Há mais de 15 anos, o Brasil passou a ser considerado autossuficiente em petróleo, o que significa dizer que a produção do recurso supera o consumo. Por dia, o país fabrica 3 milhões de barris, mas compra do exterior 170 mil barris por dia em derivados do petróleo. Por que ainda importamos?
Em 10 meses a Petrobras aumentou os combustíveis 11 vezes. Gasolina no Brasil está entre as mais caras da América do Sul. Brasileiros pagam menos pelo litro do combustível apenas do que os motoristas do Chile e do Uruguai, afirma GlobalPetrolPrices
Em um
posto da Argentina, o litro da gasolina custa o equivalente a R$
3,10, segundo o G1.
Em
Porto Iguaçu, na Argentina, 90% do movimento é de brasileiros. Na Bolívia, o
preço da gasolina equivalente ao Real é de R$ 3,00 e na Colômbia, R$ 3,39.
Brasil vende litro de gasolina para a Bolívia por R$ 1,59;
entenda os motivos. De acordo com a Petrobras, o preço para a empresa
boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPBF) acontece devido à
tributação que a gasolina enfrenta até a chegar nos postos brasileiros.
Gasolina no Brasil está entre as mais caras da América do Sul
Brasileiros
pagam menos pelo litro do combustível apenas do que os motoristas do Chile e do
Uruguai, afirma GlobalPetrolPrices
De
acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP), a gasolina custa mais de R$ 7 reais em 13 estados brasileiros,
e o valor médio do litro no país é de R$ 6,56. Há
mais de 15 anos, o Brasil passou a ser
considerado autossuficiente em petróleo, o que significa dizer
que a produção do recurso supera o consumo. Por dia, o país fabrica 3 milhões
de barris, mas compra do exterior 170 mil barris por dia em derivados
do petróleo.
Brasileiros
pagam menos pelo litro do combustível apenas do que os motoristas do Chile e do
Uruguai, afirma GlobalPetrolPrices
Por que o Brasil
importa combustíveis se é autossuficiente em petróleo?
Por: Hygino Vasconcellos
Há mais de 15 anos, o Brasil
passou a ser considerado autossuficiente em petróleo, o que significa dizer que
a produção do recurso supera o consumo. Por dia, o país fabrica 3 milhões de
barris, mas compra do exterior 170 mil barris por dia em derivados do petróleo.
Por que ainda importamos? A resposta está relacionada às características do
produto extraído no Brasil, à estrutura de refinarias no país e outros aspectos
técnicos, segundo especialistas ouvidos por UOL. Veja as explicações abaixo.
Petróleo brasileiro é difícil de refinar Boa parte das refinarias brasileiras
foi construída na década de 1970, quando o petróleo era importado. Porém, o
produto importado era do tipo leve. Com a descoberta e a extração de petróleo
na Bacia de Campos, também nessa época, as refinarias precisaram passar por um
processo de adaptação para refinar o produto brasileiro, mais pesado. Com o
pré-sal (extração em águas profundas), o petróleo leve também começou a ser
obtido no Brasil, com maior valor agregado e com características diferentes.
Sem maquinário específico nas refinarias para esse tipo de combustível, ele
passou a ser exportado, segundo o especialista em regulação de petróleo e
biocombustível da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Krongnon Regueira.
