para fazer agitação.
E, agora, na Presidência da República, ele acha que tem carta branca para fazer
o que quiser, para recrutar para sua atividade política cabo, sargento,
coronel, general — o que aparecer pela frente. Isso está errado, a Constituição
Federal veda. A Constituição estabelece que essas organizações militares são
regidas pelos princípios da hierarquia e da disciplina, e a esses dois
princípios estão subordinados os militares e o presidente da República. Daqui a
pouco vão aparecer os militares do PT, do PSol, do PSL, assembleia de bolsonaristas,
antibolsonaristas e a baderna pode ser completa. Acha que vai ter militar só
bolsonarista?
Os militares erraram ao embarcar de
cabeça no governo?
Eles não embarcaram de cabeça no governo. Militares da reserva é que ocupam
cargos (no governo). Os da ativa foram exceção.
O
que o senhor acredita ter levado o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira,
comandante do Exército, a não punir Pazuello?
O general Paulo Sérgio deve essa explicação. Eu o conheci, serviu no ministério
(da Defesa) quando eu era ministro e tínhamos todos a melhor impressão dele.
Mas a atitude em relação ao Pazuello não se justifica. Essa explicação ele
deve, em primeiro lugar, para a própria instituição. Uma atitude que não tem
nenhuma relação com a tradição do Exército. A disciplina nas Forças Armadas não
admite relativismo: ou seja, que um pode ser indisciplinado e o outro, não. A
disciplina vale para todos ou vale para ninguém. Se não vale para o general,
como é que vai valer para o cabo, para o soldado, para o sargento? Se o general
pode subir num carro de som e fazer uma arenga política em favor de um
político, como é o caso do presidente da República, o que é que pode impedir
que o sargento também suba num carro de som para fazer a mesma coisa? https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/06/4929385-decisao-do-exercito-e-habeas-corpus-para-a-anarquia-diz-ex-ministro-aldo-rebelo.html