Presidente "Justiceiro" disse que as
drogas devem ser paradas "a qualquer custo"
Um dos principais advogados de direitos humanos do
país, José Manuel Diokno, advertiu na semana passada que Duterte tinha
"gerado uma explosão nuclear de violência que está fora de controle e está
criando uma nação sem juízes"
Filipinas, reino do terror: política
antidrogas já levou à execução quase 10.000 pessoas
Projeto de reinserção de usuários virou uma estratégia
para "eliminar" dependentes e traficantes
O
problema com o presidente Rodrigo Duterte
é que ele é um político que cumpre o que promete. Prometeu aos filipinos acabar
com a droga custe o que custar. E votaram nele com entusiasmo. Agora Duterte,
que conhece as leis porque foi promotor, está cumprindo sua palavra por meio de
execuções extrajudiciais. Semeou o terror entre os pobres viciados em shabu , a metanfetamina
local, a droga mais popular. Eles são a presa.
Na noite de sua posse, há um ano, detalhou durante o jantar oficial a
principal promessa de seu programa . Como sempre, falou como um valentão:
“Esses filhos da puta estão destruindo nossos filhos. Faço um alerta para não
mexerem com nisso, mesmo que sejam policiais, porque, estou falando sério, vou
matar todos… Se conhecer algum viciado, mate-o você mesmo, porque seria muito
doloroso pedir para seus pais fazerem isso… Os que continuam usando drogas já
foram alertados durante a campanha. Aconteça o que acontecer, aviso: sem
remorsos. Falei para pararem. Se acontecer algo [aos viciados], eles
procuraram”.
Imediatamente,
os assassinatos de consumidores e traficantes de drogas
dispararam. Morrem como moscas. Morrem nas mãos da polícia ou de vizinhos
mascarados ou de gangues rivais. Desde aquele discurso impiedoso, foram
assassinadas 9.432 pessoas. Parece
mais um extermínio de viciados que uma guerra contra as drogas. Para a
poderosa Igreja católica das Filipinas é “um reino do terror”; para o Human Rights
Watch (HRW), “uma campanha de execuções extrajudiciais” instigada por
Duterte, que garante total impunidade aos policiais.
"Esses
desgraçados estão destruindo nossos filhos. Se você conhecer algum viciado,
mate-o você mesmo!", disse Duterte
Os assassinatos seguem um padrão.
As autoridades telefonam ao usuário para que entre na reabilitação, como já
fizeram 1,3 milhão de pessoas. Se não obedecer, policiais à paisana vão à sua
casa. A operação para prendê-lo acaba quase sempre com o suspeito morto a tiros
da polícia (97%, segundo a Reuters) e com uma explicação oficial que se resume
em duas palavras: legítima defesa. E junto ao cadáver, quase sempre dois
elementos: um revólver calibre 38 e um pacotinho de cristais de shabu .
O caso de Napoleón Mirás, 27 anos, é típico.
Condutor de triciclo, costumava levar a namorada para lá e para cá. Ela era a
mula, mas ele estava viciado e às vezes traficava. Quando a polícia chegou a
sua casa, tentou esconder-se, foi seu pai que o convenceu a se entregar. Os
policiais o levaram para a rua, depois mudaram de ideia e subiram com ele para
o segundo andar enquanto seus familiares ficavam embaixo ajoelhados com as mãos
na nuca. Soaram oito disparos. Napoleón estava morto. Ao lado do corpo, um
revólver 38 com um cartucho usado e quatro gramas de shabu , segundo a
reconstrução documentada pelo HRW em seu relatório Licença para Matar .
Segundo o atestado, Napoleón morreu “em uma troca de tiros depois de iniciar o
tiroteio contra as operações”. No entanto, um vizinho contou ao HRW que viu de
sua janela Napoleón de joelhos com os braços para cima quando atiraram nele. A
família afirma que não tinha armas.
Um
alto comandante da inteligência aposentado e crítico de Duterte, de 72 anos,
revelou a Reuters as entranhas da cruzada: cada policial recebe 10.000 pesos
(cerca de 650 reais) para matar viciados, mas também estupradores, bêbados,
ladrões… Frequentemente é uma tarefa que fica para os policiais novatos. Uns o
fazem pela experiência de matar; outros, por encomenda, o batismo de fogo.
Apesar de haver diminuído, o apoio popular ao
presidente ainda é enorme (76%). A guerra contra as drogas está obstruindo o
resto de uma agenda de governo que atraiu o voto da crescente classe média: da
reforma tributária à redução da desigualdade, ou um ambicioso plano de
infraestrutura, ou a melhora dos sistemas de educação e saúde , com ênfase na mulher e
no acesso aos anticoncepcionais.
Apesar
de haver diminuído, o apoio popular ao presidente ainda é enorme (76%). A
guerra as drogas está deixando de lado a agenda do governo
Entre os pobres o apoio caiu 11
pontos. “Não é surpresa, o alvo da campanha antidroga costumam ser os pobres
que ganham a vida nas ruas e consomem ou traficam”, diz Rubén Carranza, jurista do Centro
Internacional de Justiça Transicional que trabalhou na comissão estatal de
drogas das Filipinas. “A guerra de Duterte nunca foi contra os grandes
traficantes nem contra os fornecedores dos químicos importados da China que são
usados para fabricar as drogas ilegais”.
O analista acrescenta: “Tanto sua vitória
eleitoral como sua contínua popularidade se explicam pelo mesmo motivo: a
mentira de que o uso e o tráfico de drogas são tão altos que a única resposta
são os assassinatos sob o amparo do Estado”. Com 100 milhões de habitantes, as Filipinas têm 1,8 milhão
de usuários de drogas, segundo dados oficiais, mas Duterte afirma que são 4
milhões.
Duterte respondeu a todas as críticas com
ameaças. À ONU ,
a ONGs, à União Europeia e à Corte Penal Internacional. Os Estados Unidos
suspenderam, com Barack
Obama , o envio de armas à polícia.
Sem
dúvida, Duterte sabia que receberia críticas. Mas provavelmente jamais sonhou
que seria parabenizado por um presidente dos Estados Unidos. Donald Trump telefonou
para ele em 29 de abril. Foi direto: “Só queria parabenizá-lo porque me chegam
notícias sobre seu incrível trabalho com o problema das drogas (…). É um
problema que muitos países têm, nós temos esse problema”, disse-lhe, segundo a transcrição
divulgada pelo The Intercept
e pelo portal de notícias local Rappler .
“Obrigado, senhor presidente”, respondeu Duterte. “É o flagelo de meu país e
preciso fazer algo para preservar a nação filipina”. Trump o convidou a fazer
uma visita oficial aos Estados Unidos. Até aquele momento, os elogios mais
explícitos aos métodos de Duterte haviam partido de autoridades chinesas.
Os filipinos elegiam um velho conhecido
quando deram a Duterte 39% dos votos em maio de 2016. Foi prefeito da cidade de
Davao por duas décadas, e apesar de ter deixado uma imagem de gestor eficaz,
seu mandato foi marcado pelo populismo e pelos insultos – Obama cancelou uma
reunião bilateral quando Duterte
o chamou de “filho da puta” em público – e por uma campanha de execuções
extrajudiciais na cidade (a estimativa é de 1.000 assassinatos) que foi a
medula de seu programa eleitoral à presidência. Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/
Boa noite
ResponderExcluirAmigo!
Um texto muito forte!
Abraços cordiais,Diz Lélia Fernandes, por -email