por
THEODIANO BASTOS
Ameaçado de
morte, Felipe Neto diz que governo Bolsonaro é uma piada
Alvo de
acusações falsas, Felipe Neto é ameaçado por bolsonaristas na porta de casa e
se transformou no alvo preferencial de
defensores do presidente Jair Bolsonaro, de quem é crítico contumaz, e está
sendo vítima de acusações falsas e ameaças nas redes sociais. As informações
são do Jornal Nacional.
Nesta terça-feira (29), homens
acompanhados de um carro de som foram até a entrada do condomínio onde Felipe
mora para fazer insultos ao influenciador.
Um deles, que se identifica como
"Cavallieri, o guerreiro de Bolsonaro", aparece nas redes sociais
segurando um fuzil, ao lado de crianças assustadas, e ameaça o influenciador.
"É, Felipe Neto. A gente vai se encontrar em breve. Eu quero ver se tu é
macho. (...) Eu quero ver tu tirar onda comigo. Teus seguranças não me
intimidam, não, irmão, que aqui também o bonde é pesado."
Ao JN, o influenciador digital
afirmou que não imaginava que a reação ao seu posicionamento político fosse tão
forte. "Virem atrás de mim, dentro da minha casa, é um nível de
perseguição que eu não imaginei que aconteceria. É o tipo de coisa que você vê
em filme, vê em série, mas nunca imagina que realmente aconteça", disse.
"Você vê em novela. Sabe aquele
vilão de novela que você diz assim: 'não existe na vida real'. Mas existe, ele
está aí, ele acontece, e estou vendo agora na prática até onde as pessoas são
capazes de ir."
Felipe Neto ganhou fama com vídeos de
humor, muitas vezes críticas ácidas, a personagens e situações comuns aos
jovens. Nos últimos anos, passou também a falar de política, com críticas
frequentes ao PT durante o governo de Dilma Rousseff.
Desde a eleição de 2018, também tem
criticado duramente o presidente Bolsonaro, como no último dia 15, quando
apareceu no jornal americano The New York Times afirmando, em um vídeo, que se
trata do “pior líder mundial no combate à covid-19”.
A grande repercussão do vídeo
(nacional e internacionalmente) fez parte da base bolsonarista se mobilizar
para atacar o influenciador, no que seriam ações orquestradas, segundo o
próprio Felipe Neto.
Num dos ataques, os internautas
pró-Bolsonaro fazem uma montagem com a informação mentirosa de que Felipe Neto
já fez apologia à pedofilia.
Em um levantamento feito pelo próprio
influenciador, em sites de busca seu nome já aparece ligado à palavra
"pedófilo".
"Eu nunca imaginei que fosse
passar por isso. Eu nunca dei qualquer margem, ou qualquer suspeita, ou
levantei qualquer tipo de insinuação que pudesse levar qualquer pessoa a me
associar com esse crime tão perverso, tão odioso, e ver isso acontecendo. As
pessoas por não terem nada a falarem sobre mim inventam posts. Pegarem a minha
foto e montarem no photoshop posts como se eu tivesse escrito. Aquilo mostra o
quão vil é o coração dessas pessoas. O quanto elas estão dispostas a fazer o
que quer que seja", disse Neto.
"Elas são capazes de mentir, de
deturpar, de descontextualizar, de perseguir, de atacar. Eu não sei até onde
mais elas são capazes de ir pra vencer isso que eles acreditam ser uma guerra
moral, uma batalha do bem contra o mal onde eles não percebem que eles
representam o mal."
Na terça-feira (28), dezenas de
entidades como a Associação Brasileira de Imprensa, o Instituto Igarapé e o
Instituto Vladimir Herzog assinaram uma carta em defesa da liberdade de
expressão e condenaram o que chamaram de "campanha organizada e
estruturada, contendo informações comprovadamente falsas, com o intuito de
prejudicar a imagem de sua pessoa".
"Esses ataques online, eles têm
repercussão na vida real das pessoas. A difamação e essa guerrilha digital
contra alvos específicos está calando, está ameaçando a nossa democracia",
explicou Ilona Szabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé, ao JN.
'Teus seguranças
não me intimidam', diz homem em vídeo para influenciador digital
Parte
superior do formulário
Com
63 milhões de seguidores em suas redes sociais, o youtuber e influenciador
digital Felipe Neto, responde a entrevista:
O youtuber Felipe Neto. Foto:
Reprodução Youtube.