Diariamente, mais de 1 milhão de barris são enviados para o exterior. "Ao
produzir petróleo leve e colocá-lo em uma refinaria que foi projetada para
processar petróleo pesado, você está desperdiçando recursos, não otimizando. Eu
sempre gosto de dar esse exemplo. É como pegar um vinho nobre e transformar em
sagu [sobremesa com mandioca e vinho]. Você estaria desperdiçando, porque o
sagu deveria ser feito com vinho barato", afirma. Em busca da mistura
perfeita de derivados de petróleo O país acaba importando derivados do petróleo
para compor o blend, como é chamada a mistura do petróleo brasileiro com outros
tipos e que possibilita o refino, explica a professora e assessora estratégica
da FGV Energia, Fernanda Delgado. "A gente importa quantidade pequena do
mercado internacional porque existem qualidades físico-químicos diferentes de
petróleo. Importamos para compor o blend, uma mistura, que atende ao nosso
parque de refino." A importação de componentes do petróleo não ocorre
apenas no Brasil, declara a diretora do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e
Gás), Valéria Lima. "Mesmo outros países que são exportadores também
importam alguns tipos para compor melhor a mistura ao parque de refino, como os
Estados Unidos e a Arábia Saudita." Importação e dólar influenciam preços
A importação de derivados de petróleo também influencia no preço dos
combustíveis. Para atender a demanda por diesel, por exemplo, é preciso trazer
importar. Mas não só isso afeta o valor cobrado nas bombas dos postos. O preço
do barril do petróleo e a cotação do dólar são os dois principais itens que
fazem oscilar os valores. O preço do barril está próximo aos valores de
dezembro de 2019, antes do início da pandemia, em dois mercados diferentes de
petróleo (o norteamericano e o britânico). Por outro lado, o dólar não seguiu a
mesma tendência. Em dezembro de 2019 estava na casa dos R$ 4 e nesta semana
passou de R$ 5,65. Porém, o barril é negociado em dólar, o que impacta os
preços. Controle artificial dos preços Para conter a inflação e disparada de
valores nas bombas, outros governos estabeleceram controle artificial de preços
no petróleo. Foi o caso do governo de Dilma Rousseff (PT), lembra o técnico da
ANP. "Isso causou um rombo nas contas da Petrobras. O governo de Michel
Temer acabou com controle de preços, e hoje o petróleo tem valor livre,
alinhado ao mercado internacional. Quando sobe lá fora, sobe aqui também",
afirma Regueira. Como a Petrobras é uma empresa de capital aberto, o controle
artificial de preços acaba espantando investidores e faz com que a empresa perca
valor de mercado, entende o professor do Insper Alexandre Chaia. "A
Petrobras tem dinheiro de investidores, inclusive de outros países. Isso
[controle de preços] é uma coisa que não pode acontecer, uma intervenção
política." Refinarias são mal distribuídas As refinarias existentes no
país estão concentradas na porção leste do país (para o lado do litoral) -das
16 unidades da Petrobras, não há nenhuma no Centro-Oeste e apenas uma em
Manaus. Em alguns lugares do país, importar combustível pode ser mais vantajoso,
mesmo com o dólar alto. "No Nordeste e no Norte, é mais barato importar de
outros países próximos do que produzir em uma refinaria nacional",
exemplifica o economista e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro) Edmar de Almeida. Mas ter uma refinaria próxima não significa preço
baixo. Quem mora no Acre recebe combustíveis vindos da refinaria em Manaus.
Porém, para compor a gasolina é necessário adicionar 27% de etanol, produzido
em São Paulo. Nessa conta, acaba entrando o preço do frete do combustível do
sudeste até o norte do país, que acaba refletindo no valor cobrado no posto de
combustíveis. Não há qualquer dificuldade para refino, diz Petrobras Em nota, a
Petrobras informou que atualmente 94% do petróleo refinado nas refinarias da empresa
tem origem nacional. Veja a nota na íntegra: "Com relação a matéria 'Por
que o Brasil importa combustíveis se é autossuficiente em petróleo?', publicado
neste sábado (17/4) pelo portal UOL, a Petrobras esclarece que atualmente 94%
do petróleo refinado nas refinarias da Petrobras tem origem nacional. Cabe
destacar que a produção do pré-sal já corresponde a 68% do petróleo produzido
no país. Não há qualquer dificuldade para refino do petróleo do pré-sal no
Brasil. Vale destacar ainda que processar mais petróleo não significa
necessariamente obter o melhor resultado econômico. A utilização das nossas
refinarias depende, dentre outros fatores, das cotações de preços de petróleo e
derivados, da disponibilidade das unidades de processo e do volume de combustíveis
a ser entregue aos nossos clientes. A Petrobras busca sempre o cenário de
utilização de seus ativos que garanta a rentabilidade mais adequada para a
companhia. A companhia mantém investimentos no segmento de Refino, com valores
que chegam a US$ 3,7 bilhões, de acordo com o Plano Estratégico 2021- 2025. E,
dentro dos seus planos nesta área, anunciou recentemente a intenção de
disponibilizar ao mercado brasileiro uma nova geração de combustíveis. Batizado
de Biorefino 2030, o projeto prevê a produção comercial de combustíveis mais
modernos e sustentáveis, como o diesel renovável e o bioquerosene de aviação.
Mesmo após a venda das oito refinarias, a Petrobras permanecerá com
aproximadamente metade da capacidade de refino do país e investirá em tecnologias
para tornar suas unidades duplamente resilientes, tanto do ponto de vista
ambiental quanto econômico."
Fonte original: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/04/17/por-que-o-brasilimporta-combustiveis-se-e-autossuficiente-em-petroleo.htm