sexta-feira, 22 de junho de 2012

VISÃO ESTRATÉGICA PETRÓLEO, MINÉRIOS, ÁGUA – DOCE E A 4ª FROTA

           
                               VISÃO ESTRATÉGICA
PETRÓLEO, MINÉRIOS, ÁGUA – DOCE E A 4ª FROTA
              (*) Heitor Garcia de Carvalho

As questões são reais mas mais complexas.
Quarta frota. Obama tem  problemas variados com a questão das armas. Há uma nova geração de material bélico e tem que descartar o antigo. O que tem a ver com isso? Contrariando as estratégias militares estão mantendo os porta aviões dispersos e ancorados em cada porto disponível nos EUA, com exceção dos que estiverem em combate no Afeganistão e na recente intervenção na Líbia. Tradução: cada porta aviões com sua tripulação embarcada de cinco mil homens e muitos outros em terra cria uma movimentação econômica enorme na cidade sede ou seja, votos!!! O presidente cancelou os futuros porta aviões porque como a tecnologia recente é de aviões não tripulados e estes navios são caros para manutenção e tem que ser protegidos passaram a ser elefantes brancos em teatros de guerra avançados. Em terra de índios... tem sua utilidade. Os EUA vão atacar o Brasil? Nunca o fizeram antes mas exercer intimidação sempre ocorreu. O livro a USAID e a Educação Brasileira do escritor Arapiraca tem umas quatro páginas listando as intervenções americanas na América Latina...

A pergunta é quem a esquadra vai interceptar? Quem quer proteger? Não há perspectivas de invasão e desembarque nem na América Latina e nem na África e muito menos Europa. A guerra da Líbia, em cenário de amplos espaços de deserto, era favorável à força aérea. Já na Líbia ou Irã isto não é a mesma coisa.

A frota estaria protegendo a via de transporte de petróleo vindo de  plataformas marítimas nas costas da África e do Brasil. Enquanto campos na terra e oleodutos podem ser alcançados por pequenos grupos e homens bomba para atingir uma plataforma há necessidade de tecnologia mais avançada.

Os EUA  com novas tecnologias de perfuração (a tal horizontal...) estão explorando xisto betuminoso no seu território e no Canadá. Já têm expectativa de auto-suficiência energética mas preferem guardar uma porção considerável do que está no seu território como reserva estratégica.
Com relação aos minérios de terras raras necessários a produtos de alta tecnologia como celulares, células fotovoltaicas, etc... hoje o virtual monopólio é da China com mais de 90 por cento de produção. Há em quantidades apreciáveis na África mas as maiores reservas conhecidas e exploráveis estão no Brasil. Só que não precisam se apoiar na força militar para obtê-las, uma pequena quantidade de dólares de propina e conseguem controlar as holdings que vão fazer a lavra.

-Água doce. A América Latina é o único continente que tem alta disponibilidade por habitante. Porém é inviável transportá-la e nem os americanos sedentos resolverão mudar-se em grande migração para os trópicos. Também eles têm muitas reservas e inclusive as geleiras canadenses. Guerras pela água serão prováveis na Ásia, Europa, África mas não na América Latina, Tais guerras não serão necessariamente com forças armadas mas muito mais com armas econômicas, por exemplo, deslocando para onde há disponibilidade indústrias que consumam muita água.     
Como reagir às "demonstrações de força" americanas? Mais fácil falar do que fazer.

-Militar. A guerra "assimétrica" exige do poder dominante um excesso de recursos como a lição do Vietnam demonstrou. Pode levá-lo à exaustão. O que o Brasil deve fazer? Empatar o jogo seria muito difícil, a URSS, que conseguiu várias paridades, se esvaiu até o colapso econômico. Mas ter condições de "vender caro a pele" pode ser um dissuasor razoável.

-Econômica. Somente o desenvolvimento de tecnologias próprias, sem pagamento de royalties e sem ter  "Codgos secretos com senhas de acesso ocultas para seus desenvolvedores estrangeiros" podem "vender caro a pele" também na guerra assimétrica econômica.
Sintetizando: a situação não é estática e está evoluindo muito rápido. Há ameaças reais. É preciso muita preparação, pesquisa, inteligência (no sentido militar) e trabalho para impor respeito ao menos no sentido de tornar muito custosa qualquer aventura... Vamos, como diz um amigo, continuando "nossa guerrinha"...

