sexta-feira, 25 de agosto de 2017

SEMI-PRESIDENCIALISMO, COMO FUNCIONA?



'O modelo político atual incentiva o pior nas pessoas', diz Barroso
Ministro do STF defende reforma profunda como saída para atrair 'os bons' à política
Como funcionaria o semi-presidencialismo?
O presidente da República seria eleito por voto direto e conservaria competências importantes, porém limitadas. O primeiro-ministro é quem seria o chefe de governo e o chefe da administração. Portanto, ele é quem tocaria o varejo da política, o dia a dia da vida do Executivo e da administração. Se o primeiro-ministro perder a sustentação política, ele pode ser destituído e substituído, sem que isso afete a estabilidade institucional, porque o garantidor da estabilidade é o presidente da República. Segue a entrevista:
por Carolina Brígido e Francisco Leali 25/08/2017  
O ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal - Ailton de Freitas / Agência O Globo
BRASÍLIA – O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), defende uma reforma profunda como a única forma de atrair “os bons” para a política. Para ele, o sistema atual incentiva o que há de pior nas pessoas. Em entrevista ao GLOBO, Barroso declarou que a aprovação de propostas isoladas por parte do Congresso não será suficiente provocar as mudanças necessárias e mudar o patamar da política brasileira. O ministro aproveitou para criticar a tendência do tribunal de rever a autorização para o cumprimento de pena depois de condenações em segunda instância, dando aos réus o direito de permanecerem em liberdade por mais tempo.
O Congresso não deverá aprovar uma reforma política completa, mas mudanças pontuais. O país precisa de uma reforma política?
O país precisa desesperadamente de uma reforma política. Se passar a cláusula de barreira e a proibição de coligações, nós já vamos ter feito alguns avanços. Mas nós não vamos mudar o patamar da política no Brasil. Ela vai continuar não representativa da sociedade e incapaz de atrair os bons, incapaz de atrair novas vocações.
O senhor considera que o Congresso está só preocupado com as eleições de 2018, em vez de uma reforma política profunda?
A característica da política é pautar-se pelas próximas eleições. Mas eu acho que era preciso aproveitar esse momento para ir além. Todas as pessoas trazem em si o bem e o mal. O processo civilizatório existe para reprimir o mal e potencializar o bem. O sistema político brasileiro faz exatamente o contrário. Portanto, é preciso que o bem, o patriotismo e o idealismo sejam capazes de derrotar a corrupção, a mediocridade e o egoísmo.
Quem dá as cartas hoje é o corrupto, o medíocre e o egoísta?
O modelo incentiva o pior nas pessoas. Basta olhar os fatos. O presidente da República em exercício (Michel Temer) foi denunciado criminalmente por corrupção passiva, um presidente anterior (Luís Inácio Lula da Silva) foi condenado criminalmente e um outro presidente anterior (Fernando Collor) teve a denúncia recebida esta semana. A colaboração premiada da Odebrecht envolveu mais de 20 partidos e muitas dezenas de políticos. A colaboração premiada da JBS envolveu mais de 20 partidos e mais de 1.500 políticos. É impossível alguém achar que esse sistema é bom!
O senhor considera que houve criminalização da política?
Uma coisa é criminalizar a política. Outra é querer politizar o crime. A venda de uma medida provisória ou pedir participação na desoneração ou num financiamento dado pelo BNDES, pedir propina, isso não é criminalização da política. Isso é crime mesmo! Não se deve criminalizar a política, nem se deve glamurizar o crime. O que é errado é errado.
O presidencialismo deveria ser atingido pela reforma política?
Eu defendo há mais de 12 anos é o semi-presidencialismo para sistema de governo, voto distrital misto para sistema eleitoral e cláusula de barreira e fidelidade partidária para o sistema partidário.
Por que seria necessário mudar o sistema de governo?
Nós precisamos atenuar o hiper-presidencialismo brasileiro. Ele é ruim, ele segue o pior padrão latino-americano e ele é uma usina de problemas e de crises. Nós até passamos um período sem crises. Mas o sistema é incapaz de evitar crises ou de absorvê-las adequadamente. Nós já vivemos o impeachment do presidente (Fernando) Collor e o impeachment da presidente Dilma (Rousseff).
Como funcionaria o semi-presidencialismo?
O presidente da República seria eleito por voto direto e conservaria competências importantes, porém limitadas. O primeiro-ministro é quem seria o chefe de governo e o chefe da administração. Portanto, ele é quem tocaria o varejo da política, o dia a dia da vida do Executivo e da administração. Se o primeiro-ministro perder a sustentação política, ele pode ser destituído e substituído, sem que isso afete a estabilidade institucional, porque o garantidor da estabilidade é o presidente da República.
Há uma tendência do STF de mudar o entendimento sobre prisões depois de condenação em segunda instância. O senhor concorda com essa revisão?
