Autora de impeachment nega
ser 'tucana' e diz que oposição é 'fraca'
A advogada Janaína Paschoal fala na terceira
reunião da comissão especial do impeachment do Senado
MARIANA
HAUBERT, DÉBORA ÁLVARES e LEANDRO COLON
Folha de São Paulo, de BRASÍLIA, 28/04/16
Folha de São Paulo, de BRASÍLIA, 28/04/16
Em uma sessão tumultuada da comissão especial do
impeachment no Senado, nesta quinta-feira (28) a professora e advogada Janaína
Paschoal, uma das autoras da denúncia contra a presidente Dilma Rousseff,
rejeitou a pecha de ser "tucana" e defendeu que o Senado analise a
denúncia original, que inclui, além das pedaladas fiscais e dos decretos
orçamentários, questões relacionadas às investigações da Lava Jato.
"Peço para que olhem para os
três pilares, porque cada um tem de sobra crime de responsabilidade e crime
comum. Espero que tenham a paz de espírito e soberania para se debruçar sobre a
denúncia inteira. Vossas Excelências têm soberania para isso", disse aos
senadores. De acordo com Janaína, a presidente tem a prática de "passar a
mão na cabeça de gente enrolada".
A advogada disse ainda, em
resposta ao relator do processo, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que o
processo é primeiramente jurídico, uma vez que, não importasse o tamanho da
crise do ponto de vista econômico e político, "não justificaria
impeachment". "Por isso pegamos um trabalho seríssimo do TCU (Tribunal
de Contas da União) e da Lava Jato", afirmou.
Segundo ela, o pedido é de
"natureza mista". "Não é porque são os motivos jurídicos que
justificam, mas porque essa Casa que faz o julgamento, também é político."
Janaína criticou o governo por
ter deslegitimado o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) quando ele aceitou a denúncia, em dezembro do ano passado, mas
ter acatado a restrição imposta pelo peemedebista ao processo quando ele
retirou do caso os trechos sobre o petrolão por considerar que não havia
indícios suficientes do envolvimento da presidente.
"Acho graça quando ouço o
governo dizendo que nosso processo é golpe porque ele foi recebido por Eduardo
Cunha. Agora estão se apegando a unhas e dentes sobre a primeira manifestação
do homem. Agora pergunto: ele tem legitimidade ou não tem?", questionou.
No início de sua fala, a advogada
foi questionada diversas vezes pelos senadores por ter falado sobre temas que
não estavam na denúncia analisada pelo Senado. O senador Ronaldo Caiado
(DEM-GO) saiu em sua defesa e disse que ela poderia falar sobre o trecho que
quisesse.
Em meio às discussões, o líder do
PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), fez menção a esse trecho não acatado por Cunha,
afirmando que isso ocorreu "por razão óbvia".
"Foi excluído porque um
tentou salvar o outro em um determinado momento. Foi por essa razão, porque não
era conveniente, nem à Dilma Rousseff, nem tampouco, ao presidente da Câmara,
aliados neste momento pelo combate à Lava Jato".
SEM
PARTIDO
Ela afirmou também que o processo
de impeachment "não tem nada de partidário" e disse ter
"mágoa" do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) porque ele
demorou para apoiar a denúncia contra a presidente Dilma. Ela negou ter
trabalhado com ele no Ministério da Justiça e diz que precisa "esclarecer
os fatos" porque tem sido acusada de "ser tucana".
"A oposição abraçou o pedido
só depois. E essa oposição do PSDB é fraca. Vejam pela minha personalidade se
eu sou fraca. Eu tenho que dar esse esclarecimento à nação porque foi a
sociedade que pagou a minha passagem", disse.
A advogada disse ainda que não
tem nenhuma vinculação partidária e citou um exemplo de quando trabalhou na
Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas) durante o governo do
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Ela contou que, ao apresentar um
projeto que havia desenvolvido nos Estados Unidos, o órgão não aceitou e ela
resolveu abandonar o caso.
"Eu fui para os Estados
Unidos estudar a relação de droga e crime, voltei, escrevi um trabalho,
sustentando relação. E a Senad não aceitou. Eles queriam que eu assinasse um
texto com o qual eu não concordava. [...] E eu digo: não me prostituo. Abandonei
o projeto", disse.
'DILMA
BAILARINA'
Durante o seu discurso, a
advogada chegou a se emocionar ao defender a Constituição. "Quero que as
criancinhas, os brasileirinhos, que eles acreditem que vale a pena lutar por
esse livro sagrado, que o PT não assinou. Por isso que eles falam em golpe.
Eles nunca reconheceram a Constituição Federal", disse.
A advogada afirmou que
reportagens sobre repasses de recursos, sob sigilo, para Cuba, Venezuela e
Angola, chamaram sua atenção e, desde então, ela começou a apurar o caso,
chegando às informações de que eles tinham relação com as investigação da Lava
Jato. "Olha que coisa estranha. O dinheiro que foi mandado para ditaduras
obscuras e pouco amigas voltaram para o petrolão", afirmou.
"Eu podia ter visto tudo isso
e ficar calada, Excelências? Eu estudei, eu entendi tudo o que estava lendo.
Tenho pavor de me omitir. Eu tinha a obrigação moral de trazer isso ao
conhecimento de vocês que são os juízes da causa. Como eu ia dormir com isso,
sabendo que está cheio de gente humildade sendo condenada?", afirmou.
Janaína também afirmou que, após
os protestos de 2013, ela teve vontade de escrever uma carta para Dilma para
que ele não ouvisse mais os marqueteiros e disse que se sensibilizou quando a
presidente contou ter tido vontade de ser bailarina. "Ela é uma mulher
firme, de alma sensível, mas a bailarina se perdeu".
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/28/04/16
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