O PT E SEU PROJETO DE PODER
por Marco Antônio Villa
Como falar em marxismo se Lula sequer leu uma
página de Marx? Transformar Lula em Lênin é uma piada
“Na política é indispensável, ao
enfrentar um adversário, conhecê-lo. O petismo, nos últimos tempos, foi
transformado em algo que nunca foi. Ora é bolivariano, ora comunista, ora
populista, ora — para os mais exaltados e néscios —
bolivariano-comunista-populista. Puras e cristalinas bobagens.
O “bolivarianismo” nunca passou
de um amontoado mal articulado de chavões esquerdistas associados à velha
retórica caudilhesca latino-americana. Não é possível sequer imaginar Simón
Bolívar como um marxista avant la lettre. Basta ler as páginas
devastadoras que Karl Marx dedicou ao “libertador da América”: o venezuelano
nada mais foi do que um representante das oligarquias que desejavam se libertar
do jugo espanhol. E só. Quando Hugo Chávez transformou Bolívar em símbolo
anti-imperialista e ideólogo da sua revolução, o fez no momento que a crise do
socialismo real tinha chegado ao seu ponto máximo e não havia mais nenhuma
condição de ter como referência o velho marxismo-leninismo. Outros movimentos
na América Latina já tinham realizado esta imersão na história nacional, mais
como fachada, como os montoneros, na Argentina, e os sandinistas, na Nicarágua.
A extensão do conceito, vá lá, “bolivarianismo” à Bolívia — um país com maioria
de população indígena e com uma história recente fundada, para o bem ou para o
mal, na Revolução de 1952 — serve somente ao discurso panfletário. A simples
comparação das duas constituições (venezuelana e boliviana) demonstra
claramente as distinções.
O PT nunca foi bolivariano. O
percurso dos seus líderes (Lula e Chávez) é muito diferente e as histórias de
cada país são processos absolutamente distintos. Basta recordar que Chávez
chegou ao poder precedido por uma tentativa fracassada de golpe de Estado e com
a desmoralização das instituições democráticas, especialmente durante a segunda
presidência Carlos Andrés Pérez. Lula venceu as eleições de outubro de 2002 em
um país que tinha obtido a estabilização econômica com o Plano Real (1994) e em
plena vigência do Estado Democrático de Direito. E nos 12 anos do poder petista
não houve um ataque frontal às liberdades de expressão e de imprensa como foi
realizado por Chávez — sem que isso signifique que o petismo morra de amores
pelos artigos 5º, 7º e 220º da nossa Constituição. Também o choque com frações
da elite venezuelana por aqui não ocorreu. No Brasil houve cooptação: os
milionários empréstimos do BNDES serviram para soldar a aliança do petismo com
o grande capital, e não para combatê-lo.
O petismo impôs seu “projeto criminoso de poder” — gosto sempre de citar esta expressão do ministro Celso de
Mello — sem que tivesse necessidade de tomar pela força o Estado. O
processo clássico das revoluções socialistas do século XX não ocorreu. O
“assalto ao céu” preconizado por Marx —tendo como referência a Comuna de Paris
(1871) — foi transmutado numa operação paulatina de controle da máquina estatal
no sentido mais amplo, o atrelamento da máquina sindical, dos movimentos sociais,
dos artistas, intelectuais, jornalistas, funcionando como uma correia de
transmissão do petismo. O domínio dos setores fundamentais do Estado deu ao
partido recursos e poder nunca vistos na história brasileira. E a estrutura
leninista — só a estrutura, não a ação — possibilitou um grau de eficácia que
resistiu aos escândalos do mensalão, às inúmeras acusações de corrupção das
gestões Lula-Dilma e, ao menos até o momento, ao petrolão.
Se, no seu início, o PT flertou
com o socialismo, logo o partido — e suas lideranças — se adaptaram à dolce
vita do capitalismo tupiniquim. Já nos anos 1980, prefeituras petistas
estiveram envolvidas em mazelas. Quando Lula chegou ao Palácio do Planalto, o
partido só tinha de socialista o vermelho da bandeira e a estrela. A prática
governamental foi de defesa e incentivo do capitalismo. Em momento algum se
falou em socialização dos meios de produção, em partido único, em transformar o
marxismo-leninismo em ideologia de Estado, nada disso. Como falar em marxismo
se Lula sequer leu uma página de Marx? Transformar Lula em Lênin é uma piada.
Brasília não é Petrogrado. Aqui, o Cruzador Aurora são as burras do Estado.
Considerar o PT um partido
comunista revela absoluto desconhecimento político e histórico. É servir comida
requentada como se fosse um prato novo, recém-preparado. Não passa de conceder
sentido histórico ao rançoso discurso da Guerra Fria. O Muro de Berlim caiu em
1989 mas tem gente em Pindorama que ainda não recebeu a notícia. Ao retirar do
baú da História o anticomunismo primário, passam a exigir soluções fora do
contexto legal como a intervenção militar travestida com um manto
constitucional — outra sandice, basta ler o artigo 142 da Constituição.
O projeto criminoso de poder foi
aperfeiçoado no exercício da Presidência da República. Não tem parentesco com o
populismo varguista, muito menos com o peronismo ou cardenismo. É um mix
original que associa pitadas de caudilhismo, com resquícios da ideologia
socialista no discurso — não na prática —, um partido centralizado e a velha
desfaçatez tupiniquim no trato da coisa pública, tão brasileira como a
caipirinha — que seu líder tanto aprecia.
O desafio dos democratas é
combater o petismo utilizando todos os instrumentos legais. Para isso, é
necessário conhecer o adversário e abandonar conceituações primárias que não
dão conta do objeto. E tendo como prioridade a mobilização da sociedade civil.
Sem ela, o país não muda. Pior: teremos a permanência deste governo
antidemocrático, antipopular e antinacional por muitos anos.”
Marco Antonio Villa é historiador
Fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/o-pt-seu-projeto-de-poder-16057391#ixzz3zfIEBi1s
Fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/o-pt-seu-projeto-de-poder-16057391#ixzz3zfIEBi1s
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O
comercial do PT demonstra que o insucesso subiu à cabeça dos seus dirigentes. A
impostura é evidente. Uma legenda que, engolfada pelo caos e por escândalos,
depois de 13 anos em que o país foi saqueado pelos esquemas que o acompanham no
poder, consegue pedir à nação para “deixar de lado o pessimismo” ou é uma
agremiação de cínicos ou de lunáticos.
Lula,
no momento, busca uma explicação para o triplex do Guarujá, que ele desistiu de
comprar porque virou escândalo; e para o sítio de Atibaia, que virou escândalo
porque ele utiliza mesmo sem comprar. O triplex e o sítio foram turbinados com
verbas de empreiteiras que participaram do assalto à Petrobras.
“Hoje, vendo pessoas
morrendo em filas de hospitais, bandidos matando por R$ 10, pessoas andando
feito zumbi nas ruas por causa das drogas, adolescentes que não sabem quanto é
6 x 8, meninas de 14 anos parindo filhos sem pais, toda a classe política desse
país desfilando uma incompetência absurda, o nosso país sendo ridicularizado
por tantos escândalos...”
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