Eu não estou fazendo um juízo crítico acerca da posição de ninguém, cada um vota de acordo com o que acha que deve fazer. Agora, eu acho que permitir a execução penal depois da condenação em segundo grau foi um passo decisivo para enfrentar a corrupção e a criminalidade do colarinho branco no Brasil. Será um retrocesso fazer essa mudança. É um retrocesso em favor do pacto espúrio celebrado por parte da classe política, parte da classe empresarial e parte da burocracia estatal.
Há interesses por trás dessa mudança de entendimento?
O Supremo mudou esta orientação no ano passado, em três decisões. Nada mudou na realidade social, nem na realidade jurídica de lá para cá, para o Supremo voltar atrás. Agora, um país em que a jurisprudência vai mudando de acordo com o réu não é um estado de direito, é um estado de compadrio. Eu sou contra isso. A lógica de um juiz não pode ser a lógica amigo ou inimigo. A lógica de um juiz deve ser a lógica certo ou errado, justo ou injusto, legítimo ou ilegítimo. O Poder Judiciário não existe para perseguir os inimigos e proteger os amigos. Um juiz que faz favor transaciona com o que não lhe pertence.
A eventual mudança de posição do STF afetaria a Lava-Jato?
O risco da punição efetiva que a execução depois do segundo grau instituiu é que fez com que muitos se oferecessem para a colaboração premiada. Se nós voltarmos ao modelo em que não há risco de ninguém ser preso, nós vamos continuar a prender menino pobre com cem gramas de maconha. É muito mais fácil do que prender alguém de classe mais elevada que deu um golpe de R$ 10 milhões de desvio de dinheiro público.
O ministro Gilmar Mendes tem criticado o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a atuação do Ministério Público nas investigações da Lava-Jato. Qual a opinião do senhor?
O ministro Gilmar, como qualquer pessoa, tem todo o direito à sua opinião. Eu penso de maneira diferente. Acho que nós estamos num movimento de mudança de um paradigma de corrupção no Brasil o Ministério Público teve um papel decisivo, assim como parte da magistratura. O doutor Rodrigo Janot se insere numa tradição de procuradores da República de integridade, de dedicação à causa pública e de enfrentamento de uma elite que em grande parte se deixou corromper.
Por que o senhor acredita que o procurador-geral seja alvo de tantas críticas?
É porque ele não participa do pacto de compadrio que sempre caracterizou a classe dominante brasileira, movida pela crença de que ricos não podem ser punidos. E foi exatamente esta crença que fez com que nós criássemos um país de ricos delinquentes, de uma criminalidade de colarinho branco que não era alcançada pela Justiça. E por isso criamos um país em que para onde você olha tem corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, peculato, fraude em licitações. Este é o preço que o país paga por um pacto de cumplicidade que foi celebrado entre parte da classe política, parte da classe empresarial e parte da burocracia estatal. Aqueles que se apresentaram no cenário político como os mais quais qualificados para enfrentar esse pacto se aliaram a ele e o aprofundaram. É por isso que aqueles que hoje se dispõem a enfrentar esta aliança espúria pagam o preço de críticas muito severas.
O ministro Gilmar Mendes continua se reunindo com o presidente Michel Temer, que está denunciado, e conversando o senador Aécio Neves, que é alvo de um inquérito do qual ele é relator. Essa conduta tem reflexo na credibilidade do tribunal?
(Fica sete segundos em silêncio.) Eu não vou comentar.
O procurador-geral da República pediu a suspeição e o impedimento do ministro Gilmar Mendes para atuar em processos de empresários da Operação Ponto Final. O senhor acha que o tribunal deve analisar esse assunto?
Se e quando a presidente pautar, eu votarei de acordo com a minha consciência.
Para o senhor, o plenário deve julgar esse tema logo, ou seria melhor deixar para outro momento, depois que os ânimos esfriassem?
Não vou comentar.
Se o presidente Michel Temer chamasse o senhor depois do expediente ao Palácio do Jaburu, para um encontro fora da agenda pública, o senhor iria?
Tenho por princípio só receber as pessoas dentro da agenda. Se houver algum motivo institucional legítimo para eu que esteja com o presidente da República, eu estarei. Mas dentro da minha agenda normal. Eu mais de uma vez já recusei audiência fora da agenda.
Qual a opinião do senhor sobre a proposta no Congresso de retomar o financiamento de campanhas por parte de empresas?
Eu votei contra o modelo de financiamento empresarial porque ele permitia um conjunto de indecências políticas e de imoralidades administrativas que contrariavam a Constituição – do tipo poder pegar dinheiro emprestado no BNDES para financiar candidato, poder financiar três candidatos simultaneamente, e poder fazer doação e, depois, ser contratado pela administração vencedora. Todas essas práticas eram moralmente inaceitáveis, portanto o modelo era incompatível com a Constituição. Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/o-modelo-politico-atual-incentiva-pior-nas-pessoas-diz-barroso-21744993