Não conseguimos fazer uma batalha do apocalipse com relação a "tudo que está aí mas vamos contribuindo um palito de fósforo acendido de cada vez e com persistência para evitar ficar apenas amaldiçoando a escuridão.
Na verdade não há muita "profundidade" nas minhas observações. O que tem de vantagem é o ponto de vista, isto é, tendo tido acesso  a informações "privilegiadas!, isto é, passado quatro anos no Canadá, um ano em Portugal no auge da crise e, é claro, tantos anos de Brasil e andado por ele quase todo, tenho tido uma posição "em cima da montanha" para ver um pouco da floresta ao invés de ficar só ao pé de uma grande árvore.

Outra atitude importante é manter um trânsito entre quem privilegia um ponto de vista e quem se opõe. A verdade absoluta de um lado contra a de outro  vai, aos poucos, no evoluir das circunstâncias e
da própria argumentação, sendo polida e mudada. De vez em quando  aceitar que erramos feio é o único caminho sensato a seguir. Duvidar das certezas absolutas é o caminho de Descartes para uma reformulação de séculos de adesão (que se tornou cega) a um conjunto de dogmas que eram inconsistentes desde o início mas que muitas vezes nos iludia.

Entre as fontes de debate de questões estratégicas temos no Brasil os estudos de Geoestratégia, nos EUA a Stratford (há relatórios gratuitos na internet), na Russia há as análises disponíveis na web da Gazeta Russa. Cada um tem seus próprios interesses e não pode ser tomado como verdades absolutas mas... lendo as várias fontes fica-se com melhor média de opiniões e/ou elenco de coisas em debate.
As questões domésticas americanas que "explicam" os movimentos erráticos das forças militares quando se olha quem lucra com cada movimento do complexo industrial militar estão na imprensa,
nos debates políticos. É o que se chama no Brasil de "currais eleitorais" e nos EUA "pork barrell".

As questões realmente estratégicas são mais encontradas nos textos da Stratford e da Gazeta Russa, naturalmente em campos opostos. Muito das posições brasileiras se encontram em trabalhos acadêmicos sobretudo do Itamaraty e de alguns grupos - a favor e contra!- de estudiosos nas  pós-graduações. Os estudos universitários são técnicos e chatos mas fundamentados. Os discursos políticos usam dados escolhidos aqui e a
acolá para defender interesses diversos mas terão mais efeito na realidade do que a pesquisa.
E a gente vai pondo estas coisas na bateia e mexendo e remexendo, deixando passar o tempo, na esperança de achar algum ouro..

Alguma futurologia abaixo do Equador. Um destes gurus da informática disse que a melhor maneira de prever o futuro é construí-lo. Se os planos derem certo e os prazos forem atingidos então o futuro se fará presente, realidade. Um pouco de futurologia pode sustentar o ânimo enquanto, agarrados aos destroços de um barco naufragado, tentamos a travessia da vida.
Há muitos indicadores positivos no Brasil e no planeta e que andam sendo ignorados na mídia, sobretudo naquela destinada a anestesiar e iludir as massas facilitando a exploração. Informações alternativas estão disponíveis aos notívagos e usuários de canais de TV traço, isto é, aqueles cuja cotação de audiência é menor que um e portanto aparecem com este símbolo. . Também estão na internet mas é preciso certa habilidade para desconfiar que existem e para obtê-las. Um exemplo: a TV Justiça colocou ao vivo o julgamento do caso da descriminalização do aborto de fetos com anencefalia. A maioria da população recebeu versões editadas daquele programa que, subliminarmente, induziam a interpretações diferentes das expostas pelos juízes. O Novo Telecurso, muito bom, passa às cinco e meia da manhã e os horários nobres exibem as telenovelas. Os noticiários mais densos foram deslocados para depois da meia noite ou antes das seis horas da manhã. Aqueles noticiosos com esportes, celebridades, paisagens do país, crimes e acidentes são a marmita servida ao meio dia e no horário nobre publicitário.

