Dilma e sua
crise por
Arnaldo Jabor
Sua renúncia não seria uma humilhação, presidente
Com todo
respeito, presidente, acho que a senhora devia renunciar. Os sinais já estão no
ar, os primeiros tremores de um terremoto já vibram sob nossos pés. Acho que a
senhora não vai aguentar mais três anos e meio nesse caos em que o Lula, o PT e
o Mantega nos lançaram, fazendo o país entrar numa depressão.
Aliás a
senhora deve estar também numa cava depressão, com um país inteiro gritando
“Fora”. Se fosse eu, presidente, teria enlouquecido por rejeição. Vejo seu
rosto triste e tenso e lembro da postura corajosa na sua foto, jovem, de
óculos, diante de militares tapando o rosto. E vejo que um retrato rima com
outro, pois sua pertinácia ou teimosia diante do impossível continua a mesma.
Era impossível a vitória da guerrilha urbana e hoje está quase impossível
governar o Brasil. O fato de uma pessoa ser heroica não impede que esteja
errada. Talvez a senhora tenha sido heroína, mas sei que está errada. Sei que sua
agenda de esquerda de longa data ajuda-a a destroçar o país em nome de uma
loucura ideológica morta. Sei que é impossível governar um país capitalista com
uma cabeça comunista. Isso provoca uma esquizofrenia no poder que se alastra
pelas instituições, abrindo as portas para a maior história de corrupção do
mundo. E me dói, presidente, vê-la como bode expiatório dos crimes que eles
cometeram. Eles abriram mão de suas convicções antigas, mas a senhora segue
fiel à sua utopia brizolista enquanto eles a abandonam. O Lula — é sempre bom
lembrar — é a pessoa mais nefasta deste país e está tramando contra a senhora,
pensando até em arrumar um posto de ministério para ser julgado com foro
privilegiado, quando seus malfeitos se revelarem, pois tem medo de ser preso.
Além
disso, petistas e aliados perceberam que a senhora está enfraquecida e
resolveram ganhar prestígio condenando-a. Todos querem tirar um pedacinho da
senhora, pois são ratos abandonando o navio. Eram 400 aliados; hoje, só há 120.
E não
adianta dar verbas e cargos para eles; nada os satisfará — vão embolsar a grana
e continuar sabotando-a. Inclusive o vergonhoso PSDB traindo a si mesmo,
enturmado com a bicanca voraz do Eduardo Cunha e com o cabelinho implantado do
Renan, que aprovam projetos-bomba para detoná-la, mesmo que país morra junto.
Os dois, investigados pela Lava-Jato, aprovam medidas absurdas para aumentar os
gastos públicos e se fortalecerem às custas de seu fracasso.
Sob o som
dos panelaços vi sua fala gaguejante no programa do PT, diante da evidência do
desgoverno. Suas tentativas de sorrir com simpática despreocupação são
constrangedoras, e o povo nota. O país inteiro está contra Vossa Excelência,
quando deveria estar contra aqueles que criaram a armadilha em que a senhora
caiu. Sua resistência está muito solitária e não basta mais declarar que
resiste, como boa guerrilheira que já foi.
Sua
renúncia não seria uma humilhação e só abrilhantaria sua imagem futura. A
senhora teria reconhecido o perigo que corremos todos, com a devastação da
indústria, do comércio e da esperança pública. E a culpa não é toda sua.
Já está
disseminado na população um refrão de desapreço à senhora. Já estão lançadas as
bases de um impeachment... Sua saída espontânea provaria que a senhora aceita
as regras do jogo que perdeu. Quando se contamina a opinião popular, para além
da política, a barra pesa. Até mesmo um recôndito machismo ressurge contra uma
mulher no governo. “Mulher no volante, perigo constante”, me disse ontem um
taxista. Creio que até o Lula nomeou a senhora porque era uma mulher
considerada trabalhadeira e obediente a seus interesses, até ele voltar em
2014. Será que ele nomearia um homem que pudesse contestá-lo? Talvez haja por
aí um machismo sutil...
Quando o
Collor berrou às multidões “Não me deixem só”, todas as caras foram pintadas,
talvez até mesmo a da senhora. E no entanto, presidente, a era Collor foi um
troco em relação aos bilhões roubados nos últimos 12 anos, por causa da
porteira aberta pelo Lula para a invasão da porcada magra ao batatal.
Seu grande
erro, presidente, típico de tarefeira militante, foi fazer vista grossa para o
despautério à sua volta. Sei como funciona: “Ah... eles são aloprados em nome
de uma ‘linha justa’, lutar contra isso seria moralismo pequeno-burguês”. Por
isso, a senhora deixou passar negligentemente a compra da refinaria de Pasadena
no Conselho de Administração da ex-Petrobras, um dos símbolos intocáveis de sua
juventude. Além disso, a senhora está sendo metralhada pelos dois presidentes
do Congresso, que aprovam medidas absurdas contra os gastos públicos, para se
fortalecerem às custas de seu fracasso.
Hoje o
país não tem fins e nem meios. Ninguém sabe mais quais seriam os meios e não
sabe com que fins.
As várias
reformas que FHC deixou preparadas foram ignoradas e desfeitas e hoje só nos
resta o magro ajuste fiscal com que o pobre Levy, como um padre triste, tenta
convencer canalhas e cobras criadas que nunca souberam o que é interesse
nacional.
Agora, o
Temer e Mercadante estão querendo conciliar, mas é tarde demais.
Vem aí a
grande manifestação nacional no dia 16, pedindo sua cabeça. E isto é quase um
impeachment branco, o que deve lhe provocar uma angústia insuportável. A
senhora já esteve doente e tem de proteger sua saúde. Mas, em vez de fazer
autocrítica, sua cabeça de guerrilheira teima em resistir até o fim. Se a
senhora renunciar, vai ficar mais feliz. A senhora não é Getúlio Vargas. Além
disso, sua “resistência” não é apenas uma questão pessoal. Trata-se do país que
a senhora governa. A Dilma não é a Dilma — ela é presidente do Brasil sendo
desmanchado. Desista Dilma, antes que o carro do país tenha “perda total”. Fonte:
http://oglobo.globo.com/cultura/dilma-sua-crise-17142467#ixzz3iWjjN5GK
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