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

CONDENAÇÃO DE LULA, MELHOR ASSIM




 J.R. Guzzo: Melhor assim


Quando o oceano de corrupção em seus dois governos começou a vazar, Lula tinha certeza de que era capaz de andar sobre a água
Por Augusto Nunes 

Publicado na edição impressa de VEJA
Eis aí, enfim, o ex-presidente Lula condenado a nove anos e tanto de cadeia por corrupção pela Justiça Penal do Brasil. Está colhendo o que plantou. Depois de arruinar a própria biografia, desmanchar com a sua conduta os mitos que criou em torno de si e aparecer na frente do país inteiro como a pessoa que realmente é, igual ao rei nu do conto para crianças, Lula tem agora uma selva escura pela frente. Constata, chocado, que realmente não está acima da lei, como no fundo sempre acreditou que estivesse. Ele sabia, naturalmente, que as coisas tinham ficado feias desde o início das investigações da Operação Lava Jato. É claro que também sabe exatamente o que fez, e sabe disso melhor do que ninguém. Ainda assim, confiante na força do Brasil Velho que abraçou de corpo e alma, esse Brasil onde quem manda não paga, achou que jamais poderia ser enfrentado por um “juizinho” do interior do Paraná, formado na Universidade de Direito de Maringá e desconhecido das bancas milionárias de advogados do circuito Brasília-São Paulo-Rio de Janeiro. Sérgio quem? Sérgio Moro? Quem é esse cara para mexer com o maior presidente que o Brasil e o mundo já viram? Quando o oceano de corrupção em seus dois governos começou a vazar, Lula tinha certeza de que era capaz de andar sobre a água, como Jesus Cristo ─ só que conseguia andar melhor que ele. Com o tempo, foi vendo que não era bem assim. Depois viu que não era nada assim. Acabou virando, em 12 de julho de 2017, o primeiro presidente da história do Brasil a ser condenado por violar o Código Penal.
Em nenhum momento, desde o primeiro dia de seus problemas com a Justiça Criminal, Lula preocupou-se em apresentar uma defesa baseada em argumentação jurídica, como faz qualquer réu acusado de um crime. Declarou, logo de cara, que era um “perseguido político”. Achou que podia resolver o seu problema fazendo acusações contra o juiz, os promotores e o sistema judiciário em geral, como se os réus fossem eles. Não respondeu a nenhuma das acusações que recebeu — não com algum fato concreto ou verificável. Imaginou que “tribunais internacionais”, por algum milagre legal, iriam substituir Sérgio Moro e absolvê-lo dos crimes pelos quais acabou condenado — e muita gente boa levou essa palhaçada perfeitamente a sério. Seus advogados desrespeitaram abertamente o juízo e tentaram o tempo todo tumultuar o andamento do processo com chicanas, provocações e muitas das piores práticas da profissão legal. Acostumado a meter medo em tucanos, que vivem em pânico de contrariá-lo, Lula levou um susto quando ficou cara a cara com Moro e descobriu que não havia a menor possibilidade de assustar o moço de 44 anos que o interrogava; chegou ao fim da audiência em estado de desmanche. Pensou, também, que os exércitos do MST, da CUT, dos sem-teto etc. iriam encher as ruas com multidões em sua defesa; não aconteceu nada. Cansou de repetir que só estava sendo processado porque “eles não querem que eu ganhe as eleições de 2018”. Eles quem? Não colou. Finalmente, deu o assunto por resolvido de uma vez declarando que tinha “provado” a sua “inocência”. Convenceu o PT e os militantes, mas não convenceu quem realmente precisava ser convencido — o juiz.
O Brasil fica melhor com a condenação de Lula. Sempre é problemático dizer que alguma coisa melhorou quando se vê o espetáculo deprimente oferecido todos os dias por uma porção tão grande da máquina judicial brasileira — ou com a impunidade que continua a beneficiar tantos criminosos com poder e dinheiro. O que dizer de um país em que o procurador-geral da República, com o apoio do Supremo Tribunal Federal e de maneira até agora inexplicável, presenteia com o perdão perpétuo um criminoso bilionário que confessa mais de 200 crimes — uma aberração que não tem paralelo em nenhuma sociedade civilizada? Algo está errado quando o ex­-presidente toma mais de nove anos de prisão no lombo e os Joesley desse país recebem medalhas de honra ao mérito. Mas é fato que o Brasil, desde a sentença, ficou mais longe da Venezuela. Na véspera, o país sonhado por Lula e pelo PT apareceu com a sua verdadeira cara, mais uma vez, quando um amontoado de senadoras rasgou as leis em vigor e quis proibir, com um ato de selvageria, que o Senado votasse a reforma trabalhista. Perderam, porque a sua disposição revolucionária durou apenas seis horas, o tempo de validade de uma quentinha. Elas e outros tantos continuarão, é claro, tentando virar a mesa depois da condenação do chefe — mas seu projeto, agora, vai dar mais trabalho do que gostariam.                                                                                 Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/j-r-guzzo-melhor-assim/

