JOANA D’ARC, CURRÍCULO
INCONSISTENTE
Conhecida por ter saído da pobreza e chegado à
universidade mais conceituada do mundo, Joana D´Arc tem várias
inconsistências em seu currículo
Felipe Resk e Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo,
14 de maio de 2019
|
Cheguei a
publicar neste blog o texto; TABATA AMARAL E JOANA D’ARC, EXEMPLOS
DE VIDA, mas vejam a reportagem de O ESTADO DE SÃO PAULO que segue:
“Conhecida por uma história de
superação que deve virar filme, a professora de ensino técnico Joana D’Arc
Félix de Sousa, de 55 anos, declara uma formação na Universidade Harvard
que ela não possui e usou um diploma
falso na tentativa de confirmar a informação. Joana também repetidamente
dizia em entrevistas e palestras que entrou na faculdade aos 14 anos, o que ela
agora reconhece não ser verdade.
A professora ganhou notoriedade por ser de família pobre, nascida em um
curtume no interior de São Paulo, e chegar a um pós-doutorado em uma das mais
conceituadas universidades do mundo. Nos últimos anos, recebeu dezenas de
prêmios e, no mês passado, a Globo Filmes divulgou a preparação de um filme
sobre a sua biografia, que teria a
atriz Taís Araujo como protagonista.
O Estado entrevistou Joana pela primeira vez no fim de 2017. Na
oportunidade, ela afirmou ter morado por dois anos em Cambridge, onde fica
Harvard, e voltou ao Brasil após a morte do pai.
A reportagem pediu documentos que
demonstrassem o trabalho que havia sido feito nos Estados Unidos. Ela enviou um
diploma, datado de 1999, com o brasão de Harvard, o nome dela e titulação de
“Postdoctoral in Organic Chemistry”. O Estado
mandou o documento para Harvard que, ao analisá-lo, informou que não emite
diploma para pós-doutorado. Também alertou sobre um erro de grafia (estava
escrito "oof", em vez de "of").
Há, ainda, duas assinaturas no
diploma: uma delas é do professor emérito de Química em Harvard Richard Hadley
Holm. Procurado, ele respondeu por e-mail: “O certificado é falso. Essa não é a
minha assinatura, eu não era o chefe de departamento naquela época. Eu nunca
ouvi falar da professora Sousa”.
Ao analisar o documento, Harvard informou que não
emite diploma para pós-doutorado
A informação do pós-doutorado em
Harvard consta no currículo de Joana na plataforma
Lattes, o sistema oficial que reúne informações de pesquisadores de todo
o País. O preenchimento é feito pelo próprio profissional. Para realizar a
suposta pesquisa nos Estados
Unidos, o currículo informa que ela recebeu bolsa da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes),
órgão do Ministério da Educação (MEC). A Capes, no entanto, afirmou que
o nome de Joana não consta em nenhum registro de bolsista.
Já em sua ficha cadastral como
professora do Centro Paula Souza, autarquia do governo que administra as
escolas técnicas, o pós doutoramento não é citado. Joana fez concurso público e trabalha como
professora de Química na Escola Técnica Professor Carmelino Corrêa Júnior em
Franca, desde 1999. Segundo seu currículo Lattes, ela teria acabado de sair de
Harvard (1997-1999).
O Estado entrevistou Joana novamente esta semana. Só depois de ser
questionada sobre o diploma que enviou à reportagem, ela disse que o documento
foi feito para uma “encenação de teatro”. “Mas eu não concluí (o
pós-doutorado), eu não tenho certificado”, afirmou. "As meninas
mandaram junto quando o jornalista me pediu documentos. Eu pensei: tenho que
contar isso para o jornalista, mas não falei mais com ele.”
Ao contrário da primeira
entrevista, ela também informou que não trabalhou no laboratório da
universidade nem morou na cidade de Cambridge. “Não fiquei o tempo físico lá,
conversei com orientador. Participei até de um congresso em Boston”, conta.
Segundo ela, a pesquisa foi desenvolvida no Brasil. “Coloquei isso no Lattes,
não sei se está certo ou errado.”
O Estado não conseguiu confirmar qualquer passagem de Joana por
Harvard. A pedido da reportagem, dois ex-alunos procuraram o nome dela em um
sistema fechado apenas para quem estudou na instituição e não encontraram,
mesmo tentando com diferentes grafias. A professora também disse que não
lembrava se havia recebido uma bolsa da Capes, como informa seu currículo.
Segundo cientistas, em um pós-doutorado,
o pesquisador é convidado para fazer parte de um programa pré-estabelecido de
um profissional que está no topo na carreira em uma universidade, no Brasil ou
no exterior. O pós doutorando faz suas pesquisa no ambiente de trabalho desse
outro professor, que atua como um supervisor. Ao fim da pesquisa, em geral, é
publicado um artigo sobre a pesquisa. Também é obrigatório enviar relatórios
periódicos ao órgão financiador da bolsa de pesquisa para prestar contas. A
comunicação ou colaboração com pesquisadores de fora, em hipótese alguma, podem
ser consideradas um pós-doutorado.
Joana, de fato, cursou graduação, mestrado e doutorado na área de
Química na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Suas pesquisas envolvem
produção de couro ecológico e a reprodução de pele humana artificial para
transplante. A maior parte de prêmios, palestras ou entrevistas, entretanto,
focam na história de vida da professora.
Uma das passagens de destaque, informada em várias ocasiões, é que Joana
entrou na universidade aos 14 anos e concluiu a graduação aos 17. Na primeira
entrevista ao Estado, ela chegou
a relatar dificuldades de entrar na faculdade tão nova. “A mais próxima da
minha idade era uma menina de 16 anos. Pra mim, festa era com bolo e guaraná”,
disse.
A data de matrícula na Unicamp,
porém, contraria a narrativa da professora e mostra que Joana começou a
graduação aos 19 anos, em 1983. Novamente questionada, ela admitiu que
ingressou aos 18, mas sustenta que foi aprovada no vestibular com 14 anos.
No mês passado, a professora foi escolhida como entrevistada do programa
Roda Viva, da TV Cultura, mas a emissora decidiu não veicular o programa por
causa das inconsistências no currículo de Joana. “
É uma pena, a história dela já seria bonita
suficiente se não tivesse essas coisas”, diz o jornalista e apresentador
Ricardo Lessa.
Revista Veja: ‘Eu não menti’, diz Joana D’Arc Félix após revelação sobre diploma
'A gente se empolga e acaba falando demais', afirma a química, que agora conta uma história bastante diferente da que relatou até então
Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que a universidade negou ter emitido certificados que comprovem a formação e alertou para um erro de grafia no papel: estava escrito “oof” em vez de “of”. No suposto diploma, há duas assinaturas. Uma delas é do professor emérito de química em Harvard Richard Hadley Holm, que, procurado por e-mail, teria dito: “O certificado é falso. Essa não é a minha assinatura, eu não era o chefe de departamento naquela época. Eu nunca ouvi falar da professora Sousa”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário