terça-feira, 31 de outubro de 2023

‘NARCOMILÍCIAS’ CONTROLAM 40% DO GRANDE RIO


 “A crise na segurança pública do Rio de Janeiro teve um novo capítulo na tarde de 23 de outubro, com o ataque de criminosos a 35 ônibus e um trem, todos incendiados.

A polícia atribuiu os atos a um protesto de criminosos contra a morte de um miliciano em ação da Polícia Civil naquele mesmo dia.

Segundo especialistas entrevistados pela BBC News Brasil, os acontecimentos têm relação com atividades de milícias em áreas pobres e com mudanças recentes na geografia e no comportamento do crime organizado no território fluminense.

Grupos paramilitares originalmente criados por policiais, as milícias dominam dezenas de comunidades nas zonas oeste e norte da capital, além da Baixada Fluminense e em cidades da região leste do Estado, como São Gonçalo e Itaboraí.

Em anos recentes, alguns desses grupos racharam e se associaram ao tráfico, o que mudou inclusive sua forma de agir. O ataque violento contra o transporte público – o maior de que se tem notícia no Estado – era prática comum de traficantes, não de milicianos, observam pesquisadores do setor.

 

"A milícia mudou", explica o coronel da reserva da Polícia Militar Robson Rodrigues, que foi chefe do Estado-Maior da corporação e coordenador das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e é doutor em ciências sociais e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-UERJ).

"O Comando Vermelho mudou, a milícia mudou, e um grupo começou a absorver o aprendizado e técnicas e estratégias do outro", afirma.

"Então, você vê a milícia hoje traficando, se envolvendo com operações, e o tráfico de drogas se envolvendo na exploração de serviços e explorando a população. Hoje tem uma linha que separa essas duas fronteiras, mas elas diminuíram”, prossegue o pesquisador.

Proximidade com poder favorece milícias em disputa por territórios no Rio, diz pesquisador25 outubro 2023

Um dos pontos criticados por pesquisadores foi o fim da Secretaria de Segurança (Seseg), no início de 2019, por iniciativa do então governador Wilson Witzel (PSC). A medida foi mantida por seu sucessor, o atual governador, Cláudio Castro (PL).

Por meio de sua assessoria, Castro afirmou à BBC News Brasil que atribuir ao fim da Seseg a atual crise é uma "análise rasa". Leia no fim desta reportagem a íntegra das declarações de Castro à BBC News Brasil sobre as críticas feitas por especialistas nesta reportagem.

Com base em entrevistas com especialistas, a BBC News Brasil elaborou perguntas e respostas que ajudam a explicar o novo cenário da violência no Rio.

Cerca de 4,4 milhões de pessoas vivem em território controlado pelo crime organizado no Rio, segundo o Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro.

Especialistas em segurança pública criticam a medida, que teria desmantelado políticas de planejamento e de metas e levado as polícias de volta ao passado.

Segundo eles, hoje as corporações estão isoladas e trabalham em operações com foco na "visibilidade". São, dizem, incursões espetaculosas em comunidades, por exemplo, mas que têm pouco resultado por não abalarem a estrutura do crime organizado, segundo pesquisadores da área de segurança.

“Houve muito retrocesso, ou seja, (uma volta) às muitas formas antigas que já foram adotadas anteriormente e não deram certo”, diz Rodrigues.

Ele afirma ainda que faltam investimentos na reforma do aparato policial e na eficiência das corporações.

Jacqueline Muniz, antropóloga e professora de Segurança Pública na Universidade Federal Fluminense (UFF), tem crítica semelhante.

"Ninguém faz polícia, foi todo mundo fazer operação, porque fazer operação é a única dimensão visível que o cidadão desesperado por segurança reconhece", explica ela. “É algo que dá poder, prestígio.”

2. Quais acontecimentos antecederam os ataques a ônibus na semana passada?

O ataque que resultou no incêndio de 35 ônibus e um trem em oito bairros do Rio de Janeiro na semana passada foi o ponto culminante de uma sequência de episódios especialmente violentos na cidade ao longo dos últimos 30 dias.

Em 24 de setembro, o programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu imagens de traficantes recebendo treinamento militar com fuzis em uma área de lazer no Complexo da Maré, conjunto de favelas na zona norte carioca.

Três dias depois, ladrões lançaram uma granada contra um ônibus, após assaltarem seus passageiros, na Avenida Brasil, na altura de Barros Filho, na zona norte. Três pessoas ficaram feridas.

Uma semana depois, na madrugada de 5 de outubro, quatro médicos que bebiam cerveja em um quiosque em frente ao Hotel Windsor, na Barra da Tijuca, foram atacados a tiros por desconhecidos que chegaram em um carro. Três deles morreram.

O motivo, para policiais, foi a semelhança física de uma das vítimas com um criminoso rival dos atiradores - há uma guerra de quadrilhas pelo controle da zona oeste da cidade.

Algumas horas depois, quatro suspeitos do crime foram encontrados mortos -, segundo a polícia, eles foram assassinados por ordem da cúpula da quadrilha, devido ao erro que teriam cometido.

Em 19 de outubro, quatro policiais civis e um advogado foram presos pela Polícia Federal, acusados de terem negociado com traficantes a liberação de 16 toneladas de maconha apreendidas.

A negociação, segundo a Polícia Federal, ocorreu na Cidade da Polícia, complexo de delegacias especializadas na zona norte. Imagens do caminhão carregado com a droga, escoltado por carros da Polícia Civil para ser entregue a traficantes em uma favela, foram divulgadas.

Na mesma data, agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes anunciaram ter achado, em um carro vazio na Gardênia Azul, oito das 21 armas desviadas de um arsenal do Exército, em São Paulo. Segundo policiais, o armamento provavelmente seria usado na “guerra” da zona oeste.

Câmera de segurança da Polícia Militar do Rio mostra um dos ônibus incendiados na zona oeste da cidade

Um dia depois, nova operação da PF apontou que três policiais civis e um delegado desviaram parte de uma carga de cocaína apreendida. Os quatro foram afastados de suas funções pela Justiça, que também ordenou que usem tornozeleiras.

A morte, em ação policial, de Matheus da Silva Rezende, de 24 anos, conhecido como Faustão e sobrinho de Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, chefe de uma das milícias em luta pela zona oeste, desencadeou o ataque aos meios de transporte, segundo a polícia do Rio...”

SAIBA MAIS EM: 'Narcomilícias': 8 perguntas para entender agravamento da crise de segurança no Rio - BBC News Brasil

3 comentários:

  1. LOURENÇO BARBOSA: Com isso, mostrar a falência da estado do rio de janeiro. Entre conchavos, o jeitinho brasileiro e os acordos politico De quem passou pelo comando do estado e deixou essa triste situação polÍtca administrativa do estado do rio

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    1. Tem tentáculos no Espírito Santo, onde exporta cocaína nos cascos dos navios

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  2. Carlos Magno: Terra de ninguém, coisa crônica

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