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

LULA: DERROTA ELEITORAL NO NORDESTE



Em MIGUEL LEÃO, no interior do Piauí, governado por Welilnto Dias, do PT, houve nova eleição suplementar para prefeito.
A cidade tem apenas 1.474 eleitores e Lula, que na eleição presidencial de 2006 teve 87% dos votos no município, gravou um vídeo de 30 segundos enviados ao celular dos moradores da cidade, com apelo aos moradores: “O Jailson é do PT, e você sabe que o PT sabe governar o Brasil, sabe governar Miguel Leão. Por isso no domingo (06/08/17), não esqueça, vote em Jailson”. Aberta as urnas, a surpresa:  o candidato da oposição, Roberto César de Arêa Leão Nascimento (PR) foi eleito prefeito do município de Miguel Leão com 51,48% dos votos. “As pessoas sabem que Lula não é mais o santo que elas imaginavam”, comemorou Roberto César.


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

MACONHA EM FARMÁCIAS: URUGUAI INICIA EXPERIÊNCIA.



O atual combate às drogas tem sido um fracasso total e por isso é um desafio mundial para se encontrar uma saída para o flagelo das drogas, que está destruindo as famílias e tem os jovens como principais vítimas.
Estive por cinco dias em Montevideo e Sacramento e um neto, estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense – UFF, resolveu estudar por seis meses na Universidade de La República, para estudar Ciências Políticas e o governo socialista de José Pepe Mujica que implantou essa experiência de vender a maconha em farmácias.  
Como a maconha vendida nas farmácias é muita fraca, os traficantes passaram a vender as mais fortes e essa experiência não diminuirá o poder dos traficantes.
                            **************                                                 Farmácia uruguaia tem conta em banco cancelada por vender maconha


