"Temer poderia negociar eleições
antecipadas"
Prioridade de Temer deveria ser
pacificar o país, segundo o ex-senador Pedro Simon
Mas devemos lembrar que o presidente Temer conseguiu construir a maior e mais coesa
base política da história recente, sem recorrer sistematicamente ao desbragado
fisiologismo que caracterizou os governos petistas, o atual
presidente tem apoio de 88% do Congresso.
Por Márcio
Juliboni
Uma das vozes mais respeitadas no Senado entre 1991 e 2015, Pedro Simon
avalia que os chefes dos três poderes são culpados pela atual crise
política que exaspera o país.
Por isso, acredita que apenas um grande acordo entre as principais forças
conseguiria pacificar o cenário. A iniciativa teria de partir do presidente
Michel Temer e nada deveria ser descartado: inclusive antecipar a eleição
de seu sucessor.
Leia os principais trechos da entrevista a O Antagonista:
O Antagonista: Vivemos uma crise
política ou uma crise institucional?
Pedro Simon: Não chega a ser
uma crise institucional, mas é mais que uma crise política. Essa briga
entre o Congresso e o Judiciário é muito ruim. Primeiro, veio a decisão
monocrática de um juiz do STF para afastar o presidente do Senado – algo
que cabe apenas ao plenário da corte. Depois, outra decisão mandando os
parlamentares reverem matérias já votadas. É, realmente, uma interferência
muito grave.
O Antagonista: O Judiciário se
defende, alegando que apenas julga aquilo que lhe é encaminhado. O STF diz
que os políticos não se entendem e a corte é chama a arbitrar...
Simon: Os recursos
parlamentares são normais, pois há sempre alguém se desentendendo no
Congresso. Mas a Justiça precisa avaliar também as intenções por trás de
cada recurso. O Judiciário não deve ser favorável a uma matéria, só porque
um parlamentar o acionou.
O Antagonista: Como o senhor avalia
a Lava Jato?
Simon: A Lava Jato está
realmente indo fundo; está mexendo em tudo. O Brasil não é mais o país da
impunidade. Pela primeira vez, há políticos de grandes partidos sendo
punidos: do PT, do PMDB, do PSDB. A Lava Jato está cumprindo muito bem seu
importante papel.
O Antagonista: Como o senhor avalia a situação de Temer?
Simon: Temer está numa
posição muito delicada. Seu maior problema foi montar um ministério com
gente comprometida com o que se investiga. Com o Itamar foi a mesma coisa.
Quando estourou o escândalo dos anões do orçamento, o chefe da Casa Civil
se demitiu...
O Antagonista: Mas a diferença é que Itamar não foi citado em uma delação
premiada...
Simon: A Lava Jato está
mexendo na política inteira. Ainda acho que o maior equívoco de Temer foi
montar um ministério com pessoas que já se sabia que poderiam dar problema.
Agora, mesmo que ele não monte um gabinete de notáveis, precisa encontrar
nomes que estejam acima disso, mesmo que sejam indicados pelos partidos.
O Antagonista: Objetivamente, o
senhor acredita que Temer chegará a 2018?
Simon: Acho que não será um
ato de violência que o tirará do poder. Mas é preciso discutir uma forma de
apaziguar o país. Essa conversa tem de ser uma iniciativa dele, com as
demais lideranças políticas. E, se ele concordar, pode-se discutir até a
antecipação das eleições.
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