Presidente chinês ordena
preparação para batalha e para o ''pior cenário''
Ao
receber oficiais do Exército de Libertação Popular, durante o Congresso
Nacional do Povo, o presidente Xi Jinping ordena preparação para a batalha e o
enfrentamento dos "piores cenários". Determinação coincide com o
aumento da tensão no território de Hong Kong
A reunião entre o presidente, Xi
Jinping, e uma delegação do Exército de Libertação Popular ocorreu, ontem,
durante o Congresso Nacional do Povo, na Praça da Paz Celestial,
coração de Pequim. Xi, 66 anos, ordenou aos militares que “pensem sobre os piores cenários, intensifiquem
o treinamento e a preparação para a batalha, enfrentem rápida e eficientemente
todo o tipo de situações complexas, e salvaguardem a soberania nacional, de modo
decisivo”. O
fortalecimento da defesa nacional foi colocado como prioridade para Xi, segundo
o qual a pandemia do novo coronavírus teve profundo impacto sobre o mundo e na
segurança e no desenvolvimento da China.
O líder — que chegou a ser comparado a Mao Tsé-tung no Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), em 2017 — não citou uma ameaça específica. No entanto, o pronunciamento de Xi coincide com a escalada de tensão com os Estados Unidos e com a apresentação de um polêmico plano de segurança nacional para Hong Kong. Pequim pretende proibir a secessão independentista, a subversão, o terrorismo e a interferência estrangeira no território. Ativistas pró-democracia veem o fim do status especial da antiga colônia britânica e do princípio constitucional “um país, dois sistemas”.
Autor de Vigil: Hong Kong on the Brink (“Vigília: Hong Kong por um fio”) e historiador da Universidade da Califórnia, Irvine, Jeff Wasserstrom afirmou ao Correio que o mais recente discurso de Xi se encaixa em um padrão. “Por muitas vezes, Xi se esforça para projetar uma imagem de uma China forte e realizadora de façanhas impressionantes, sob sua supervisão. Mesmo que o país enfrente grandes desafios e precise lidar com grandes potências que lhe foram injustas no passado e que continuam buscando miná-lo”, explicou.
De acordo com o estudioso, o crescimento
econômico da China sofreu desaceleração nos últimos anos e foi bastante
impactado pela pandemia. “Desde a ascensão de Xi ao poder, em 2013, o Partido
Comunista Chinês tem usado a economia e argumentos antinaciolistas para legitimar
o seu poder. As lideranças do Partido Comunista Chinês ressaltam a ideia de
que, somente sob a tutela de Xi, a economia da China cresceu e a nação
recuperou o seu lugar central na ordem global.
Para Fengsuo Zhuo, sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial, em 4 de junho de 1989, a meta de longo prazo do PCC envolve a dominação mundial. “Xi incorpora essa ambição do regime. A paz somente virá quando a China for democratizada”, comentou. Ele acredita que o PCC somente confia na força bruta, “como quando usaram tanques contra manifestantes pacíficos”. “Os Estados Unidos têm tirado vantagem desse discurso, mas estão despertando para os danos, esperando que não seja tarde demais para proteger os interesses americanos. Haverá mais confrontações”, disse à reportagem.
A jornalista e ativista Rose Tang, outra sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial e moradora de Hong Kong entre 1997 e 2003, teme que Xi esteja enviando uma mensagem ao movimento pró-democracia da cidade semiautônoma. “Ele deixou claro para Hong Kong: ‘Obedeçam ou serão mortos’. Nunca foi intenção do PCC permitir a democracia, o capitalismo e a liberdade no território”, desabafou ao Correio. Rose questiona qual o pior cenário temido por Xi. “Seria uma Guerra Fria? Um confronto militar? Acho que a manobra do presidente é uma indicação de que ele vê um blefe de Donald Trump. Os dois líderes se engajam em um jogo de culpabilidade sobre a origem e a disseminação da covid-19.”
Segundo a ativista, o endurecimento da retórica da Xi contrasta fortemente com o crescimento negativo da China no primeiro quadrimestre de 2020, com o encolhimento de 6,8 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB). “Sua declaração também desafia a segunda onda de pandemia da covid-19, que começou no nordeste do país. Em vez de declarar vitória sobre o novo coronavírus, Pequim adotou a diplomacia agressiva do ‘lobo combativo’. Xi se recusa a escutar o povo de Hong Kong e flexiona os músculos ante o mundo”, acrescentou Rose.
A Casa Branca informou, ontem, que o presidente
Donald Trump está “decepcionado” com os planos da China de impor uma lei de
segurança nacional em Hong Kong e vê em xeque o futuro do território como
centro financeiro do planeta. “É difícil ver como Hong Kong pode continuar
sendo um centro financeiro se a China assumir o controle”, declarou a porta-voz
Kayleigh McEnany, ao ressaltar que o aviso veio diretamente de Trump. Rodrigo Craveiro,
27/05/2020, https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2020/05/27/interna_mundo,858558/presidente-chines-ordena-preparacao-para-batalha-e-para-o-pior-cenar.shtml
Para Fengsuo Zhuo, sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial, em 4 de junho de 1989, a meta de longo prazo do PCC envolve a dominação mundial. “Xi incorpora essa ambição do regime. A paz somente virá quando a China for democratizada”, comentou. Ele acredita que o PCC somente confia na força bruta, “como quando usaram tanques contra manifestantes pacíficos”. “Os Estados Unidos têm tirado vantagem desse discurso, mas estão despertando para os danos, esperando que não seja tarde demais para proteger os interesses americanos. Haverá mais confrontações”, disse à reportagem.
A jornalista e ativista Rose Tang, outra sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial e moradora de Hong Kong entre 1997 e 2003, teme que Xi esteja enviando uma mensagem ao movimento pró-democracia da cidade semiautônoma. “Ele deixou claro para Hong Kong: ‘Obedeçam ou serão mortos’. Nunca foi intenção do PCC permitir a democracia, o capitalismo e a liberdade no território”, desabafou ao Correio. Rose questiona qual o pior cenário temido por Xi. “Seria uma Guerra Fria? Um confronto militar? Acho que a manobra do presidente é uma indicação de que ele vê um blefe de Donald Trump. Os dois líderes se engajam em um jogo de culpabilidade sobre a origem e a disseminação da covid-19.”
Segundo a ativista, o endurecimento da retórica da Xi contrasta fortemente com o crescimento negativo da China no primeiro quadrimestre de 2020, com o encolhimento de 6,8 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB). “Sua declaração também desafia a segunda onda de pandemia da covid-19, que começou no nordeste do país. Em vez de declarar vitória sobre o novo coronavírus, Pequim adotou a diplomacia agressiva do ‘lobo combativo’. Xi se recusa a escutar o povo de Hong Kong e flexiona os músculos ante o mundo”, acrescentou Rose.