SYLVIA COLOMBO, DE BUENOS AIRES - 12/08/2017  
Uma farmácia uruguaia anunciou nesta semana que não venderia mais maconha, ainda que de acordo com a legislação local —aprovada no fim de 2013 e que terminou de ser regulamentada em julho. Isso porque o estabelecimento teve sua conta no banco Santander cancelada.
Esteban Riveira, dono da farmácia Pitágoras, do bairro de Malvín, em Montevidéu, afirmou que a suspensão da venda se trata de "uma medida preventiva, até que o governo regularize a situação das farmácias que vendem maconha com o mercado bancário internacional". E disse estar frustrado, porque se diz um defensor da legalização do produto.
As sucursais dos bancos estrangeiros no Uruguai, porém, ainda não se posicionaram formalmente sobre o assunto e afirmam estar consultando suas matrizes para saber se estariam violando leis internacionais no caso de terem entre seus clientes estabelecimentos que comercializem produtos ilícitos.
Apesar de regulamentada no Uruguai, a venda da droga ainda é configurada como uma atividade restrita nos outros países por se tratar de um produto ilícito. Outros países da região, como a Argentina, a Colômbia e o Chile, também vêm consultando bancos estrangeiros, uma vez que legalizaram recentemente a venda da maconha medicinal.
Desde que aprovada, em dezembro de 2013, a Lei da Maconha gerou polêmica com relação a esse quesito. Mesmo com a venda legalizada e regulamentada no país, o Banco Central do Uruguai havia alertado o governo do então presidente José "Pepe" Mujica a respeito do risco de que algumas entidades bancárias pudessem não estar de acordo e se negarem a ter as farmácias como clientes.
O assessor legal do Centro de Farmácias do Uruguai, Pablo Durán, afirmou que, caso esse movimento se amplie e outras farmácias venham a ter suas contas canceladas, a tendência será a de migrar suas contas para o Banco República, que é uruguaio e obedece apenas à legislação local.
Outra alternativa, já utilizada nos EUA e aventada pelo governo uruguaio na época do debate parlamentar sobre a lei, é fazer uso das "bitcoins" (moeda virtual) para viabilizar a comercialização.
Ainda assim, Durán chamou a atenção para o fato de ser ainda um fato isolado. "Por enquanto houve apenas este caso. Outros bancos advertiram seus clientes e avisaram que estão fazendo consultas, mas não cancelaram as contas."
AUMENTO DA DEMANDA
Enquanto isso, vem crescendo o interesse de farmácias em aderir à lei, devido à alta demanda dos consumidores nas primeiras semanas de implementação.
Segundo Durán, já há 20 novas farmácias na lista de espera para obter a permissão para vender maconha.
O governo analisa as propostas e tem demorado em responder porque a busca tem sido mais alta do que o esperado.
O número de usuários registrados também deu um salto, dos 6.700 iniciais para 11.50

8, o que vem causando longas filas nas farmácias autorizadas e falta de estoque em várias delas. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/12/08/17
 
Uruguai inicia venda de maconha em farmácias e revoluciona a política mundial de drogas
País com a maior tradição liberal da América dá início a um projeto vanguardista destinado à maconha
EL PAÍS Internacional, Espanha, Magdalena Martínez, Montevidéu 19 JUL 2017 

