Por Theodiano
Bastos
“Há pessoas que
conseguem se destacar das massas, elevando-se como picos de montanha,
escolhendo seu próprio caminho, enquanto a maioria se apega aos caminhos comuns,
com medo de trilhar veredas desconhecidas, diz Carl Gustav Jung em sua obra “O
Desenvolvimento da Personalidade”. Por que existem os que resolvem arriscar,
abandonando os caminhos comuns? O que os impulsiona a trilhar caminhos
desconhecidos? É a coação de acontecimentos, a necessidade premente que
consegue ativar mudança da natureza humana, responde Jung. “Mas a personalidade
jamais poderá desenvolver-se se a pessoa
não escolher seu próprio destino”. Não há vento que sopre favorável para quem
não tem rumo, diz a sabedoria popular. “Provém, enfim, da necessidade e também
da decisão consciente, pois ninguém desenvolve sua personalidade porque alguém
aconselhou, pois a natureza jamais se deixa impressionar por conselhos dados
com boa intenção. Sem haver necessidade, algo que obrigue (o destino de cada
um?), nada muda a natureza humana, ensina Jung.
BOLSONARO
FOI DERROTADO PELA REJEIÇÃO
“Para ser pátria amada, não pode ser
pátria armada” Diz Don Orlando Brandes,
arcebispo de Aparecida
Uma vantagem da candidatura de Lula, desde
seu lançamento, é o conjunto de forças que compõem a coligação Brasil da
Esperança. Além da Federação Brasil da Esperança, que reúne PT, PCdoB e PV, a
chapa conta ainda com o PSB de Alckmin, Solidariedade, Federação PSol-Rede,
Agir, Avante e Pros, com o objetivo comum de derrotar o bolsonarismo,
fortalecer a democracia e reconstruir o país.
“Lula terá de
reconciliar um país despedaçado para diminuir tensão e evitar ‘terceiro turno”
Caçula
de uma família de oito irmãos (os revolucionários sempre são os caçulas),
metalúrgico, ex-vendedor de tapioca, engraxate, retirante nordestino, que
chegou num pau-de-arara
Teve uma infância
miserável e passou até fome em Caeté, sertão de Pernambuco; viúvo aos 39 anos
quando perdeu no parto a esposa e o filho, casou-se com Maria Letícia, que foi
babá aos nove anos e operária de uma fábrica de doces aos 13, também viúva de um
motorista de táxi assassinado quando estava grávida de quatro meses, Luiz
Inácio Lula da Silva se elege Presidente da República com 52.793.364 votos,
Em
2004 reelegeu-se no segundo turno com 58.295.042, (60% dos votos), (mas o PT só
teve 18% dos votos) derrotando Geraldo Alckmin do PSDB que ficou com 37.543.178 votos.
É
um fenômeno político, queiramos ou não, um acontecimento inusitado, da maior
significação na história do povo brasileiro. Líder nato, astuto e sagaz, dotado
de esperteza intuitiva, muito inteligente, carismático/messiânico, sem
instrução formal, formado na universidade da vida, mas com grande desenvoltura,
conforme se vê nas reuniões com líderes mundiais. É um orador carbonário,
temido, porque pode incendiar o país acionando a CUT, o MST, o Movimento dos
Sem-Tetos e outros. Sem nenhuma experiência administrativa, nem como prefeito,
secretário de estado ou ministro, mas está cercado de cabeças coroadas da
intelectualidade do país, artistas, empresários e militares. Elegeu-se
presidente após sofrer quatro derrotas eleitorais: Em 1982, ficou em 4º lugar
na disputa pelo governo de São Paulo, pleito vencido por Franco Montoro, teve
uma passagem na Assembléia Constituinte e perdeu três vezes para presidente da
república: para Fernando Collor e duas derrotas para Fernando Henrique Cardoso,
sempre no primeiro turno. Nenhum outro político brasileiro disputou a
presidência por cinco vezes. Só queria ser presidente da república.
Lula
corporifica o desejo real de mudança. Visto como “herói da classe operária”, e
o “operário salvador”, elegeu-se prometendo a mudança, e no governo praticou o
continuísmo; é um neoliberal-populista. Transformou-se no porta-voz da
indignação do povo, captando os votos da insatisfação, da revolta, do
ressentimento e da insurreição. O povo clama por uma personalidade salvadora,
clama por alguém que acenda o farol da esperança, mas tem pressa, quer soluções
imediatas, quer mágica. Aí reside o grande perigo, o risco de uma decepção
geral e existe a maldição do segundo mandato. O povo parece procurar um
designado, um ungido, predestinado, iluminado, um salvador da pátria. Alguém
enviado pelo destino, que aceite trilhar caminhos diferentes, aceitando com
confiança o caminho inspirado pelo destino. O designado age como se fosse uma Lei
de Deus, da qual não é possível esquivar-se. O salvador da pátria deve obedecer
à sua própria lei, como se um demônio lhe insuflasse caminhos novos e
estranhos. “Quem tem designação escuta a voz do seu íntimo, pois está
designado”, daí a lenda que atribui a essa pessoa um demônio pessoa, que
aconselha e cujos encargos deve executar, ensina o mestre Jung, que continua
afirmando: “Designação é como uma convocação feita pela voz que provém do
interior da pessoa. Assim será e assim deve ser, o que é próprio de líderes
messiânicos. Essa voz interior lhe diz como chegar ao objetivo, faz com que ele
se sinta designado, do mesmo modo que os grupos sociais por ocasião de uma
guerra, revoluções ou outra ilusão qualquer”.
No
poder, revelou-se um líder messiânico-pragmático e neoliberal-populista. Mas
teve o bom senso de manter todo o arcabouço montado pelo governo do PSDB como o
saneamento
do sistema financeiro, as privatizações, as agências reguladoras, a Lei de
Responsabilidade Fiscal, as metas de superávit primário e de inflação, o
câmbio flutuante e a autonomia operacional do Banco Central. Com
surpreendente desenvoltura e habilidade tem exaltado o Brasil aos olhos do
mundo
“o poder é um
fardo em seu destino”. O corporativismo, o MST e a CUT e o sectarismo dos
radicais do partido, de forte viés revolucionário e até totalitário. “Sem os
exaltados não se fazem as revoluções; mas com eles, depois, é impossível
governar”, alertava Joaquim Nabuco. Atualizando a advertência do estadista
Joaquim Nabuco, podemos dizer: sem os “aloprados” não se ganham as eleições;
mas com eles, depois, é impossível governar.
É espantosa a aversão de Lula por tudo que diga respeito ao aprimoramento intelectual. Ele cultiva a ignorância e se orgulha dela. E segundo Augusto Nunes: “Um homem que não estudou nada e se considera doutor em tudo.
Governou dois
mandatos beneficiado por uma conjuntura econômica internacional favorável e
teve o bom senso de manter a política econômica herdada do governo de FHC. O
país cresceu a taxas razoáveis e com emprego, renda e crédito, o povo o
reelegeu e fez Dilma presidente. Por que essa gente não foi capaz de melhorar
sua vida?
A mensagem para o
povão é clara: “Ele era um dos nossos, não importa o
que tenha feito”.