Nem Dilma nem
Temer, para o bem do Brasil
Sinceramente não acho que Dilma, caso não sofra o afastamento, terá
condições de governar e da mesma forma não acho que Temer, caso venha a ocupar
a presidência, também tenha condições de governar.
Por isso apoio a dupla renúncia, isto é, da Dilma e do Temer para o bem
do Brasil e assim propiciar a convocação de eleições gerais e se possível, de
uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva. Aprovado o impeachment de Dilma, o vice Michel Temer deveria renunciar e caso o impeachment não não passe, Dilma e Temer deveriam renunciar, num gesto de grandeza.
Editorial da Folha de São Paulo (02/04/2016)
A presidente Dilma Rousseff (PT)
perdeu as condições de governar o país.
É com pesar que este jornal chega
a essa conclusão. Nunca é desejável interromper, ainda que por meios legais, um
mandato presidencial obtido em eleição democrática.
Depois de seu partido
protagonizar os maiores escândalos de corrupção de que se tem notícia; depois
de se reeleger à custa de clamoroso estelionato eleitoral; depois de seu
governo provocar a pior recessão da história, Dilma colhe o que merece.
Formou-se imensa maioria favorável
a seu impeachment. As maiores manifestações políticas de que se tem registro no
Brasil tomaram as ruas a exigir a remoção da presidente. Sempre oportunistas,
as forças dominantes no Congresso ocupam o vazio deixado pelo colapso do
governo.
A administração foi posta a
serviço de dois propósitos: barrar o impedimento, mediante desbragada compra de
apoio parlamentar, e proteger o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com
problemas na Justiça.
Mesmo que vença a
batalha na Câmara, o que parece cada vez mais improvável, não se vislumbra como
ela possa voltar a governar. Os fatores que levaram à falência de sua
autoridade persistirão.
Enquanto Dilma Rousseff permanecer no cargo, a nação seguirá crispada,
paralisada. É forçoso reconhecer que a presidente constitui hoje o obstáculo à
recuperação do país.
Esta Folha continuará empenhando-se em publicar um resumo equilibrado
dos fatos e um espectro plural de opiniões, mas passa a se incluir entre os que
preferem a renúncia à deposição constitucional.
Embora existam motivos para o
impedimento, até porque a legislação estabelece farta gama de opções, nenhum
deles é irrefutável. Não que faltem indícios de má conduta; falta, até agora,
comprovação cabal. Pedaladas fiscais são razão questionável numa cultura
orçamentária ainda permissiva.
Mesmo
desmoralizado, o PT tem respaldo de uma minoria expressiva; o impeachment
tenderá a deixar um rastro de ressentimento. Já a renúncia traduziria, num
gesto de desapego e realismo, a consciência da mandatária de que condições
alheias à sua vontade a impedem de se desincumbir da missão.
A mesma consciência
deveria ter Michel Temer (PMDB), que tampouco dispõe de suficiente apoio na
sociedade. Dada a gravidade excepcional desta crise, seria uma bênção que o
poder retornasse logo ao povo a fim de que ele investisse alguém da
legitimidade requerida para promover reformas estruturais e tirar o país da
estagnação.
O Tribunal Superior Eleitoral
julgará as contas da chapa eleita em 2014 e poderá cassá-la. Seja por essa
saída, seja pela renúncia dupla, a população seria convocada a participar de
nova eleição presidencial, num prazo de 90 dias.
Imprescindível, antes, que a
Câmara dos Deputados ou o Supremo Tribunal Federal afaste de vez a nefasta
figura de Eduardo Cunha –o próximo na linha de sucessão–, réu naquela corte e
que jamais poderia dirigir o Brasil nesse intervalo.
Dilma Rousseff deve renunciar já, para poupar o país do trauma do
impeachment e superar tanto o impasse que o mantém atolado como a calamidade
sem precedentes do atual governo.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ 02/04/16
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