Demografia. Há vinte ou trinta anos a pilula e o maior nível de instrução das mulheres reduziu a natalidade. Avanços na economia e nas ciências (não adiantaria ter conhecimentos e não ter recursos financeiros para financiá-los) est]ao aumentando a expectativa de vida. Criou-se no Brasil o bônus demográfico, aquele em que a forma da pirâmide populacional passa a se assemelhar a uma gota. Poucas crianças, poucos idosos e muita população em idade ativa. Ou, dito de outro modo, muitos produzindo e poucos consumindo gerando excedentes de renda. Em dez anos haverá o modelo pote, ou seja, jovens adultos de hoje estarão entrando na terceira idade com suas aposentadorias, não haverá crianças transformadas em adultos em número suficiente para pagar a s pensões. Poucos jovens significará menor número de crianças e, em consequência, daqui a vinte anos a população total começará a diminuir. Estima-se que em 2050 a Rússia terá metade da população atual. O bônus populacional traz prosperidade mas seria importante acumular recursos para ter como sobreviver às vacas magras.

Agropecuária. Potencializada pelas pesquisas da EMBRAPA, com mercado consumidor do exterior exigindo padrões elevados de qualidade e bons preços, o setor vem batendo recordes a cada ano.Há ainda condições para incrementos “clássicos” de produtividade; Seleção genética, trangênicos, melhoria da logística diminuindo os absurdos de quebra entre o produtor e a mesa do consumidor. Mas há provável adoção de práticas sustentáveis. Há desenvolvimento da aquacultura, novas culturas de grãos, frutas, legumes, fibras, etc...Controles de pragas, aplicação de tecnologias hoje ainda de ponta usadas para a espécie humana estendendo-as aos animais parecem indicar uma aceleração de crescimento no campo e, inclusive, autoabastecimento nas cidades. Alimentos eternos, isto é, com validade indeterminada permitirão sobreviver às secas e outras quebras de safra. Quanto aos prazos...

Indústria. O setor industrial no Brasil, no passado, foi sendo constituído com o descarte relativo de máquinas tornadas obsoletas nos países desenvolvidos. Com a saturação dos mercados naqueles países muita coisa está sendo repassada ao Brasil que tem mercado consumidor ainda ávido daqueles produtos. Todas as marcas de automóvel do planeta estão abrindo fábricas no país e tentando obter uma fatia de mercado. Já amortizaram completamente os investimentos no país de origem mas não conseguem vender mais porque todos já possuem modelos de última geração. No Brasil cada nova venda é lucro líquido por que os custos de desenvolvimento já foram pagos na origem. A cidade de S. Paulo já tem mais lojas de luxo que nos países que as criaram. Há mais helicópteros em S.Paulo do que na maioria das capitais européias. Estão sendo introduzidos no país o trem bala, o grid inteligente de energia elétrica, a energia fotovoltaica, a eólica. Em todos os setores há efervercência de lançamentos. Em síntese, a indústria entra em uma novo patamar ou fase de produtividade. O grande trunfo é ter mercado consumidor. Será um vôo de galinha? Sem pesquisa que alimente uma inovação contínua para além do que for conquistado o risco existe. Pode haver fôlego para mais uma década ou estourar uma bolha em um ou dois anos. Um refluxo em relação à China já começou nos EUA. Produzir na América do Norte já se torna competitivo porque o dólar se enfraqueceu, a cadeia logística de transporte encarece o produto e compromete prazos de entrega.Ainda não se tornou um padrão ou regra mas a época de ouro da terceirização de produção já perde o antigo esplendor. 

O Brasil tem “descoberto” fatores ocultos. O Pré-Sal, reservas de gás no vale do Jequitinhonha similares às da Sibéria, reservas de minerais de terras raras. Estes são necessários para os produtos de alta tecnologia e hoje só tem exploração, em torno de noventa por cento, na China. Por outro lado as tecnologias de exploração e beneficiamento ainda precisam ser dominadas por brasileiros.
O grande obstáculo a todo este progresso é a baixa qualificação da mão de obra e escassez de formação de quadros superiores em universidades a despeito dos progressos reais já feitos. 

