Por THEODIANO BASTOS
Em Vitória/ES, na madrugada do dia 25/6/23, um paciente idoso morre dentro de uma clínica após ser atingido por bala perdida
Mudam os governos e a violência continua crescendo no Brasil. O jornal O Globo de 25/6/23 trás uma reportagem de capa informando que o Brasil tem mais amputados por armas e explosivos que o Exército dos Estados Unidos em 16 anos de guerra.
“No país, houve
2.044 mutilados devido a violência, enquanto nos Estados Unidos foram 1.705
soldados que sofreram amputações em combates”
A
brutalidade da violência armada que espalha mortes pelo Brasil também amputou
pelo menos 2.044 pessoas em todo o país nos últimos 15 anos, revela a série de reportagens “Mutilados”, publicada a partir deste domingo pelo GLOBO. Os dados foram
extraídos da análise das autorizações de internações hospitalares (AIHs) do
Ministério da Saúde. E apontam que a tragédia das mutilações no país supera,
num intervalo de tempo parecido, a de militares das Forças Armadas dos Estados
Unidos que sofreram amputações de membros superiores ou inferiores devido a
lesões em combate. De janeiro de 2001 a outubro de 2017, tempo de guerras como
a do Iraque e a do Afeganistão, esse foi o drama de 1.705 soldados americanos,
indica um estudo publicado pela Divisão de Vigilância em Saúde das Forças
Armadas dos EUA.
O
menino Luis Rodrigo Costa Santana, de 11 anos, faz parte dessa triste
estatística brasileira. Morador da favela do Chapadão, em Costa Barros, Zona
Norte do Rio, ele foi amputado, aos 4 anos, após ser atingido por uma granada
jogada por um homem na rua onde mora até hoje.
— Fui
curioso. Era tipo uma bolinha. Peguei, e explodiu — conta o menino.
No
Brasil, o Estado da Bahia — que na última década costuma liderar o ranking de
mortes violentas intencionais no país — também é o que tem mais amputações
registradas no sistema do Ministério da Saúde, com 244 casos. O Rio de Janeiro,
estado com territórios controlados por traficantes e milicianos, vem logo em
seguida, com 202. Já o Pará, marcado por disputas por terra no interior e
violência nas cidades, é o terceiro da lista, com 198 registros. E São Paulo, o
estado mais populoso do Brasil, é o quarto, com 196.
A
análise feita pelo GLOBO a partir de dados obtidos via Lei de Acesso à
Informação indicam ainda que, no país, a média de idade das pessoas afetadas é
de 33 anos. Mas as mutilações atingem todas as gerações. Jovens de 20 a 29 anos
representam quase um terço dos afetados nesse período. As crianças de 0 a 11
anos representam 3% das vítimas e os adolescentes, de 12 a 17 anos, 11% do
total. Na outra ponta da pirâmide etária, 8,5% são idosos, com mais de 60 anos.
Na
cidade do Rio, o médico Felippe Beer, chefe do serviço de cirurgia vascular
periférica do Hospital municipal Miguel Couto, afirma que há um aumento da
gravidade nos casos de pacientes que chegam às emergências vítimas da violência
armada.
— A
partir dos anos 2010, 2011, começamos a ter muito mais vítimas de projéteis de
alta velocidade, como os tiros de fuzil, e eventualmente outros armamentos de
guerra, como granadas. A maioria, infelizmente, nem consegue chegar ao
atendimento hospitalar. Quando eles chegam, estão mais graves. Fica mais
difícil salvar a vida e, consequentemente, salvar o membro desse paciente” —
diz ele.
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