O que as mulheres mais temem (e os homens também), é a língua de outra mulher.
As mulheres são peritas no uso da língua para agredir, mas tem homens que usam a fofoca para denegrir quem não gosta. Por Julia Myara
Lá,
lê, língua ferina, astuta afiada.
Lê a língua como se lê a palma da mão.
Como se fossem pontas dos dedos, pontas
da língua que leem a carne fendada, arrepiada, amordaçada.
Lê a língua de quem grita, lê.
As nossas línguas querem cantar, querem
gritar em fúria e festejar.
Língua finca no fundo da nuca.
Lê as palavras da luta.
Essa língua vocês só querem morder, mas
nós não vamos silenciar.
Nossa voz é grito? Vocês dizem!
Então vamos estourar seus tímpanos.
Se nossa voz é aguda, esgarçada,
esganiçada, eles dizem.
Fica tranquila, não há desgraça.
Nossos ouvindo estão e são – sempre
foram, faca afiada, sensibilizada.
Para ouvir o grito de dor, o grito da
festa, o ruido arfante e o som do cuidado, o canto ingênuo e o suar da testa.
Língua fala, língua grita, sem pudor.
Fala alto, rápido, ríspido, amoroso,
enrolado ou articulado.
Mas fala língua, grita!
Toca a ponta dos lábios, o céu da boca
queimado, os dentes extraviados.
Toca tudo, toca todos.
Fala para os ouvidos abertos e enfrenta
os fechados.
Lá,
lê, lé, fala língua de mulher. https://www.ipiacomunidade.com.br/post/l%C3%ADngua-de-mulher