Pesquisa propõe técnica de neurorreabilitação para pacientes que sofrem com AVC crônico
Dados da Federação Mundial do AVC indicam que 13,7
milhões de pessoas sofrem Acidente Vascular Cerebral (AVC) a cada ano. As
sequelas que permanecem podem alterar o quadro clínico para um AVC crônico.
Nesse contexto, os pesquisadores do Laboratório de Robótica e Tecnologia
Assistiva (LRTA) da Ufes desenvolveram uma técnica que usa a imaginação e
dispositivos robóticos para ajudar os pacientes a recuperar seus movimentos.
O estudo utiliza sensores eletrônicos que, acoplados
à cabeça do paciente, coletam sinais cerebrais gerados pelo ato de imaginar
determinado movimento (eletroencefalograma). Os sinais captados induzem o
movimento aos membros afetados pelo AVC por meio de um suporte robótico
(exoesqueleto). Ao repetir muitas vezes essa atividade de imaginar o movimento
e ter sua reprodução através do exoesqueleto, o cérebro então consegue
encontrar caminhos alternativos que façam esse membro voltar a se mover.
O
professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Biotecnologia
da Ufes e orientador da pesquisa, Teodiano Bastos Filho, explica que em geral o AVC danifica uma área do cérebro responsável por
funções motoras. A ideia consiste em estimular o cérebro a buscar outra área
cerebral para voltar a controlar os movimentos. Para estimular a imaginação, a
pesquisa conta com estímulos visuais proporcionados por um sistema de realidade
virtual 2D. A tal modelo de tratamento se atribui o nome de neurorreabilitação.
“O diferencial da terapia é o uso da imaginação do
movimento para recuperá-lo. Antes de um movimento ser executado, a mente humana
o imagina. No caso das pessoas que sofreram AVC, essa imaginação ocorre
normalmente, mas o membro é incapaz de realizar o comando. O que a gente faz
para prender a atenção da pessoa de forma muito efetiva é, por exemplo, exibir
na tela do computador alguém pegando um copo e bebendo água”, detalha o
professor.
Movimentos complexos
Outra inovação é o trabalho com movimentos complexos
visando a um alto grau de melhora dos pacientes. Esses movimentos são
justamente aqueles presentes na vida diária, como o ato de se alimentar. Ao
explorar a imaginação desses movimentos mais complexos, observou-se melhora
ainda mais rápida no processo de reabilitação.
“Na literatura já há muitos estudos sobre a imagética
motora simples, o movimento da mão simples, mas com esses movimentos não se
exige tanto. Então, na pesquisa a pessoa tem que imaginar alcançar um copo com
a mão, agarrá-lo e levá-lo até a boca, simulando que bebe alguma coisa e depois
retornar o copo e a mão para as posições iniciais”, declara o estudante e
pesquisador Cristian Mendez, orientado pelo professor Bastos.
Metodologia e resultados
Metodologia e resultados
O Prof. Teodiano Bastos Filho pondera que a técnica de eletroencefalografia
(EEG) com eletrodos para captar sinais elétricos do cérebro já é conhecida e
usada pelos neurologistas para diagnosticar a epilepsia, por exemplo. Mas frisa
que o diferencial da pesquisa é o uso do EEG para identificar a imaginação
motora, sendo que o grupo de pesquisa obteve uma taxa de acerto na detecção
desses sinais da ordem de 97%. Esse resultado promove as condições necessárias
para o funcionamento da neuroplasticidade, capacidade do sistema nervoso
central de se adaptar às novas circunstâncias.
Ainda utilizando os sinais cerebrais provindos da
imaginação, o professor atua em outra pesquisa voltada à neurorreabilitação do
movimento dos membros inferiores. Ele explica que, em certos casos, há até a
aplicação de toxina botulínica (botox) no membro afetado, pois, devido ao AVC
crônico, o membro acaba ficando rígido, não permitindo que o exoesqueleto
realize o movimento induzido.
“A aplicação do botox então diminui a rigidez
muscular (espasticidade), relaxando os músculos, e a pessoa consegue, por
exemplo, abrir uma mão ou mover uma perna com a ajuda robótica (exoesqueleto).
São resultados muito significativos, porque os pacientes pós-AVC, ao serem
levados ao Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes), em Vila
Velha, na fase aguda, levam de dois a três meses para demonstrar alguma
melhora. Com nossos pacientes, esse tempo foi reduzido para duas a três
semanas”, frisa o professor.
Texto: Ghenis Carlos (bolsista) Edição: Sueli
de Freitas