O empresário e youtuber Felipe Neto, fenômeno do universo digital, revela que sofre
frequentes ameaças de morte e vive com segurança “pesadíssima” porque tem
criticado milicianos e “gente ligada a pensamentos de extrema violência”. As
declarações foram feitas para a revista Veja, que publicou nesta
sexta (10) entrevista com o Felipe Neto, hoje com 31 anos, 32 milhões de
seguidores no Youtube, 10 milhões no Instagram e
quase 9 milhões no Twitter. Felipe Neto surgiu nas redes sociais há
quase dez anos, criticando ícones da cultura adolescente do momento, como
Justin Bieber e os filmes da saga “Crepúsculo”, e também ganhou destaque
criticando o Partido dos Trabalhadores (PT). Veja abaixo trechos da entrevista
da revista Veja.
O senhor era crítico do PT. Agora, de
Bolsonaro, virou a casaca?
É uma impressão errada, apesar de eu
compreendê-la. Viramos um país no qual a política é um Fla-Flu. Para boa
parcela, ou se está de um lado ou do outro. Só que existe uma distância enorme
de um lado para o outro. Não me encaixo nos extremos. Não sou PT. Não sou PSL.
Ambos representam radicalismos. Do lado de Bolsonaro, há uma visão
ultraconservadora.
Qual a sua posição ideológica?
Há um descrédito das pessoas em
relação a quem se mantém balanceado, no centro. Chamam de “isentão”. Tentam ver
demérito nisso, o que é um problema sério. Defendo pautas progressistas que
alguns veem como de esquerda, mas que não deveriam ser de domínio único da
esquerda. Protejo liberdades individuais, o feminismo, os direitos humanos, a
conservação do meio ambiente. No entanto, considero-me um liberal em economia.
Mas aí vou à internet, defendendo direitos humanos, e já me chamam de
comunista, o que não faz sentido. Bastaria observar os Estados Unidos. Lá a
maconha é legalizada em diversos estados e é possível fazer aborto. Vão falar
agora que os Estados Unidos são comunistas?
Por que então declarou voto em
Fernando Haddad, do PT, no Twitter?
No primeiro turno das eleições não
quis votar para presidente. Pesquisei muito, mas não encontrei alguém com quem
me identificasse. No segundo turno, fiquei em dúvida até o fim, tamanha a
ojeriza que tenho pelo PT. E isso mesmo com o Bolsonaro do outro lado. Só que
tudo mudou no dia em que o Bolsonaro disse que ia ‘varrer do mapa os
vermelhos’. Como cidadão, ainda mais sendo uma figura pública, eu não podia ser
conivente com um político que ameaça violentamente a oposição. Ainda mais em um
momento no qual eu era considerado oposição simplesmente por defender direitos
básicos. Virou questão de posicionamento em favor da sobrevivência das pessoas,
incluindo a minha e a de minha família. Não podia ser conivente com o que
estava ocorrendo no país. Por esse motivo, faltando poucos dias para as
eleições, eu disse que votaria em Haddad. Mesmo com o coração sangrando, era a
única opção permitida pela minha consciência. Mas Bolsonaro ganhou. E estou com
medo.
Medo de quê?
Temo pela minha segurança, sim, assim
como pela de minha família. Tenho criticado milicianos e gente ligada a
pensamentos de extrema violência. Sou frequentemente ameaçado de morte. Vivo
com uma segurança pesadíssima, assim como meus familiares. Agora, mais do que
isso, temo pelo Brasil.
Nas redes sociais, um dos maiores
alvos de suas críticas é o filósofo Olavo
de Carvalho, guru da direita
radical e da família Bolsonaro. Por quê?
Olavo é um pregador do obscurantismo.
Do tipo mais perigoso. Atenta contra instituições de ensino, pois diz acreditar
que a inteligência vem só dele. Repudia fatos comprovados pelo método
científico, em favor de teorias da conspiração. É contra a vacinação, não crê
no heliocentrismo, defende a tese de que o cigarro não faz mal à saúde, refuta
teorias de Einstein, sem apresentar argumentos. É uma figura que ainda acha que
vive na Guerra Fria, alimentando o medo de um comunismo que nem existe mais
apenas para se promover como herói do ultraconservadorismo cristão contra uma
inventada revolução satânica. Olavo conseguiu convencer um séquito de
indivíduos sem nenhuma importância se não estivessem onde estão: no poder.
O senhor pretende entrar formalmente
na política?