Serviços. Neste particular estão sendo feitos enormes progressos na direção de modernizá-los. Os ganhos de produtividade com uso da convergência digital reduzindo custos, prazos, aumentando a confiabilidade, automatizando, etc... tem sido enorme. Serviços financeiros e bancários estão se modernizando a cada semana. Turismo está removendo atrasos de décadas. Serviços de saúde tem apresentado resultados de ponta como nos centros mais avançados. Há renovação na habitação, segurança, educação, entretenimento. Atenção para uma certa cacofonia nestas afirmações pois, se há avanços, convive-se com situações de extrema deficiência ou carência lado a lado com os casos de sucesso. Nos serviços é quase impossível a transferência direta de tecnologia do exterior para o país. Há que qualificar os prestadores de serviço pelo menos até um nível em que possam executar os novos processos. Um antigo peão de gado pode, com treino aligeirado, fazer uma inseminação artificial para melhorar geneticamente o plantel. Mas alguém terá que ter feito o processo científico e tecnológico que precede o procedimento final relativamente simples feito com instrumentos adequados com base em diagnósticos e metodologias avançadas. As exigências internacionais de padrões sanitários para que importem carne obrigam a cuidar do gado de forma certificada por agências com credibilidade internacional. Esta pressão internacional impede que ao lado de um rebanho vacinado contra aftosa haja um produtor tradicional sem certificação e sem controle.

Sintetizando, no setor serviços, há pressões definidas pelo aumento acelerado da produtividade e isto está ocorrendo. Há casos em que podem, por algum tempo, conviver lado a lado, padrões diferentes em que alguns atendem a exigências internacionais e outros são destinados à população local ou classes de menor poder econômico. Esta dupla estratégia é cada vez menos praticável porque o risco de que uma prática contamine a outra traria prejuízos enormes. A falha em conseguir atingir os padrões de qualidade exigidos no mercado globalizado terá consequências desastrosas. Os eventos de grande porte previstos para os próximos anos serão uma oportunidade de dar um salto adiante ou, na eventualidade de grandes fracassos, de instaurar crise de dimensões sem precedentes na história do país. Criminalidade e banditismo organizados e globalizados podem ter nestes eventos uma chance de transformar o país em uma nova Colômbia como está sendo o caso do México.
Tentando criar um certo fecho para estas reflexões é relevante constatar que há uma encruzilhada de tomada de decisões e possibilidades de ações afirmativas e positivas. Há, embora muita vez encoberta ou abafada pela glorificação de pseudo-sucessos, uma enorme capacidade de trabalho, de criação, de obtenção de resultados e de realizações dentro do país. As forças vivas e positivas são, mais uma vez, chamadas ao sacrifício e à ação e a continuar a carregar o piano.

Um rei nú. O programa Brasil Carinhoso, PAC-2, apesar da apresentaçâo glamurosa e atraente é um projeto com muitos problemas de concepção e implementação.
O “Brasil Carinhoso” seria desnecessário se o fome zero houvesse sido bem sucedido. Mas como admitir dificuldades e corrigí-las macularia a propaganda de sucesso e demandaria esforços, investimento e trabalho consequente, é mais conveniente inventar uma nova ação.
O nome do programa também tem um apelo emocional e evita traduzir meta como Fome Zero que pretende complementar sem substituir. Em princípio traz uma regra de saída porque se refere a crianças de zero a seis anos. A consequência implícita seria que as famílias sairiam do programa quando seus filhos atingissem esta idade., m Mas estendendo o raciocínio um pouco mais teremos a consequência implícita na regra: quando a criança atingir aos seis anos, ou antes disto, as mães engravidarão novamente para não perder o benefício.