“Tinha que ser o Uruguai. Não é casualidade que esse seja o primeiro país do mundo onde o Estado se encarregará de controlar o cultivo, o empacotamento e a venda legal de maconha em farmácias — processo que terá início na primeira quinzena de julho —, uma atitude que todas as nações vizinhas proíbem e combatem. O pequeno país de cerca de 3 milhões de habitantes é governado, desde 2005, por uma esquerda tranquila, que conseguiu alcançar um recorde histórico de crescimento ininterrupto de sua economia. O Uruguai já foi o pioneiro na América Latina em abolir a escravidão, aprovar o ensino laico, o divórcio e em legalizar a prostituição. A separação entre Igreja e Estado ocorreu há mais de 100 anos. Tudo chega antes no Uruguai, que quase sempre serve de modelo para que outros sigam o mesmo caminho.
 “Eu consumo maconha desde os meus 15 anos de idade e nunca havia tido acesso, tão facilmente, a um produto de tanta qualidade e tão barato. As pessoas já não precisam ir às favelas para comprar essa droga. Os traficantes também já não se interessam pela maconha, não dá dinheiro. Eles se dedicam à venda de outras drogas. Quando vejo os problemas que existem em outros países para fumar me considero sortudo”, afirma Lucas López, que decidiu converter seu hobby em profissão e abrir uma loja de objetos de todo tipo relacionados ao consumo da maconha, em plena avenida 18 de julho, no centro de Montevidéu. O estabelecimento está repleto de pôsteres enormes em vários idiomas que dizem “aqui não vendemos maconha”, mas, ainda assim, turistas entram com frequência para tentar comprar a droga.
A legislação é muito clara: só os uruguaios podem cultivar em suas casas e adquirir maconha, oficialmente, nas 30 farmácias que já estão registradas para vender a droga a um preço de 1,30 dólar (cerca de 4 reais) por grama, um valor muito mais baixo que o cobrado por um produto de inferior qualidade no mercado negro. Os compradores registrados precisarão colocar seu dedo em um dispositivo na farmácia. Assim, a máquina poderá identificá-los e verificará se já não excederam o limite legal de compra – 10 gramas por semana. Esse mecanismo de controle garante também o anonimato, já que o farmacêutico não tem acesso ao nome do cliente, e, uma vez mais, deixa os estrangeiros de fora.
O país, que já é uma potência turística, quer que os visitantes venham atraídos pelas praias, não pela droga. Essa experiência piloto é única no mundo – há outros países onde a venda da maconha é legal, mas em nenhum deles o Estado controla todo o processo, incluído o design genético da planta, comprado de uma empresa espanhola. Tudo está pensado para tirar do mercado ilegal os 160.000 uruguaios que, em algum momento do ano, fumam maconha, e para acabar com um negócio que rende 30 milhões de dólares (95,7 milhões de reais) aos traficantes, além de aumentar a violência e, inclusive, o índice de mortes em um país pouco acostumado à insegurança que assola toda a América Latina.
Tudo começou em 2012, recorda Julio Calzada, o então responsável pela política de drogas e máximo inspirador da lei que regula todo esse inédito processo. O presidente do país era o atual senador José Mujica – agora com 82 anos –, um ex-guerrilheiro tupamaro que se converteu, na época, em um fenômeno mundial, com mais seguidores fora de seu país do que dentro dele. A tranquila Montevidéu, uma cidade de poetas e cafés, amanheceu comovida com um vídeo no qual um menor assassinava com um tiro, e a sangue frio, um funcionário do conhecido restaurante La Pasiva, durante um assalto. O homem tinha cinco filhos. Outras duas mortes violentas por acertos de contas entre narcotraficantes, na mesma semana, escandalizou tanto a sociedade que Mujica resolveu dar o primeiro passo para iniciar um processo que culmina agora, em 2017, e que levou a uma mudança integral da política de drogas e à legalização da maconha.
Cinco anos depois desse início, a colheita da planta, cultivada em estufas protegidas pelo Exército, para evitar roubos, já foi realizada com sucesso e o produto já foi devidamente embalado. As farmácias também já estão preparadas para começar a vendê-la em, no máximo, duas semanas. Alguns têm medo do que possa acontecer. As farmácias instalaram um “botão do pânico” para poder chamar a polícia de forma mais rápida e efetiva, caso seja necessário. No entanto, todos os especialistas no assunto acreditam que não haverá mais do que tranquilidade, no melhor estilo uruguaio. Não aconteceu nada de ruim quando o autocultivo foi aprovado. Atualmente há 6.000 pessoas registradas que encheram suas varandas e jardins em Montevidéu com a inconfundível planta. Os pés de maconha são tão visíveis que agora o problema são os roubos em época de colheita. “Antes nos escondíamos da polícia e agora dos ladrões”, brinca Laura Blanco, diretora do centro de cannabicultores Gaia. Os clubes cannábicos criados também não ocasionaram problemas. Esses grupos de consumidores se organizam que jardineiros cultivem para todos. Para ser sócio, cada integrante paga cerca de 100 dólares por mês (aproximadamente 320 reais), e, em troca, recebe os 40 gramas permitidos por lei, 480 gramas anuais. “Até o momento retiramos pelo menos 12.000 pessoas do mercado ilegal. Isso já é um êxito. E continuaremos expandindo nossos resultados”, afirma Calzada, idealizador da lei.
