PRECISAMOS DE PAZ SOCIAL E ESTABILIDADE PARA Trabalhar pelos brasileiros, por Benjamin Steinbruch
Ao longo dos anos em que tenho
tido a honra de escrever neste espaço nobre na Folha, desde que fui gentilmente convidado pelo saudoso e
competente Octavio Frias de Oliveira, cultivei o hábito civilizado de desejar
boa sorte aos presidentes da República no momento em que tomam posse.
Não importa se votei ou não no
eleito, entendo que, como todos os brasileiros, tenho a obrigação cívica de
apoiar e ajudar qual- quer novo governo na tarefa de bem governar.
Desde quarta-feira, o Brasil tem
um presidente interino, Michel Temer, que vai substituir Dilma Rousseff por até
180 dias, prazo em que o processo de impeachment dela deve ser definitivamente
julgado pelo Senado.
Todos sabemos que o Brasil viveu
um embate político intenso nos últimos 20 meses. O país viu ofensas,
radicalismos, confrontos e intolerâncias. Tudo isso colaborou para agravar a
recessão e a crise econômica que já deixou mais de 11 milhões de brasileiros
desempregados.
Ainda que Temer não esteja
empossado definitivamente na Presidência, ele não pode esperar 180 dias para
começar a governar. Além das reformas e do controle de gastos públicos, há
medidas urgentes que precisa tomar, as mais importantes, indiscutivelmente,
voltadas para a retomada do crescimento da economia e do emprego.
Espero que o presidente interino
tenha uma boa capacidade de ouvir não apenas as vozes do mercado financeiro. A
troca de governo vai promover uma espécie de choque de confiança no primeiro
momento. Mas esse efeito se dissipará rapidamente se não houver um novo comportamento.
O crescimento pode ser retomado.
O índice atual de ociosidade da indústria está próximo de 23%, um dos mais
altos da história recente, e isso significa que as empresas não precisam de um
grande esforço de investimento para aumentar sua produção.
Se houver confiança, crédito e
"juros civilizados" (já perdi a conta de quantas vezes escrevi essa
expressão), a indústria poderá atender ao aumento da demanda sem grandes
investimentos.
Mas isso não é tudo. Parcerias
público-privadas e concessões têm de ser efetivamente viabilizadas. E, muito
importante, será essencial cuidar da taxa de câmbio.
Em anos recentes, quando houve um
salto no consumo por causa de políticas de desoneração tributária e até redução
de juros, isso não foi aproveitado para gerar expansão industrial no país. E
não foi aproveitado porque o câmbio estava excessivamente valorizado, o que
facilitou a entrada de produtos importados. Ou seja, a demanda maior foi
atendida pela indústria estrangeira, principalmente da China, criando empregos
no exterior.
Nas últimas semanas, o real
voltou a se valorizar um pouco. O governo Temer não pode ceder à tentação de
usar o câmbio como âncora contra a inflação, uma armadilha na qual o país já
caiu algumas vezes.
Gosto de lembrar que nos Estados
Unidos os presidentes da República, ao assumirem, fazem um juramento sucinto,
com 35 palavras, em que prometem dar o melhor de si para preservar, proteger e
defender a Constituição. Além disso, sempre acrescentam mais quatro palavras:
"So help me God" (Que Deus me ajude).
Que Deus proteja a todos nós e ao
país neste momento difícil. Precisamos de paz social e estabilidade política
para trabalhar pelo Brasil e pelos brasileiros.
É empresário,
diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º
vice-presidente da Fiesp.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ 17/05/16
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