Pode parecer que isto não ocorreria uma vez que as famílias felizes recebendo o bolsa família não teriam porque continuar no limiar da miserabilidade. Na prática isto é que irá acontecer.
Uma segunda questão incomoda em uma análise que leve as metas do projeto a mais algumas consequências práticas. A meta da criação de milhares de creches é excelente, mas, oculta uma outra realidade, ou seja, a inexistência delas mesmo depois de oito anos de governo na administração anterior em que a economia batia recordes de crescimento e o poder público federal tinha superavit primário. Ou, dito de outro modo, faltou investimento nisto. Melhor que isto seja corrigido, antes tarde do que nunca. Então, com creches as mães poderão ingressar no mercado de trabalho. Este item, da consequência lógica anterior também, implicitamente, é indicador de alguma questão mal explicada. Se a economia está aquecida, falta mão de obra, há salários altos e transferências de renda que alimentam o consumo, porque estas mulheres devem deixar os filhos nas creches e ingressarem no mercado de trabalho para complementar renda? Estavam fora do mercado porque careciam de vagas de emprego ou faltavam-lhes qualificações para o trabalho? Como na loteria esportiva é melhor marcar um triplo nesta questão. Faltavam vagas, agora há carência de mão de obra. Há vagas mas os candidatos carecem das qualificações necessárias. Na questão de rendimentos, com a expansão dos crediários, comprometeu-se a renda adquirida, cresceu a inadimplência, é preciso mais renda. 

Promover o ingresso desta outra camada no mercado de consumo através de transferências de renda certamente promoverá mais consumo e, com ele, indução de mais oferta. Esta oferta, em uma lógica básica, deveria induzir mais produção e mais emprego. Esta maior ocupação levaria a mais renda e se criaria um círculo virtuoso. Mas, na prática, ao se atingir o pleno emprego dos recursos produtivos, há que se mudar de patamar de capacidade instalada. Para isto teria que ter havido, previamente, investimento em ampliação da capacidade produtiva. Seria injusto dizer que não houve esforços neste sentido nos oito anos anteriores. Grandes obras de infraestrutura foram iniciadas, atrairam-se novas indústrias e investimento externo, há enormes projetos em perspectiva como o Pré-Sal e o reequipamento da marinha mercante e construção naval, a retomada da indústria de defesa, etc.. etc.. Mas... as contas, novamente, faltam fechar. 

Um exame do calendário das realizações e da implementação das ações parece indicar uso daquele famoso kit de primeiros socorros obrigatório nos carros para resolver as mortes por acidentes nas estradas. A cada agravamento de situação há o lançamento bombástico de mais um projeto que camufla fatos de que os rumos e metas dos projetos anteriores andam muito longe de se tornarem realidade. A lista seria longa, vamos assinalar alguma coisa para exemplo. Aumento de consumo sem correspondente acréscimo de oferta terá por consequência inflação, desabastecimento e aumento de importações. Novamente há que se marcar um triplo.
Com os altíssimos juros pagos no mercado brasileiro e o aumento do consumo interno, muito investimento direto estrangeiro,que a presidente chamou de tsunami de dólares, entrou no Brasil e trouxe como consequências a valorização excessiva do Real. Esta valorização tornou os produtos brasileiros, sobretudo os manufaturados, pouco competitivos para exportação. O consumidor brasileiro continuou pagando produtos caros, juros altos e... importando em quantidades crescentes bens e serviços. A indústria começou a sofrer setorialmente com a concorrência dos importados e reagiu inicialmente importando insumos. O governo começou a exigir que as indústrias estrangeiras se estabelecessem no país e tivessem alto conteúdo nacional. Medida esta última, em princípio correta, mas que chegou tarde para salvar as empresas brasileiras. A cada dia se descobre que empresas tradicionais, na surdina, tornaram-se simples subsidiárias de estrangeiras. As cadeias de supermercados, por exemplo, ainda que haja algumas marcas tradicionais tornaram-se subsidiárias. As empresas de aviação também e setor atrás de setor o padrão se repete.