Muitos acham que faço reuniões
secretas instigando pessoas. Longe da verdade. Um dos raros pontos positivos
desde governo - além de algumas medidas econômicas - é ter unido os indivíduos
sensatos contra aqueles que amam ditaduras. Tanto que há na oposição a
Bolsonaro pessoas de esquerda, de centro, de direita. Basta ter algum bom-senso
para entender que Bolsonaro é patético e que será lembrado no futuro como uma
piada ou como um marco horroroso. Uma prova disso é como agem os fãs de
Bolsonaro. Repare nas críticas que recebo de bolsonaristas no Twitter.
Eles não apresentam argumentos. Só são agressivos, xingam. São adultos que agem
igual aos fãs adolescentes de Justin Bieber, que me atacaram quando critiquei o
artista.
O senhor trabalha em alguma
iniciativa de cunho político?
Não. Estou fazendo um projeto, ao
qual pretendo me dedicar nos próximos anos, cujo objetivo é promover a educação
voltada para a criatividade e o controle cognitivo, atravessando todas as
disciplinas em escolas públicas. Para isso, usarei minha fama como forma de
promoção. Mas também reuni um grupo interessado. Aproximei-me de políticos que
realmente pensam em medidas positivas, como a deputada Tabata Amaral, do PDT de São Paulo.
Por que o senhor adota posições
políticas claras no Twitter, mas mantém a discrição no Youtube?
No Youtube mostro um trabalho
profissional, apresentando vídeos focados em divertir o público de jovens.
No Twitter, sou só eu, dando opiniões. Fonte:
https://congressoemfoco.uol.com.br/midia/ameacado-de-morte-felipe-neto-diz-que-governo-bolsonaro-e-uma-piada/
Sem
ordem de prisão, investigado por fake news e atos antidemocráticos anunciou em
transmissão na internet, esta madrugada, que fugiu do país jornal O GLOBO
31/07/20
“gabinete do
ódio” do Palácio do Planalto
A poucos metros do gabinete de Jair
Bolsonaro, no 3º andar do Palácio do Planalto, a sala 315 abriga o codinome
“Gabinete do Ódio” — oficialmente, Assessoria Especial. Ali opera o chefe
adjunto Filipe Martins, de 31 anos, contratado para o aconselhamento do chefe
de Estado sobre temas internacionais e hoje um dos mais influentes do grupo que
gravita em torno do presidente. Graças à sua teia de relações com blogueiros,
youtubers e editores de site prontos para o tiroteio nas redes sociais, ele
cumpre a função extra de manter viva a cruzada conservadora entre a militância
de extrema direita. Outros ocupantes da sala contribuem para coordenar as
avalanches de ataques aos inimigos da causa — trabalho investigado na CPMI das
Fake News, para a qual Martins já foi convocado. “É quase uma seita de
fanáticos”, diz um observador.
Em dez meses, Martins tocou a agenda
internacional na linha do confronto.
Graças a seu poder no Planalto,
Martins desfruta a conivência total — se não obediência — do chanceler Ernesto
Araújo. É chamado de “professor” por esse diplomata com 28 anos de carreira,
que não teria se sentado na cadeira do Barão do Rio Branco sem o aval do
assessor. “Filipe Martins é um homem de fé e dedicação sem par”, elogiou o
ministro no Twitter. Diplomado em relações internacionais pela Universidade de
Brasília há quatro anos, o “professor” só deu aulas em um curso de preparação
para o exame do Itamaraty. “Este aqui é o meu mentor”, resumiu o deputado
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a VEJA no mês passado, durante o CPAC Brasil,
conferência de ultraconservadores criada nos Estados Unidos e que alcançou o
país, por esforço de ambos.
O Twitter é a principal caixa de
reverberação dos ideais de Martins, com 176 500
seguidores. Em sua lógica
maniqueísta, de um
lado está o
establishment, a ser combatido — são todos os
que reportam e analisam fatos e os que fazem críticas, se opõem ou não dão a mínima a
seus ideais de extrema direita. Nesse pacote estão incluídos o globalismo, o
politicamente correto, o marxismo, o aquecimento climático, os direitos
humanos, a diversidade de gênero, a legalização do aborto, o feminismo, a
agenda LGBT. De outro está o ultraconservadorismo capaz de salvar o mundo
ocidental. A visão do assessor agrada a Bolsonaro e a seus filhos. “O
establishment quer transformar Jair Bolsonaro em bicho-papão, quer destruir os
olavetes jacobinos, os que falam e defendem a população”, disse no CPAC, em São
Paulo. https://blogdacidadania.com.br/2019/11/conheca-o-gabinete-do-odio-do-palacio-do-planalto/