Por THEODIANO BASTOS
Demolições sistemáticas de Israel transformam Gaza em
escombros, com pelo menos 70% das construções destruídas
Destruição em larga escala evidencia
mudança de estratégia militar israelense e levanta questionamentos sobre os
limites das ofensivas em zonas de conflito
O cenário é de terra arrasada. Tel al-Sultan era um
dos bairros mais vibrantes da cidade de Rafah, na Faixa de
Gaza. Suas ruas densamente povoadas abrigavam a única maternidade da
cidade e um centro de atendimento a crianças órfãs. Imagens de satélite, porém,
mostram, em 13 de julho deste ano, prédios demolidos e quarteirões inteiros
devastados, em uma "destruição planejada". A maternidade é um dos
poucos prédios que ainda estão de pé em Tel al-Sultan. No início da guerra, a
maior parte da destruição de edifícios foi causada por bombas ou estruturas
minadas. Agora, a destruição tem sido controlada e realizada por meios mecânicos,
com empresas privadas e profissionais contratados pelo Ministério da Defesa
de Israel,
segundo o jornal israelense Haaretz e a rede britânica BBC.
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Netanyahu prolongou a guerra em Gaza para se manter no poder
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De acordo com um mapeamento feito em meses recentes
por Adi Ben-Nun, diretor do Centro de Sistemas de Informação Geográfica da
Universidade Hebraica, encomendado pelo Haaretz, cerca de 160 mil construções –
cerca de 70% de todas as estruturas do enclave – sofreram danos severos (pelo
menos 25% estão totalmente destruídos), tornando-as inabitáveis.
Segundo seu mapeamento, feito com base em imagens de
satélite de Gaza usando um algoritmo para avaliar a escala da destruição, Rafah
— que abrigava cerca de 275 mil habitantes antes da guerra — teve
aproximadamente 89% de suas construções completa ou parcialmente destruídas. Os
dados mostram que, desde abril, uma média de 2 mil construções foram destruídas
em Rafah, no sul do enclave, a cada mês.
Outra análise dos danos, realizada pelos acadêmicos
Corey Scher e Jamon Van Den Hoek, também descobriu que a destruição em Gaza,
desde abril, concentrou-se mais na região de Rafah. Segundo a BBC, explosões
controladas, escavadeiras e tratores destruíram áreas inteiras. Nas últimas
semanas, o governo israelense revelou planos para construir o que chamou de
"cidade humanitária" sobre as ruínas de Rafah, sugerindo concentrar
600 mil palestinos na região, sem direito a deixar o local, que seria cercado
por militares — plano apontado pelo ex-primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert
como algo
que configuraria um "campo de concentração".
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