Por mais que os indicadores teimem em mostrar sucesso no combate à inflação, inclusive com recursos como renúncia fiscal, manutenção do preço de combustíveis, na ponta o consumidor tem que acomodar aumentos. A prestação de serviços tem tido aumentos nominais relativamente pequenos mas reais bastante significativos. Não se reflete bem nos índices que as diaristas estão cobrando muito mais. O que ocorre é que muitas famílias estão sendo obrigadas a cancelar este serviço. Os bancos diminuíram a taxa de juros mas passaram a cobrar outras taxas e seu faturamento total continuou o mesmo.
Outro ponto nesta equação é o desabastecimento relativo. As prateleiras dos supermercados continuam ainda cheias mas determinadas marcas ou produtos desapareceram ou se encontram com preços triplicados. O consumidor pode escamotear a inflação mudando para novas marcas ou alternativas que surgem. Algumas destas alternativas são importadas, como no caso das cervejas. Há marcas tradicionais que caíram sob o controle estrangeiro, por exemplo, a cervejaria Kaiser passou a ser Heineken. Ela já era da Coca Cola mas pode ser citada como exemplo de empresa e marca tradicional que tornou-se subsidiária estrangeira.
O tradicional feijão preto, isto é, uma atividade em que o país vem batendo recordes sucessivos de produção e produtividade, já tem mais de sessenta por cento do abastecimento interno com importado chinês!!!! Na agropecuária ainda somos bem sucedidos exportadores mas na agricultura já há dificuldades em várias áreas com concorrência estrangeira, por exemplo, no etanol.
Megaprogramas como criação de escolas técnicas, teoricamente bons, na prática, houve uma colocação de carros adiante dos bois. Construíram-se escolas, matricularam-se alunos, mas não houve preparação prévia de professores e nem contratação. Como consequência, alunos sem aulas por falta de professores. Na ferrovia Norte-Sul foram colocados trilhos mas sem consolidar os cortes nos morros e sem pátios de manobra. Não há como carregar e descarregar os vagões e é preciso fazer estas obras e, em regime de urgência, fazer as contenções para evitar que tudo seja destruído na próxima temporada de chuvas e, enquanto isto, os trens não podem trafegar.

A percepção dos riscos da economia brasileira pelos especuladores internacionais coloca o país como quarto na linha de ser atingido pela crise, o PIB está em tendência para zero.
As medidas que impunham sacrifícios necessários como a redução dos juros que carregava a impopularidade de alterar as regras da remuneração da poupança foram sendo adiadas. E muitas outras coisas que o governo atual tem atacado com aparente coragem, isto é, tentando evitar o pior, tornaram-se emergência por terem sido postergadas com fins eleitoreiros.
Muitas medidas populares geraram efeitos colaterais praticamente contrários ao seu objetivo. Por exemplo, o vale transporte. Alivia o custo para o trabalhador mas tornou-se uma espécie de mensalão das empresas de ônibus. Por mais que ele circule comprando cachaça, cigarro ou seja lá o que, no final, cairá no caixa delas. O crédito consignado assegura que os bancos recebem com toda certeza, antes de qualquer outra despesa que o devedor possa fazer. É ruim conceder crédito? É ruim dar vale transporte, vale alimentação, seguro desemprego... Nenhum desses programas são ruins em si mesmo mas a sua administração prática estão produzindo distorções enormes.
O hiperfaturamento de obras e projetos com práticas de caixa dois para política e desvio para corrupção, lavagem de dinheiro, contravenções de diversas espécies como fachada para crimes está em uma escala enorme. Tendo sido iniciada a rampa descendente em direção à informalidade os participantes passaram à contravenção. Dela enredaram-se na criminalidade com uso de laranjas e terceiros. Os fundos ocultos ou são reciclados com negócios formais aparentemente legais ou procuram paraísos fiscais. Quando os casos se tornam públicos e as provas se acumulam e o risco de serem julgados e punidos pela justiça os seus perpetradores vão se apoiar e inspirar nos grandes mestres do crime organizado como, por exemplo, a máfia. Não recuam diante da intimidação da população, da corrupção policial e até do assassinato de agentes da lei seja policiais ou juízes.
Além da associação com regimes políticos párias internacionais a situação da cleptocracia no Brasil está escancaradamente se apresentando publicamente com ícones de mau-caratismo com abraços e encontros públicos com aqueles que sempre combateram publicamente.
Em resumo: o rei está nu. O que fazer? Mandar embora os impostores que iludem o rei e criar novos programas baseados em pesquisa de diagnóstico das necessidades, proposição politicamente corajosa das medidas necessárias, trabalho, estudo, controle, administração e muitas outras coisas necessárias para que o potencial do país seja aproveitado para criar um melhor futuro.

(*) Heitor Garcia de Carvalho é professor-doutor do IFES/MG, Belo Horizonte



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