“Foi difícil se organizar para fazer uma colheita constante, mas agora tudo funciona perfeitamente. Conseguimos que nenhum de nossos sócios dependa do mercado negro, é uma mudança histórica no Uruguai e no mundo”, conta Martín Gaibisso, fundador de um dos primeiros clubes cannábicos. No Uruguai já começa a haver maconha de alta qualidade por todos os lugares. Usuários fumam nos parques, às margens do Rio da Prata, e nas mesas exteriores dos restaurantes, o consumo foi completamente normalizado. Devagar, sem pressa, ao estilo uruguaio, o país está mostrando ao mundo as consequências de aplicar outra política com relação às drogas leves.
O seguinte passo, com o qual muitos já sonham, é se converter em uma potência do cultivo da maconha com fins medicinais, e não recreativos, um grande negócio mundial, já que vários países, também na América Latina, estão aprovando a comercialização da planta para esse uso. O atual Governo, do médico oncologista Tabaré Vázquez, é muito mais moderado do que o de Mujica – embora pertençam à mesma coalizão política –, e resiste a ir mais longe. No entanto, o consenso existente sobre o tema da legalização fez com que ele não se animasse a barrar a lei. Apenas atrasou a venda em farmácias, que agora já está por começar. A maconha vendida nas farmácias será mais suave do que aquela que se cultiva em casa, para evitar inconvenientes para consumidores esporádicos. Ainda assim, será uma versão mais forte e muito superior ao “prensado paraguaio” que se vende ilegalmente nas ruas.
 “Nossa maconha terá um THC de 7%. Poderíamos ter chegado a 20%, mas está bem assim. A droga vendida nas farmácias terá como público principal consumidores pouco frequentes, jovens ou idosos que queiram usá-la para combater dores. Isso é um lucro enorme para minha geração, que cresceu na ditadura, quando uma pessoa era presa por fumar um baseado. A chave para que o Uruguai possa chegar a ser um líder mundial agora é desenvolver a maconha medicinal”, afirma Gastón Rodríguez, acionista de Symbiosis, uma das duas empresas uruguaias designadas pelo Governo para colher duas toneladas anuais de maconha. Além disso, Rodríguez é representante regional de Medropharm, uma empresa suíça que busca introduzir a cannabis medicinal em toda a região.
Rodríguez e sua equipe possuem, armazenada e empacotada, uma grande quantidade de maconha, em caixas de 5 e 10 gramas, à espera da ordem para levá-la às farmácias. No total, 4.000 pessoas se registraram para comprá-las, mas se estima que muitas mais o façam depois de que o processo tenha início.
“Começaremos na primeira quinzena de julho”, confirma Diego Olivera, secretário geral da Junta Nacional de Drogas, órgão especializado do Governo. “A droga tem uma desenvolvimento genético exclusivo para tranquilizar nossos vizinhos. Assim, se chegassem a encontrar droga do Uruguai em qualquer outro país seria possível identificá-la rapidamente, é inconfundível. No entanto, não acreditamos que isso chegue a acontecer, está muito bem controlada a quantidade de maconha que pode ser comprada. Estabelecemos padrões de segurança similares aos do sistema financeiro. Muitos países nos estão consultando, como o Canadá, por exemplo. A proibição da droga não atingiu seus objetivos, por isso, muitos governantes estão buscando alternativas”, explica.
A lei que determina a legalização da maconha conta com poucas críticas. A principal resistência veio, precisamente, do atual presidente, Tabaré Vázquez, que ao final se rendeu ao fato de que já não podia mais atrasar o processo. Tudo está sendo feito sem estridências, ao estilo local. “Demonstramos que somos um país sério, no qual o Estado consegue controlar esse tipo de coisas. Mujica entrará para a história por sua iniciativa. Daqui a 30 anos o consumo legal da maconha será visto como algo normal em muitos países. O Uruguai conseguiu recuperar, dessa forma, sua tradição de vanguardista liberal”, garante Eduardo Blasina, responsável pela criação do museu da cannabis em Montevidéu, que possui em seu jardim, além de enormes pés de maconha, alguns de peiote. Tudo acontece com normalidade, como só os uruguaios sabem fazer. Por isso, uma revolução silenciosa como essa não poderia ter começado em outro”                                                                                  Fonte:  https://brasil.elpais.com/